Por instantes, fiquei entusiasmado. Tive um momento eureka, mas em mais relevante, para mim e até para a Humanidade, do que o momento eureka do Einstein. “Aha! Enfim, descobri a doença da qual desejo padecer!”, pensei eu ao ler a notícia de que, na tentativa desesperada de encontrar a nova COVID, e não estando a monkeypox a dar conta do recado, está aí a febre da preguiça.

“Febre” como em Febre de Sábado à Noite, no sentido de excitação, e “preguiça” como em preguiça, no sentido de preguiça. Excitação pela preguiça. Além de mais é uma doença cujo nome encerra uma observação astuta: a única coisa capaz de despertar um preguiçoso é mesmo a promessa de mais e mais preguiça.

Infelizmente, após análise mais profunda da notícia (e por mais profunda entenda-se a leitura do lead) concluí que a preguiça de que se fala não é a doce mandriice, mas o, imagino impalatável, bicho chamado preguiça. Pelo menos até ver. Que se isto for como com a COVID, a culpa também era do desgraçado do pangolim, depois já era do coitado do morcego e, quando se foi a ver, nós é que acabámos quais ratos de laboratório em experiências científicas muito engraçadas. Portanto, não chateiem já a bicharada.

Incluindo a bicharada socialista. “Não chateiem o PS!”, ordenou… pediu… sugeriu, vá, o afinal assim não tão feroz animal político, Pedro Nuno Santos. O líder do PS reagiu desta forma às perguntas dos jornalistas sobre o sentido de voto do PS no próximo Orçamento de Estado. O que se por um lado deixa em aberto o voto socialista no Orçamento, por outro deixa a ideia dos socialistas estarem a trabalhar com um orçamento muito mais reduzido. Parece já não haver verba para o tradicional, aparatoso e confiante “Quem se mete com o PS leva!” Se calhar, depois de apanharem os 75.800€ a Vítor Escária só sobrou maquia para esta pobre e envergonhada sequela do “Não chateiem o PS!”

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É que são más, as pessoas. Não deixam o PS em paz, agora que o PS está na mó de baixo, só porque o PS deixou, por exemplo, o SNS de rastos. Tanto é que ao Presidente da República não desagrada a ideia de um pacto de regime para a saúde. Só não percebi de que género de pacto se está a falar. Será um pacto tipo Pacto de Varsóvia? Pode ser, uma vez este acordo se tornou famoso por, precisamente, tratar da saúde a tanta e tanta gente.

Agora, também pode ser um Pacto Bandeira. Na medida em que, se queremos usufruiu de cuidados de saúde, parece cada vez mais prudente ter Badajoz à vista. Em alternativa, existe ainda, como é evidente, o pacto à Pequim, que não sei se é tão indicado para a saúde, mas que, quando confeccionado com brio, deixa o bicho com uma pele mesmo muito crocante e deliciosa.

Fica esta dica de bom destino para os 100 ou 200 euros que o governo vai “dar”, em jeito de suplemento para as pensões mais baixas. Caso sobre algum da farmácia. E do álcool. E do jogo. Há prioridades, que diabo. Sendo que, para este governo, distinguir-se fundamentalmente do governo do PS não parece ser uma delas. Vai daí, o executivo de Montenegro alinha nesta fantochada das esmolas a que o PS nos habituou. Fica Pedro Nuno Santos a roer-se de inveja (mas de forma bem discreta para ninguém chatear o PS) e fico eu com aquela sensação arrepiante, que não me assolava desde as últimas legislativas, de não ser capaz de distinguir PS e PSD. É uma daquelas ocasiões em que o D à direita está para a política portuguesa como o zero à esquerda está para a matemática. Não conta para nada.