No sábado passado, aconteceu o maior massacre de judeus desde o Holocausto nazi. O que é que pode justificar ambiguidades e demoras no repúdio dos assassinos? O Hamas, que domina pelo terror a população de Gaza, não representa os árabes da Palestina. O Hamas é apenas um exemplo do modo como, desde 1948, regimes e movimentos políticos no mundo islâmico, à falta de qualquer base democrática, procuraram legitimar-se cultivando o ódio contra os judeus, e recusando a decisão da ONU de criar dois Estados na Palestina, um para árabes e outro para judeus. Sim, a fundação de um Estado árabe na Palestina, pacífico e viável, é uma condição da paz na região. Mas para os inimigos de Israel, esse Estado nunca importou: daí que, tendo controlado Gaza e a Cisjordânia durante quase vinte anos a seguir a 1948, nunca o tivessem estabelecido. A sua prioridade era a guerra contra Israel, como agora para o Hamas e os seus patrões iranianos. Quando o Hamas diz que quer “libertar a Palestina”, não está a falar do estabelecimento de um Estado árabe na Palestina, mas da destruição do Estado de Israel. O que aconteceria aos judeus, se o Estado de Israel fosse destruído, viu-se no sábado passado. O que é que aqui é difícil de compreender?

A ocupação israelita de áreas vizinhas depois da guerra de 1967 é um problema? Sem dúvida, mas sempre que Israel retirou de um território, foi para o ver convertido pelos seus inimigos numa base de ataque. Foi o que aconteceu em Gaza. Nem o apaziguamento do Hamas, nem o muro de defesa protegeram Israel. Os israelitas vão ter de recorrer ao que tentaram evitar nos últimos tempos, um confronto directo no terreno. Nenhum Estado no mundo, atacado como Israel, deixaria em paz, na vizinhança, a organização terrorista responsável. Em Gaza, porém, os sicários do Hamas vão usar a população como escudo humano. Mulheres e crianças de Gaza vão morrer, e não são menos para lastimar do que as mulheres e as crianças de Israel. Mas os soldados israelitas – soldados de um Estado de direito democrático – entrarão em Gaza para atacar o Hamas. Os sicários do Hamas entraram em Israel, não para atacar o exército israelita, mas para chacinar civis desarmados em bairros residenciais e num festival de música, e depois se gabarem dessa selvajaria em vídeos que divulgaram pelas redes sociais. Quem é que não percebe que o exército de Israel e o Hamas não estão no mesmo plano?

Para não perceber isso, é preciso um certo entendimento do mundo, que é o da extrema-esquerda ocidental. O Hamas quer destruir Israel, e a extrema-esquerda, pelo menos desde a década de 1960, concebeu a destruição de Israel como parte da sua própria campanha contra a democracia liberal e a economia de mercado no Ocidente. Terroristas da extrema-esquerda europeia colaboraram então com terroristas do Médio Oriente. Agora, os professores universitários que substituíram os guerrilheiros urbanos de 1970 fazem causa comum com os extremistas islâmicos que tentam dominar as populações muçulmanas imigradas no Ocidente. Há cinquenta anos, diziam que era preciso fazer “muitos Vietnames”; agora, querem fazer muitas Gazas. A sua influência nas universidades e nos media permite-lhes criar a confusão moral que convém ao projecto. Mas o problema não é só a extrema-esquerda. O problema é também a outra parte da esquerda, que, sabendo muito bem o que é a extrema-esquerda, legitimou as suas organizações, e as trouxe para a área do poder, porque “todos os votos contam” e o único perigo é a “direita populista”. Esta estranha dificuldade de, num caso tão óbvio, distinguir entre o bem e o mal é um resultado desse oportunismo.

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