Sentiram, entre sexta-feira e sábado passado? Aquelas 24 horas em que nos intrometemos entre a Suíça e a Noruega no ranking de PIB per capita? Foi só um dia, mas foi muito intenso. A passagem do Elon Musk por Portugal deve ter, no mínimo, quadruplicado, ainda que por brevíssimos instantes, o valor da riqueza existente em território nacional.

Foi curta e misteriosa, a visita. Mistério que a imprensa não pareceu nada interessada em deslindar. Talvez porque todos os jornalistas de investigação – menos Sandra Felgueiras, que estaria de férias – andassem a averiguar a razão que levou Cristina Ferreira a abandonar a Festa de Verão da TVI logo após ser fotografada na passadeira vermelha. Já agora, as melhoras do herpes, Cristina.

Quanto a Elon Musk, está visto que serei eu a esclarecer os portugueses. Vamos a isso. O dono da Space X veio a Portugal no âmbito do programa espacial que culminará com a chegada a Marte. Não, ele não veio visitar nenhuma empresa tecnológica envolvida no maior projecto de exploração espacial dos últimos 50 anos. Não, o Elon Musk passou por cá mas foi para tirar notas, úteis para a colonização da Marte, sobre como é possível os seres humanos sobreviverem em condições tão adversas. São aquelas bactérias que vivem na água respirando só enxofre, e nós, que vivemos em Portugal sufocados por impostos.

Aliás, a fugacidade da visita de Musk prendeu-se com isto mesmo. Ele estava com pressa porque se dá tempo ao fisco de começar a aplicar-lhe algumas das 4.300 taxas que temos por cá (não, não inventei o número), tinha chegado de avião privado e partido para os Estados Unidos a nado, privado do avião.

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Assim, o Musk voltou para a sua terra com a respectiva fortuna e nós ficámos a matutar na respectiva fortuna. Quer dizer, foi-se além do matute. Da minha parte, confesso, houve até um fantasie. Porque é fácil sonhar com uma fortuna como a do Elon Musk. Basta imaginar que se ganhou o jackpot do Euromilhões. Mil vezes. Pode acontecer. E, em princípio, será logo após Cristo voltar à terra. Sendo que este é o tipo de verba que permite regressar aos céus na companhia do próprio Jesus. Em executiva.

Convenhamos, trata-se de muito gravetinho. Mesmo Vítor Escária, que é Vítor Escária (para os que pensassem que Vítor Escária não é Vítor Escária), precisaria de ter chefiado o gabinete do primeiro-ministro António Costa durante mais três ou quatro mandatos para acumular o tipo de verba detida por Elon Musk dentro dos livros no seu escritório. E talvez fosse forçado a adquirir o Guerra e Paz para arrumação extra.

Mas fez bem em vir a Portugal, o Elon Musk. Pelo menos se a alternativa fosse ir a França. Que, neste momento, é de evitar, uma vez que a extrema-esquerda, que havia prometido caos e destruição em caso de vitória da extrema-direita, provocou caos e destruição logo que foi confirmada a derrota da extrema-direita. Eh pá, porque uma pessoa tem um trabalhão a fazer os cocktails molotov, perde imenso tempo a escrever as faixas pós-Hamas, investe horas para a máscara fazer pendant com a vestimenta arco-íris, e depois não vai deitar tanto trabalho para o lixo. Vai, antes, dar-se ao trabalho de deitar todo o lixo que conseguir pelas ruas de Paris, como é óbvio.

Na prática, o que resultou das eleições em França foi que os franceses ficarão, estou certo, muito melhor, pois trocaram a dúvida quanto à capacidade que teria um hipotético governo de extrema-direita, pela certeza quanto ao desastre que será um governo com a extrema-esquerda. E é sempre óptimo uma pessoa saber com o que conta.

Entretanto, outros, com vontade de arreliar, claro, dizem que a França está perdida graças ao chamado “islamo-esquerdismo”, ou seja, à confluência de interesses entre chalupas comunistas variados e chalupas fundamentalistas islâmicos sortidos. Mas, na verdade, não se trata de um fenómeno novo. Já o Voltaire dizia: “Les chalupes esprits se rencontrent.”

O que podia ser feito de novo era, isso sim, o lema da França. Era recauchutar a coisa, por forma a transmitir, de forma mais rigorosa, aquilo em que se transformou a nação que nos permitiu dar a conhecer ao mundo o bidonville. Fica a minha sugestão: “Leniné, Imigré, Fracassé”.