Certo dia um militar norte americano escreveu: “A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e carácter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia.”

Durante anos fui passando pelas organizações, conhecendo colaboradores, fazendo e assinando rescisões laborais, quer da óptica do empregador, quer da óptica do trabalhador.

Quando se está no lado do trabalhador, consegue-se perceber, com maior facilidade, o que levou à falência e à ruptura da relação laboral.

Há um ponto comum entre todos: desgaste com a liderança, que, não raras vezes assume a vertente do assédio moral, entretanto — e bem — punido pela lei laboral (vide a esse respeito inúmeros escritos da Advogada Rita Garcia Pereira).

A falha da liderança, de todos os casos que me passaram pelas mãos é o mote comum. A liderança não consegue criar no colaborar coisas básicas como: despertar o trabalho em equipa; gerar valorização interpessoal; não consegue trazer os colaboradores a fazer parte da solução (muitas vezes assacando-lhe parte do problema, etc.). E não se pense que “isto” é típico só das organizações pequenas. Não. Das grandes, mesmo das multinacionais com todos as suas regras contra assédio e valorização a dada altura há uma liderança que faz quebrar a cadeia sem que a liderança de topo se aperceba, esta, mais das vezes, refugiando-se depois em chavões jurídicos e nas decisões tomadas sem ter coragem de abraçar o problema de frente.

Recentemente, vi numa organização que, de facto, a liderança perdeu o carácter. E mesmo a estratégia é discutível já que, como manda a boa doutrina, não envolve nunca os colaboradores de topo para a mesma. Os colaboradores eram tomados de surpresa por decisões caóticas, anacrónicas, disruptivas que lhes causavam ansiedade, falha de confiança na hierarquia, e falta de segurança no futuro.

Cheguei mesmo a ver um CEO a navegar num filme que não era o filme da realidade da empresa, da qual não tinha noção do limite dos recursos e que achava que tudo o que não fosse reprodutivo para a actividade era desprezível.

E a falha do carácter começa aqui: achar desprezível a hierarquia, à qual retirava permanente poderes e lhe sobrepunha com as tais decisões “tiradas da cartola” a uma sexta-feira ao fim da tarde.

A falha das lideranças é isso mesmo, é achar mandar é melhor que pedir; é decidir sem escutar; é não perceber que, do outro lado, há um ser humano com limites, mas com esperanças e sonhos que nos cabe, a quem decide, prover pela sua realização. Só assim uma empresa cresce, só assim se torna saudável crescer com ela.

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