Houve tempos em que as cimeiras soviético-americanas eram esperadas com enorme expectativa e de onde se esperavam resultados importantes para toda a humanidade, mas o mesmo não se poderá dizer da cimeira Trump-Putin, marcada para 16 de Julho em Helsínquia.
Por muito que o Kremlin tente fazer crer, a Rússia já não tem o mesmo peso que a União Soviética possuía em termos globais, deixou de ser uma superpotência para se transformar numa potência regional. Talvez Vladimir Putin tenha igual ou maior poder do que os secretários-gerais do Partido Comunista da URSS dentro do país, mas este factor não será decisivo no encontro bilateral com Donald Trump.
Por outro lado, também é verdade que Trump ainda não revelou qualidades políticas e diplomáticas inerentes à direcção do mais forte país do mundo, e talvez este seja um dos pontos que crie mais “suspense” em torno do encontro de Helsínquia. O dirigente norte-americano irá falar com Putin como conversa com Kim Jung-il ou com os líderes europeus?
A fazer fé nas declarações dos que preparam a cimeira, os temas polémicos irão ser muitos: presença militar russa na Ucrânia e na Síria, a crise em torno do Irão, a construção do gasoduto North Stream-2, sanções económicas bilaterais e ingerência russa nas eleições norte-americanas.
No que diz respeito à presença militar russa na Ucrânia, Moscovo já fez saber que não pretende discutir o estatuto da Crimeia, sublinhando que esse problema não existe. A península é território russo e ponto final.
Donald Trump parece estar disposto a negociar com Putin, pois para o Presidente norte-americano, o Direito Internacional vale tanto como para o dirigente russo: pouco ou nada. Porém, serão necessárias cedências da parte do Kremlin, nomeadamente no que respeita à situação na Síria. Washington parece disposto a “perdoar” a Bashar Assad, reconhecer o estatuto de Moscovo na região e até retirar parte das suas tropas se, em troca, Putin ajudar os norte-americanos a enfraquecer a influência do Irão e das forças apoiadas por Teerão no Médio Oriente.
Além disso, Washington espera que o Kremlin desbloqueie o avanço do processo de normalização da situação nas regiões separatistas do Leste da Europa.
E não é de menor importância para o desenvolvimento da economia russa o levantamento parcial das sanções económicas e financeiras norte-americanas. Elas não levam à queda do regime de Putin, mas criam sérias dificuldades. Além disso, se Trump enveredar por esse caminho, terá alguns seguidores no seio da União Europeia.
E por falar em União Europeia, esta que se cuide, pois desta cimeira poderá sair uma decisão de extrema importância para ela. Os Estados Unidos têm-se manifestado contra a construção do gasoduto North-Stream-2, que irá ligar directamente a Rússia à Alemanha, pois estão interessados em ganhar novos mercados para o seu gás. Alguns países da UE: Polónia, Estónia, Lituânia, Letónia e Dinamarca, bem como a Ucrânia, têm-se mostrado também contra essa obra, receando uma dependência demasiada em relação à Rússia no campo dos combustíveis.
Todavia, a decisão final poderá ser tomada durante a cimeira, deixando a União Europeia fora do processo de negociação.