A maior dificuldade para entender PNS resulta da incerteza dos papeis que ele desempenha num dado momento. A maioria das vezes, é Pedro Nuno Santos quem fala. Mas, por vezes (mais raramente), é o líder do PS que aparece aos portugueses. PNS ainda não conseguiu juntar as duas personagens numa só; e essa é uma das causas da sua fraqueza política.
PNS, o político de esquerda e que detesta “a direita”, nunca quis aprovar o orçamento deste governo e prefere eleições antecipadas. Mas o líder do PS vê o seu partido dividido, recebe pressões políticas e de outros sectores da sociedade, e hesita. Desconfio que PNS vai derrotar o líder do PS que muitos gostariam que ele fosse. E está com muita vontade de o fazer para se libertar das amarras que ainda o prendem, e para finalmente ser ele próprio em todos os momentos.
Foi o PNS genuíno que foi a São Bento a semana passada e que falou à imprensa depois do encontro com o PM. Não quer mesmo aprovar a redução do IRS jovem nem do IRC. PNS prefere aumentar a despesa pública a diminuir a carga fiscal. Foi o que ele disse e é o que ele pensa. PNS valoriza muito mais o voto dos velhos do que o voto dos jovens (de certo modo é paradoxal para quem gosta de mostrar a energia de um jovem).
Este ponto é muito interessante. A aritmética eleitoral de um país envelhecido mostra que os reformados contam mais do que os jovens nos resultados eleitorais (um sinal forte do declínio de Portugal). Mas não me lembro de um líder partidário hostilizar tanto os jovens como PNS. Na semana passada, PNS mostrou que desistiu de conquistar o voto jovem. Pode ser apenas pragmatismo político porque sabe que ganha mais eleitoralmente com os votos dos reformados. Mas não precisava de escolher uns contra outros. Há também alguns sinais de que PNS está zangado com a maioria dos jovens pelo abandono do PS. Referiu mesmo os jovens como uma minoria.
No fim de semana nos Açores também foi PNS que apareceu aos portugueses. Disse mesmo que prefere uma derrota eleitoral à aprovação do orçamento. Acho que é verdade. PNS é um político que gosta do confronto, da clarificação, e não de compromissos e consensos forçados. Para ele, no essencial, a política é a competição entre a esquerda, liderada pelo PS, e a direita, liderada pelo PSD. Está mais à vontade no confronto eleitoral do que em reuniões com o PM para chegar a um consenso no qual ele não acredita nem gosta.
Esta semana, na entrevista ao CM televisão, apareceu o líder do PS, e notou-se o desconforto evidente de PNS. De certo modo, para PNS, a realização de eleições antecipadas, mesmo que as perca, seria a consolidação da sua liderança no PS, no sentido em que se liberta dos seus adversários do partido que o querem empurrar para compromissos com a direita. Estou convencido que a liderança do partido não será posta em causa com uma nova derrota eleitoral, dado o seu domínio no partido.
Neste momento, julgo que é quase impossível o PS deixar passar o orçamento do governo. PNS quer ir para eleições porque é PNS e, sobretudo, para poder ser o verdadeiro PNS. Para ele, só assim faz sentido ser líder do PS. O “líder” do PS preferido por outros militantes do partido acabará por desaparecer. Não vai resistir ao PNS.