Na semana passada, o Governo anunciou a centralização da comunicação. A partir de agora, há um Director de Comunicação que gere a informação que sai do Governo. Pelos vistos, o controle da informação por parte do Governo é uma espécie de casamento gay: há 20 anos não era permitido, agora a sociedade portuguesa já está preparada para aceitar. É que foi uma coisa que Santana Lopes quis fazer em 2004, mas Jorge Sampaio não permitiu. O que foi uma pena. Assistir às decisões de Santana já era giro, imaginem se viessem acompanhadas de explicações sobre elas. Enfim, é esperar que Marcelo Rebelo de Sousa não caia no mesmo erro e nos deixe assistir às performances da Central de Comunicação do Governo e do seu director, João Cepeda. Até há 15 dias, Cepeda era o responsável pelo Time Out Market, no Mercado da Ribeira. Daí fazer todo o sentido que esteja à frente da comunicação do Governo, que às vezes parece feita por peixeiras.

Na semana passada, João Galamba, Secretário de Estado da Energia, numa troca de impressões com o utilizador do twitter Applehead, usou termos como “vai para a puta que te pariu” e “vai para o caralho”. Percebe-se agora que aquilo na orelha de Galamba não é um estiloso brinco, mas sim uma útil etiqueta identificadora de gado. Este é o tipo de conversa que se tem na pocilga. Se calhar, o nome completo do Secretário de Estado é João Galambarrasco.

Segundo os especialistas do twitter, há atenuante pelo facto de a mensagem ter sido por DM. Ao contrário do que o leitor pode pensar, não significa “por doença mental”, é “por direct message” e quer dizer que foi em privado. Não é só na Educação que os sonsos do Governo optam pelo privado. Também é na má educação.

Mesmo assim, Galamba foi criticado. E bem. Não pelo tipo de linguagem usada – afinal, trata-se de Galamba, uma espécie de carroceiro com MBA – mas pela falta de consideração. Mandar para o caralho e também para a puta que o pariu? Mas Galamba tem noção do preço a que está o gasóleo? É óbvio que não. O que é grave, se pensarmos que é Secretário de Estado da Energia e não tem noção das dificuldades que as famílias portuguesas enfrentam face aos custos crescentes dos combustíveis.

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Como se não bastasse a falta de cobertura da rede de transportes públicos, que não tem carreiras directas nem para o caralho, nem para a puta que o pariu (fui verificar), os poucos comboios que poderiam servir essas localidades estão parados devido às greves da CP. E, se calha tratar-se de um caralho fora do espaço Schengen, ainda há que penar horas no controlo de passaportes. Cá está: o novo director de comunicação do Governo teria ajudado Galamba a coordenar as suas indicações com o colega dos Transportes, poupando-o a estes embaraços.

O problema não é “caralho”, é “vai para”. “Caralho” é uma questão de falta de maneiras, “vai para” é uma demonstração do elitismo que nos governa e do afastamento entre políticos e povo. Galamba está a leste dos problemas das pessoas. É normal: com o seu motorista, é-lhe fácil deslocar-se para o caralho, para a puta que o pariu e, se lhe apetecer, para a merda, para o raio que o parta e para a cona da mãe dele, tudo sem tirar o rabinho do carro oficial. E ainda chega a casa a tempo do jantar.

Só essa falta de empatia explica que Galamba se tenha dado ao trabalho de especificar que o interlocutor deveria dirigir-se não apenas “à puta”, mas “à puta que o pariu”. É a diferença entre mandar alguém para Vila Franca (pode-se optar pela que dá mais jeito, eu escolheria Vila Franca de Xira, que é perto de Lisboa) ou mandar especificamente para Vila Franca de Lampaças, em Bragança. É a forma que Galamba tem de nos mandar comer brioches. Sem ser pela boca.

Não é a primeira vez que as mensagens de João Galamba são motivo de notícia. Há uns anos, Galamba foi apanhado a enviar SMS a José Sócrates, avisando-o de que estava a ser investigado. É curioso: agora manda pessoas para o caralho, daquela vez quis impedir uma pessoa de ir para o caralho. Ainda estamos para saber se conseguiu, ou se Sócrates sempre vai preso.