1. Como seria de esperar, a esquerda bem pensante assustou-se com o discurso de João Miguel Tavares (JMT) no 10 de junho. Já não tinham gostado da sua nomeação herege — um jornalista de Portalegre para falar nas cerimónias que decorrem em Portalegre, realmente, não lembra ao diabo, só ao Marcelo. Mas o que a esquerda não lhe perdoa mesmo é ter proferido um discurso que foi elogiado de forma generalizada — da esquerda à direita, do norte a sul, dos portugueses residentes aos emigrantes — por quem ouviu de boa fé. Essa aceitação geral do discurso de JMT é o que dói mais a quem pensa que tais elogios só devem (só podem!) estar destinados precisamente a essa mesma esquerda que se julga dona e senhora da democracia.

Os radicais da ala esquerda do PS, por exemplo, não perderam tempo e logo inventaram a tese do “discurso salazarento”. Porfírio Silva, o secretário nacional do PS que gosta de fazer de ideólogo daqueles radicais, foi rápido a lançar o mantra nas redes sociais de que o discurso de JMT, ao fazer um resumo óbvio da insatisfação dos cidadãos com os seus representantes políticos, fazia-lhe lembrar “muito o salazarento partido dos que não gostavam de partidos, como o próprio ditador [António Oliveira Salazar] dizia.” Pior: JMT esqueceu-se do que “os políticos da democracia fizeram pelo país”.

Não é de espantar que estes disparates fossem replicados por outras espécies de bloquistas travestidos de socialistas que gozam da proteção especial de António Costa. (Aliás, basta ouvir Francisco Louçã para perceber que a cola que une os radicais da ala esquerda do PS ao BE é cada vez mais sólida e robusta — pouco os distingue hoje em dia.)

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