Agora sim, percebo a dificuldade em decidir a localização do novo aeroporto de Lisboa. E vejo que todos sofremos da mesma maleita, o chamado défice de atenção. Mais precisamente o défice de atenção a todo o tipo de dificuldades inerentes à gestão de uma infra-estrutura. Basta ver a polémica em torno do nome a dar à nova ponte “ciclopedonal” sobre o Rio Trancão, construída para a Jornada Mundial da Juventude, e percebe-se logo por que haverá um aeroporto em Marte antes de um novo aeroporto em Lisboa.

Quer dizer, a polémica tem sido em torno da atribuição do nome Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente à dita infra-estrutura, mas a verdade é que, antes desta polémica, outra controvérsia devia ter estourado. Nomeadamente em torno da definição da ponte como “ciclopedonal”. Como assim, “ciclopedonal”? Só se pode atravessar a ponte a pé, ou de bicicleta, é? Então e se eu quiser passar a ponte a bordo no meu potente triciclo? Vejo o meu veículo barrado, e quiçá apreendido, por um agente da autoridade, porventura? É o mais provável, tendo em conta que vivemos numa época em que os nossos responsáveis políticos estão convencidos que isto só lá vai com uma bicicleta em cada esquina.

Voltando à polémica em torno da ponte triciclopedonal (à atenção do Observatório da Língua Portuguesa) sobre o Rio Trancão, entretanto, na sequência deste sururu, Manuel Clemente recusou dar o nome à ponte. Eu também recusava. Quer dizer, apreciava imenso dar nome a uma ponte (à atenção das Infra-estruturas de Portugal), mas alguém que dá o nome a uma ponte tem de ser criterioso quanto ao nome do rio cuja ponte com o seu próprio nome atravessará. No caso em apreço, creio que Manuel Clemente se limitou a recusar educadamente o convite, evitando um desconfortável “Trancão?! Eh pá, tenham paciência, mas a Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente não atravessa o Trancão. Bem sei que “Sena”, “Danúbio” e “Reno” já estão tomados, mas arranjem lá outro nome para o rio e depois voltamos a falar”.

Estes são dias sob o signo da ponte, sem dúvida. Foi a ex-futura Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente, foi o dia da Assunção de Nossa Senhora a calhar a uma terça-feira, e é a ponte aérea que, todos os anos, continua a levar quase metade dos licenciados portugueses para outras paragens, ironicamente paragens onde a economia, em vez de parada, como aqui, avança e é no sentido de melhorar as condições de vida das pessoas. E não de piorar as condições de vida das pessoas, como por cá. O que, parecendo que não, é mais agradável.

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Como que a ilustrar esta debandada geral, diz que num ano há em Portugal menos 128 mil pessoas empregadas com ensino superior. Coisa pouca, e coisa que me leva a deixar uma modesta sugestão ao Turismo de Portugal. Na condição de esta minha proposta não implicar que alguém no departamento de Óptimas Ideias do Turismo Portugal perca o emprego. Proponho então recuperar a famosa campanha dos anos 90, “Vá para fora cá dentro”, adaptando-a a esta fuga em massa da geração mais bem preparada de sempre para sair daqui para fora para sempre. O novo slogan seria: “Vá para fora que não há trabalho cá dentro”. A que se juntará, claro, o disclaimer “A culpa é do Passos, como é óbvio”.

Ainda assim, nem tudo é mau nesta evasão de jovens qualificados. Porque se é já clássica a queixa de que, em Portugal, a coisa só funciona à base de jobs for the boys, a verdade é que por esta altura, graças a Portugal, há muito mais jobs for the boys. Nomeadamente para os boys que emigrem para os Estados Unidos da América, o Canadá e o Reino Unido.

E em jeito de substituição para o lugar, por exemplo, dos médicos portugueses, estão aí a chegar os tais médicos cubanos traficados pelos Estados cubano e português. Eu acho uma boa solução. Porque após uma queda na casa de banho na sequência de um banho checo, quando uma pessoa tentava chegar à toalha turca, nada como ser atendido por um ortopedista cubano.