A ingratidão dos inquilinos da Av. João Crisóstomo – Ministério da Saúde – com os Enfermeiros, é enorme!

Após algum trabalho de insistência e o início de um “fervilhar”, por parte dos Sindicatos dos Enfermeiros, começaram a chegar às suas sedes cartas vindas do Ministério da Saúde, agendando reuniões com estes, a fim de serem retomadas as negociações. Na 4ª. feira foram retomadas as negociações. Mas a expectativa não era grande. O que se veio a confirmar!

Estas negociações têm sido infindáveis. Se é certo que do lado dos Enfermeiros, são muitos Sindicatos da Classe, que não facilita a representação, do lado do Ministério da Saúde, a agenda e a ordem de trabalhos é sempre limitada e exígua, o que implica e tem por consequências, muita conversa e muito tempo perdido, muitas reuniões e muito pouca evolução com acordos fechados. Presume-se até, que muitas destas negociações, decorrem de acordos mau negociados, mau fechados e de posições de força e unilaterais assumidas por parte dos vários representantes do Ministério e do Governo, como é o momento actual.

Na actual negociação, entre outros assuntos, está em causa contagem de pontos para progressão e, nomeadamente de intervalos temporais de retroactividade (a 2018, enquanto o Ministério impõe a 2022, questões técnicas que aqui seriam longas a explicar). Lamenta-se este posicionamento. E não se percebem as dificuldades que são criadas, sempre, aos Enfermeiros e que penalizam vários milhares! Porque, efectivamente, os Enfermeiros trabalharam também, neste período! Parece-nos que, para além de uma questão legal, é uma obrigação moral, este reconhecimento.

Parece até que este mesmo Governo já se esqueceu que durante vários anos da “Pandemia Covid-19 e vacinação”, entre outros Profissionais de Saúde, os Enfermeiros não viraram costas à luta, asseguraram sempre, com risco e sacrifício das próprias vidas e Famílias, com espírito de missão, o funcionamento dos serviços, quer nos Hospitais, quer nos Centros de Saúde, visitações e tratamentos domiciliários e cuidados continuados. Foi alcançada uma elevadíssima taxa de vacinação/cobertura contra a COVID-19, sem mácula e total entrega e espírito de missão, afirmado várias vezes pelo Vice-Almirante Gouveia e Melo. Hoje continua-se no terreno, com as mesmas dificuldades e falta de Enfermeiros, na vacinação sazonal da Gripe, mais, o reforço contra a COVID-19. Os Enfermeiros, quando se trata de cuidar dos Cidadãos, dizem sempre presente e nunca deixam “ninguém sozinho”, muitas vezes, até para lhes fecharem os olhos, quando todos os outros já se foram embora! Mas… apesar de tudo… continuamos a assistir a uma carreira mal estruturada, de difícil progressão, com remunerações baixas e com uma sangria/fuga para o estrangeiro, de inúmeros Enfermeiros, que hoje, já fazem falta a Portugal.

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Mesmo assim, depois deste período de dádiva dos Enfermeiros, de todos os contributos e parcerias leais, são permanentemente “construídas” dificuldades e encontrados expedientes de minudências para se colocarem barreiras, por forma, a esgotar a paciência, tempo e energia, arrastando e dificultando as negociações, ano após ano, com claro prejuízo, sempre para os Enfermeiros. E os Sindicatos, refugiados em agendas e calendários próprios e, alguns submissos aos interesses das suas centrais sindicais, ainda não tiveram a inteligência, a sagacidade e a audácia de exigirem e se apresentarem todos numa única mesa negocial e não repartidos em várias mesas e reuniões, umas públicas, outras privadas e até secretas.

Agravando tudo isto, a maior parte das negociações são realizadas em períodos que, quando chegam a bom termo, são sempre consideradas para Orçamentos do Estado, dos anos seguintes. Apesar de todo o trabalho, que deve ser respeitado, já feito pelos Sindicatos, parece-me ser reuniões calendarizadas, de forma estratégica, para que, o agora acordado e negociado, não vá a tempo de ser considerado, eventualmente, no Orçamento de Estado/2023. Uma desonestidade!

Face à irredutibilidade/imposição do Governo, porque do actual Ministro da Saúde já sabemos o que esperar e do Primeiro-Ministro, também, os Sindicatos vão-se ficar? O que falta aos Enfermeiros, neste “caldo” em que vivemos, para demonstrar a nossa força e união Sindical, também já afirmada em manifestação à frente da Assembleia da República? Os Enfermeiros vão continuar a tolerar horas extraordinárias para além do legal (150 horas) e horários, muitas vezes ilegais, também? Estarão os Enfermeiros Portugueses dispostos a perder a sua identidade, capacidade de mobilização e luta, de reivindicação e de afirmação? Espero que não.

O momento é de preparação estratégica para a luta imediata, se nada de novo, sério e garantido, fôr conseguido! Até porque há muitas outras questões por resolver: Profissão de desgaste rápido; Idade da reforma.

Notas soltas:

  • Este Ministério da Saúde, que não trata todos por igual e dificulta sempre a vida dos Enfermeiros, é o mesmo que possibilita que serviço/os de Hospital, utilize resguardos para cães, nos doentes internados;
  • Quando a inflação atinge 10,2% e os produtos essenciais sobem exponencialmente, continua o Governo, através das televisões coniventes, afirmar que há crescimento económico! Efectivamente há crescimento, mas é da inflação e das dificuldades dos Cidadãos!
  • Apesar da austeridade, que é para todos, os políticos já pedem a reposição dos 5% do vencimento, suspensos na “Pandemia”. E aos Enfermeiros quer o Governo escamotear contagem de anos de trabalho, na contagem de pontos para progredirem! Enfim…