Sim, é uma festa com motivos bonitos. Sim, é uma ocasião de reunião da família. E, sim, como já mencionei em outros textos é uma ocasião de muito cansaço, de excesso de consumo, de excesso de comida. Mas, independentemente de sermos o tipo de pessoa que gosta muito do Natal ou sermos do tipo que só deseja que isso acabe logo, precisamos falar um pouco sobre o custo emocional que o Natal traz a muitas pessoas.

Na verdade, não só o Natal, mas quase todas as datas comemorativas. Não é preciso irmos longe: todos nós acabamos por sofrer em alguma dessas datas. Quantos de nós não sofrem no dia das mães ou no dia dos pais? Seja por estarmos longe dos nossos filhos, dos nossos pais ou por já termos perdido aqueles que amamos? Quantos sofrem com a solidão em datas como a páscoa, o Natal ou o ano novo?

Não estou dizendo que tenhamos que deixar de comemorar ou que essas datas não sejam positivas. Escrevo esse texto porque frequentemente sentimos que todos estão felizes nessas datas e nós somos, em tese, os únicos que estão angustiados. Não é verdade. Reparo, cada vez mais, que há mais gente sofrendo do que gente com razões para comemorar. E, talvez sabendo disso, a dor de algumas pessoas seja amenizada.

Uma amiga me contava que mudou toda sua programação de Natal para poder estar com a sua avó. Na verdade, a avó tem 3 filhos e 4 netos que vivem na mesma cidade que ela. Mas ela ficaria sozinha na noite de Natal. Um filho mal fala com a mãe, outro só acompanha a programação da família da mulher e a outra está deprimida e quase não sai de casa. Os netos estão cada um na sua vida. Minha amiga é a única neta que mora fora e a única que se dispôs a estar com a avó na noite do dia 24.

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Em quantas famílias essas coisas se repetem? Pessoas que ficam sozinhas, que não sabem para onde ir, que se sentem constrangidas por ir a festas de pessoas que não são tão próximas? Quantas dificuldades há na gestão do Natal, partilhado entre a família de cada membro do casal, a casa da mãe e a casa da sogra, os pais que se dividem entre genros e noras, casais separados, crianças “divididas” e tantas outras complexidades? Mais uma vez, repito, não acho que isso deva impedir as comemorações, mas às vezes é bom saber que não somos os únicos confusos e angustiados.

Quantas pessoas se desdobram para poder comprar presentes, fazendo um esforço financeiro sem cabimento, quando na verdade essas datas deveriam servir apenas para celebrações de afeto e não de consumo? Quantos de nós nos angustiamos ao ver nossas crianças abrirem aquele exagero de pacotes, sem valorizar nada e, frequentemente, ofendendo as pessoas que se esforçaram para tentar agradá-las?

Sim, o Natal é uma data bonita. Mas a forma como instituímos essas comemorações acabaram por, em muitos casos, trazer boas doses de ansiedade e melancolia. Mudar esse cenário não é uma tarefa fácil. Mas, sim, podemos nos policiar em alguns pequenos comportamentos: instituir formas de presentear as pessoas que gerem menos gastos, abrir as portas das nossas casas a pessoas que imaginamos que possam estar sozinhas, reduzir a quantidade de presentes das crianças, explicando qual deve ser o verdadeiro sentimento do Natal.

Enfim. Como já escrevi, não acho que Jesus fique muito feliz com a maneira com a qual lidamos com esta data. Mas me parece que talvez ele fique contente se perceber que tiramos nossos olhos das pilhas de presentes e voltamos eles para as outras pessoas, com alguma empatia, tentando tornar a data um pouco melhor para aqueles que nos cercam.