As mulheres na AR tomam parte e intervêm a favor de propostas fundamentais  para a defesa dos interesses da sociedade. Por exemplo, a possibilidade de  famílias de acolhimento serem candidatas à adopção. Ou a recomendação ao  Governo para acelerar processos de construção de novas residências  universitárias. E, no quadro da saúde, a defesa de médico de família para todos  os utentes com prioridade para crianças, grávidas e idosos.

No entanto, desde 2019 que assistimos a um decréscimo em números absolutos  da representação feminina na AR, tendo hoje menos 2 deputadas: 84 em 230.

Num momento em que a experiência profissional de quem nos governa é um  tema tão badalado e a necessidade de termos governantes competentes e  conhecedores das suas áreas é evidente, as mulheres trazem também consigo  essa vantagem. Enquanto muitos deputados homens se dedicaram  exclusivamente à vida política, grande parte das mulheres que integram a AR  foram professoras em escolas e universidades, dedicaram-se à saúde pública e  fizeram parte de quadros de instituições solidárias e museus.

Onde há mulheres, há educação, acção social e cultura. E há também ciência,  saúde e economia.

Fazem falta mulheres na AR porque um partido que elegeu 48 deputados, com  apenas 12 mulheres, teve membros que propuseram a remoção dos ovários a  mulheres que abortassem por opção e cujo líder parlamentar recomendou em  2020 que uma deputada de outra cor política fosse “devolvida ao país de origem”.

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Fazem falta mulheres na AR porque uma coligação que elegeu 77 deputados,  com apenas 22 mulheres, tem nas suas listas indivíduos que defendem a  limitação do acesso ao aborto e outros que falam “a brincar” sobre violência  doméstica em programas da manhã.

Ora o número de Interrupções Voluntárias da Gravidez por opção da mulher tem  vindo a decrescer desde a sua despenalização em 2007 o que evidencia que  não foi um promotor do mesmo, foi somente o que se pretendia: uma forma  segura e digna para os intervenientes em situações física e psicologicamente  sensíveis.

Mais ainda, foram participados 30279 crimes de violência doméstica em 2023.  Morreram 17 mulheres e 2 crianças.

O tradicionalismo gosta das mulheres recatadas e no lar, a fazer o jantar na  cozinha ocupando-se dos filhos que ninguém lhes perguntou se queriam ter.

Na cozinha, as mulheres são alvos fáceis. Falam menos, têm menos opiniões,  acatam melhor ordens.

Maria Alda Nogueira, com quem em pouco concordarei senão nisto, interveio da  seguinte forma na AR em 1987:

[…] os problemas das mulheres ultrapassam as fronteiras dos próprios partidos.  É que a nossa luta contra a discriminação política e social faz convergir em  pontos muito significativos mulheres de vários partidos e mulheres sem partido. 

Fazem falta mulheres na AR em todas as bancadas. Fazem falta mulheres que  falem de política. Que ocupem os silêncios na Assembleia com a defesa dos  direitos humanos, com soluções para a saúde, com propostas de melhoria para  a educação. Que silenciem a misoginia. Que falem com o espírito crítico afiado  e assertividade.

Para que as nossas jovens ouçam falar de política por outras mulheres e saibam  que a política é algo em que podem e devem participar activamente.

O nosso lugar é onde nós quisermos.

E o jantar? Eles que encomendem uma pizza!