Esta pandemia tem uma coisa boa: praticamente não mata crianças nem jovens! Ainda bem porque eles parecem precisar de uma vacina diferente e esta está atrasada. Em contrapartida, em países extremamente envelhecidos, pouco desenvolvidos, com governos fechados aos problemas inerentes ao envelhecimento da população, bem como à diminuição populacional causada pela abstenção reprodutiva, num país destes, morrem sobretudo os velhos. Para ser exacto, morrem as pessoas na casa dos 70 para cima e, sobretudo, as que têm 80 ou mais…
Percebe-se pois que há interesses em jogo. Por isso é que temos direito a conhecer os interesses do governo ao determinar, se bem percebi as suas confusas regras de vacinação, um determinado conjunto de doenças que confeririam prioridade às pessoas a partir dos 50 anos, quando a verdade é que, até ontem, 80% dos óbitos ocorreram a partir dos 70 anos e a maioria deles tinha 80 ou mais!
Um pouco à frente, o plano insinua que há «incerteza relativa à eficácia e segurança das vacinas nas pessoas mais idosas» e manda-as para o fim da lista se não apresentarem atestado de má saúde! Fala-se em meados de 2021 para estes se vacinarem mas, conhecendo a tendência dos calendários governamentais para se atrasarem, será lá para 2022…
Percebe-se, pois, que a vontade do governo é dar a máxima prioridade à vacinação dos homens de meia-idade no interesse da retoma das indústrias bem como às senhoras da mesma faixa etária que abundam na indústria turística! É lamentável que seja esta a concepção que o governo tem da retoma económica rápida, a qual dispensa os mais velhos e muitas vezes mais qualificados, mas não dispensa a mão-de-obra barata que faz entrar «divisas» e promove a especulação imobiliária! É significativo que não haja prioridade nenhuma para quem está em teletrabalho…
E como não há vacinas para todos ao mesmo tempo, assim como também não haverá suficiente pessoal habilitado a dar 2 doses por trabalhador (digamos 10 milhões de vacinas para começar…), nem tão pouco locais suficientes para conservar as vacinas e administrar a vacinação, é de calcular que esta não corra melhor do que ainda se está a passar com a vacina para a gripe! Em suma, como dificilmente haverá tão cedo vacinas para todos, alguém terá de ter paciência para esperar!
Entretanto, os 2 milhões ou mais de reformados e pensionistas sem atestado de saúde justificando prioridade terão de aguardar a vez que o governo lhes atribuiu na esperança que não seja tarde de mais! De todos os grupos excluídos sem motivo explícito mas pela mera força das circunstâncias, são as idosas que enchem os mal-afamados «lares» quem mais se arrisca, segundo a letra do plano de vacinação, a ser entregues à sua triste sorte. É caso para perguntar se já alguém da saúde pública perguntou por que motivo há mais homens a morrer devido ao vírus até aos 80 enquanto as mulheres morrem sobretudo quando atingem a faixa dos 80? São contas que a DGS não faz ou, se faz, esconde as suas causas e consequências!
Ora, no que diz respeito aos lares, a esmagadora maioria destes é, como se sabe, gerida pelas Misericórdias locais, assegurando o Estado o seu funcionamento através das pensões das hóspedes. Viu-se, porém, que os governos não exigem o cumprimento escrupuloso das necessárias garantias sanitárias. As Misericórdias e o Estado são, pois, reconhecidamente responsáveis por metade ou mais dos óbitos verificados, cuja esmagadora maioria pertence à mencionada faixa etária dos 80 anos em diante: são 65% de todos os óbitos, aos quais se juntam 20% entre 70-79 anos, ou seja, 85% do total!
E todavia o governo parece recusar a prioridade da vacinação aos reformados e pensionistas em simultâneo com os profissionais de saúde. Ou está mal explicado ou então é porque, antes de proteger a vida das principais vítimas da pandemia, em especial quem vive nos «lares», o governo está sobretudo aflito com a economia!
A tudo isto acresce a necessidade de somar aos óbitos registados pela DGS outras tantas ou mais pessoas falecidas que deverão ser, por sua vez, contabilizadas indirectamente através do cálculo feito já antes da pandemia, a saber, o «excesso de mortalidade». Ora, este excesso efectivamente verificado em relação à média dos anos anteriores varia em todos os países entre o dobro e três vezes mais óbitos do que os registados directamente. O que isto significa é que, em Portugal, seja por via directa ou indirecta, devido ao retraímento de doentes com receio das salas de espera ou com dificuldade de aceder dos hospitais, são já cerca de 10.000 os óbitos causados pela pandemia mas que as autoridades não divulgam. Faz doer mas ainda vai fazer mais. E tudo leva a crer que será necessário recomeçar o processo de vacinação todos os anos!