O percurso de António Costa como PM mostra a sua habilidade política: chegou a São Bento aliado a partidos radicais e, sete anos depois, apresenta-se como a garantia da estabilidade contra os radicalismos, à direita e à esquerda. Mudou 360 graus sem os portugueses notarem ou, se notaram, continuam a votar nele apesar da grande transformação.

Mas há uma condição para o PS ser a garantia de que Portugal não é governado por radicais (e assim conquistar uma maioria absoluta acidental): anular o outro grande partido moderado, o PSD. Costa procura anular a outra alternativa moderada empurrando-a para a extrema direita. Mas esse nem sequer é o maior perigo para o PSD. A maior ameaça é o PSD anular-se a si próprio como alternativa ao PS. Foi o que fez Rui Rio – e por isso permitiu a maioria absoluta socialista. A maioria dos portugueses não distinguia o PSD de Rio do PS.

O principal desafio político para Montenegro é distinguir-se absolutamente do PS. Mas as diferenças terão que ser muito mais nítidas do que a distinção entre socialismo e social democracia, que é pequena e pouco clara. É nesse sentido que digo que o PSD tem que reaprender a ser o ‘PPD’. Não falo de mudar de nome, mas sim de recuperar a origem da história do PPD. O PPD apareceu e cresceu para ser uma alternativa popular ao socialismo.

A construção de uma alternativa ao socialismo deve concentrar-se em duas prioridades. A primeira é o enriquecimento do país e dos portugueses. Se o PS é o partido do empobrecimento, o PSD deve ser o partido do enriquecimento. A maioria dos portugueses deixou de acreditar na possibilidade de Portugal ser um país mais rico. É dramático, mas é a verdade. Montenegro terá, primeiro, que convencer os portugueses que enriquecer é possível. Depois, a sua equipa económica terá que saber explicar como Portugal pode enriquecer. Quais são as políticas fiscais mais correctas para criar riqueza, incluindo em relação às empresas? Quais são as melhores políticas laborais? Como devem ser usados os fundos europeus para criar riqueza que sirva o país e não para ajudar a sustentar um sistema de rendas? Quais são os estímulos certos para aumentar as exportações? Qual é o papel do investimento público na criação de riqueza? Como é que o sistema financeiro pode ajudar as empresas a crescer? Qual a melhor forma de capturar investimento externo? Haverá seguramente outras questões importantes. Mas o essencial será formar uma equipa competente que saiba defender as políticas económicas para o crescimento do país. O PSD não pode permitir que os portugueses desistam de criar riqueza. O PS já desistiu e limita-se a gerir o empobrecimento do modo menos doloroso possível.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A segunda prioridade são as duas políticas sociais fundamentais: a educação e a saúde. Mais uma vez, o PS é o partido que deixou a saúde e a educação entrarem em falência total. O PSD terá que reconstruir a educação e a saúde públicas. O apartheid social que se vive em Portugal, entre os que podem pagar educação privada aos seus filhos e seguros de saúde a si próprios e os que estão sujeitos às injustiças da educação e da saúde públicas, não pode continuar. É injusto, cruel e acentua as desigualdades.

Todos sabemos que os socialistas têm sempre desculpas e encontram culpados para os seus fracassos. Mas há uma altura em que precisamos de olhar para a realidade e para os resultados. Desde 1995, o PS governou 21 anos. Desde 1995, a educação e a saúde públicas pioraram. Quem são os responsáveis? Não é necessário pensar muito para encontrar a resposta. Mais uma vez, o PSD de Montenegro tem que construir equipas credíveis para desenvolver as políticas de educação e de saúde certas e de encontrar rostos credíveis para as explicarem aos portugueses. Esses rostos serão indispensáveis. Terá que haver no novo PSD uma ‘senhora educação’ e um ‘senhor saúde’, ou vice-versa.

Se o PSD construir uma alternativa real ao socialismo pode ser um partido de centro direita sem qualquer problema, sem medos, e sem recear que Costa o empurre para a direita radical. Toda a gente percebe a diferença entre um partido com uma alternativa de governo e um partido de protesto. E será igualmente um partido popular, no bom sentido da palavra. Um partido que lidera os portugueses no caminho do enriquecimento e que lhes dá uma educação e uma saúde melhores. O PS anestesiou a maioria dos portugueses, mas é preciso voltar a mostrar-lhes que podem ser mais ricos, e ter escolas e hospitais melhores. Os portugueses não podem estar condenados a viver pior. Compete ao PSD mostrar que não estão. O PS não é capaz, nem será.