A saga da famiglia mais influente de Castelo Branco tem um novo capítulo. Desta feita, Hortense Martins – deputada do PS a quem foi perdoada a falsificação de um documento relativo à sua empresa hoteleira que recebeu indevidamente fundos europeus – e seu marido Luís Correia – ex-autarca socialista que perdeu mandato depois de condenado por favorecer familiares com contratos camarários – estão implicados num cambalacho que envolve uma associação de produtores de figo-da-Índia que recebeu meio milhão de euros e, tirando alugar um armazém a um tio de Hortense Martins, nada fez. Uma associação que, como diz a notícia, quase não saiu do papel, mas de onde só saiu papel.
Trata-se, mais uma vez, de um episódio em que membros da elite albicastrense identificam uma ocasião de ganhar uns trocos e chamam-lhe um figo. Neste caso, da Índia. Têm olho para a negociata. A fileira do figo-da-Índia merece ser explorada. Nem que seja pela piada de escrever “fileira do figo-da-Índia”. Não sei que propósito comercial têm esses frutos. Suponho que possam, por exemplo, ser usados para fabricarem gelados, daqueles que se comem com a testa.
Costuma dizer-se que, em chinês, “crise” escreve-se da mesma forma que “oportunidade”. É um adágio que fica muito bem em power points ou perfis de Instagram. Infelizmente, é falso. Os caracteres chineses para “crise” não são os mesmos que para “oportunidade”. Os caracteres para “costumeira aldrabice socialista” é que são os mesmos para “oportunidade”.
E, de facto, numa altura em que o país recupera da crise causada pela pandemia, a propensão do casal Martins Correia para a falcatrua é uma oportunidade que Portugal não pode perder. Segundo consta, parte substancial dos milhões do PRR vão ser gastos em formação de adultos. Sabendo que, mais cedo ou mais tarde, Hortense Martins e o marido vão arranjar forma de deitar a mão a esses subsídios, podíamos exigir que, em troca, usassem a sua vasta experiência na área para dar formação. Assim, receberiam fundos europeus para dar formação sobre como melhor sacar fundos europeus. Um trompe-l’oeil de trapaça. Uma matriosca de marosca.
É uma pena perder o capital de experiência acumulado. De que serve termos uma bazuca, se não a sabemos usar? Hortense Martins e Luís Correia são os melhores instrutores de tiro que o dinheiro europeu consegue comprar. Num ápice organizariam um curso com 200 horas de formação teórica, divididas entre os módulos Introdução ao Preenchimento de Candidaturas Sob Falsos Pretextos; Contratos com Empresas de Familiares I e II; Teoria Geral dos Subsídios a Fundo Perdido; Matemática Aplicada a Ajudas de Custo; Semiótica da Burla ao Estado. No fim, um módulo prático em que aplicam as competências adquiridas, consistindo num trabalho de grupo em que os formandos devem criar uma organização (pode ser uma associação, uma ONG, uma fundação ou qualquer outro sinónimo de “quadrilha”) dedicada a um objecto social absurdo (criação de coalas anões em Mogadouro, por exemplo) e que consiga ser integralmente financiada com dinheiros públicos. Eu inscrevia-me nesse curso. Mas, conhecendo os formadores, o mais provável é que recebessem o dinheiro, mas nunca pusessem os pés na sala de aula.
Hortense Martins e Luís Correia estão na vanguarda da mudança do paradigma económico do país. De uma economia apoiada no sector terciário, dos serviços, Portugal está a passar para uma economia virada para o sector quartiário, dos auto-serviços. Esta família de Castelo Branco serve-se como poucas.
Há alimentos que, só de pensar neles, fico enjoado. O figo-da-Índia é o único em que isso acontece apesar de nunca o ter provado. Quem já experimentou diz que tem um sabor peculiar, entre o da pêra e o do melão, embora esta espécie de Castelo Branco deixe na boca um travo diferente. Parece que aos envolvidos nesta associação lhes sabe a pato. Entretanto, descobri que a figueira da Índia é um cacto. O que faz do figo-da-Índia o segundo vegetal espinhoso a lesar os cidadãos de Castelo Branco. O primeiro, como é óbvio, é a rosa do PS.