A começar, um cheirinho de Estatística: Portugal foi o país com maior excesso de mortes na primeira semana de 2024, entre os 25 que constituem a rede europeia EuroMOMO, que calcula semanalmente os números da mortalidade dos países membros. E a Diretora-geral da Saúde admitiu que este excesso de mortalidade vai continuar. E eu também já me senti melhor.

Seja como for, resta-me uma dúvida e uma certeza. A dúvida: será esta mortalidade em excesso mais culpa do estado de coma do Serviço Nacional de Saúde, ou do estado de coma das finanças dos portugueses que não permite a compra de medicamentos e o aquecimento das casas? Difícil. Aposto num mix das duas. Num pijaminha de desgraças, digamos.

A certeza, essa, é absoluta. O boletim de voto para as eleições de Março devia já trazer, ao lado da imagem do Partido Socialista, o aviso: “Votar no PS provoca danos irreversíveis na saúde”. Ou, em alternativa: “Os socialistas matam a economia prematuramente.” Ou talvez: “O seu irmão emigrado na Irlanda, ou a sua prima a viver na Suíça, podem ajudá-lo a deixar de acreditar em balelas socialistas.”

Se bem que uma coisa é verdade. Há pelo menos um problema que o socialismo resolve sempre. Sempre. E se comecei pela Estatística, agora invoco a Matemática. É que o “X” que se coloca no boletim de voto para votar PS nunca representa uma incógnita. Sabemos sempre o que vale aquele “X”. Aquele “X” é igual a resma de impostos, regabofe de corrupção, e recorrente bancarrota. É a Santíssima Trindade socialista. A Socialíssima Trindade.

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O que fez cair o Carmo e a outra – infelizmente – Trindade foram as propostas que o Chega fez na convenção. Segundo os demais partidos, as propostas do Chega denotam que na agremiação de André Ventura ninguém percebe nada de contas. Não admira. Surpreendente seria se algum partido português hospedasse génios capazes das mais elementares operações matemáticas. Daí que, à esquerda, a única coisa que saibam fazer seja subtrair dinheiro em impostos e multiplicar casos de corrupção. E que, à direita, PSD e IL prefiram fazer de conta que é melhor o PS continuar a governar do que entenderem-se com o Chega e ensinarem-no a fazer contas de somar.

Confesso que me surpreendeu, a quantidade de gente estupefacta, escandalizada, enojada, até, com a ausência de economistas na convenção do Chega. É que, muitas dessas pessoas, que assinalaram a absoluta necessidade de um partido que se propõe governar ter, nos seus quadros, economistas, são as mesmas que consideram nojento o programa de governo do economista – diz que até algo reputado – presidente da Argentina, Javier Milei. Trata-se, claramente, de discriminação – quiçá racismo! – face a certos e determinados economistas. Onde anda Mamadou Ba quando é mais necessário? Era retórica, a pergunta. Não faço questão de saber.

O PSD foi ainda mais longe nas críticas, ao garantir que a convenção do Chega foi um “entreposto de banha da cobra”. Se o PSD o diz, é possível que tenha sido, é. Não esqueçamos os quatro anos em que o partido, sob a liderança de Rui Rio, mais não foi do que um entreposto para levar banhadas de António Costa. Dá ideia de perceberem do assunto, realmente.

Por outro lado, com esta crítica violenta, os sociais-democratas deram a entender que o Chega baixou o nível da política portuguesa. Quando, na verdade, é quase o oposto. Desde que há Chega, e de repente, todos passámos a fingir que os políticos que nos últimos 50 anos tornaram este país no éden que está à vista, são gente cheia de qualidade.