1. Rui Rio está a transformar o PSD num partido cada vez mais irrelevante, pouco credível e até inútil para os portugueses. O que aconteceu com o caso Silvano demonstra bem a incompetência de Rio e da sua direção nacional, como também revela a tacanhez política da atual liderança do PSD.

Incompetente porque não soube matar à nascença um caso simples — como aquele que envolve José Silvano. Bastaria que o secretário-geral do PSD e a (inesquecível e ‘carne para canhão’) deputada Emília Cerqueira tivessem dado imediatamente uma explicação minimamente credível ao Expresso (jornal que noticiou o dom de ubiquidade de Silvano em exclusivo) para o caso não ter assumido a proporção que assumiu.

E tacanhez política porque ao mesmo tempo que Rui Rio fala em “banhos de ética”, recusa-se a exigir consequências a um aliado político por ter falhado numa situação básica como alegadamente ser cúmplice na falsificação dos registos de presenças da Assembleia da República. Os “banhos de ética”, portanto, são para os outros — menos para Rio e para os seus amigos.

Nem vale a pena falar da absoluta falta de respeito pelos portugueses demonstrada pela graçola de falar em alemão para evitar respostas aos jornalistas sobre o caso Silvano.

Não só por este, mas pelo acumular  de casos, que Rui Rio está cada vez mais descredibilizado enquanto líder da oposição.

Truculento e conflituoso desde a primeira hora, Rio não soube, não sabe e, se calhar, não quer unir o PSD. O ex-edil do Porto é, cada vez mais, um fator de divisão dentro do partido. Pior que isso: o PSD não tem, neste momento, um projeto alternativo ao Governo para oferecer ao país — além de violar todos os protocolos de segurança informática ao aconselhar a partilha de passwords, nada tem para dizer aos portugueses.

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O caminho de António Costa para a maioria absoluta está, portanto, aberto — é mesmo uma autêntica auto-estrada. Trata-se de um objetivo difícil pela fidelidade de muitas zonas do norte ao PSD mas está cada vez mais ao alcance do PS. Basta que Rui Rio continue a fazer até às eleições o que tem feito até agora: pouco ou nada que mereça o voto do eleitorado flutuante do centro político e de uma parte significativa do eleitorado fiel dos social-democratas.

É por essa razão que “Rui Rio” tanto pode ser a password para o sucesso como para o insucesso do Bloco.

2. O sucesso (e o insucesso por contraste) do Bloco passou a ser claro a partir desta XI Convenção deste fim-de-semana: impedir a maioria absoluta do PS e conseguir os votos suficientes para formar um Governo de coligação com o PS.

O problema é que, por muito que mudem a sua imagem de partido de protesto para partido mais respeitável, por muito azul que coloquem como enquadramento do palco para as televisões, o extremismo natural do Bloco está sempre presente.

Desde a nacionalização da banca e da energia, passando pela imposição de limites aos salários dos gestores, pela luta contra a União Europeia, pela defesa da saída da NATO e do euro, e terminando no combate regular ao direito da propriedade e ao capitalismo em geral — o BE é todo um programa de extrema-esquerda.

Até a nível internacional, com a companhia de Jeremy Corbin (com uma liderança em que o anti-semitismo está presente), do Podemos (que defende, como o BE, o regime venezuelano de Maduro) e de Jean-Luc Mélenchon da França Insubmissa, o Bloco não abandona as suas raízes radicais.

3. O melhor protagonista desse radicalismo é precisamente o líder histórico Francisco Louçã. Entronizado como senador da República por via da sua nomeação para conselheiro de Estado, o avô fanático dos filmes “Toy Story” proclamou na Convenção que o “Bloco é a segurança contra esse imenso e insidioso partido da corrupção.” E mencionou três processos judicias que eram exemplo desse “partido da corrupção”: “os submarinos”, o “caso Vistos Gold” e o caso das “parcerias público-privadas”.

Portanto, um caso relacionado com o PSD/CDS (um inquérito que prescreveu sem a constituição de arguido de nenhum membro do governo Barroso/Portas), outro com o PSD (o ex-ministro Miguel Macedo, o único titular de cargo político acusado, não é suspeito de corrupção nesse caso) e o terceiro com o PS (Mário Lino e Paulo Campos que ainda não foram constituídos arguidos).

Curiosamente, Francisco Louçã não mencionou o melhor exemplo da luta contra a corrupção: a Operação Marquês.

A relação de Louçã com a Operação Marquês é, no mínimo, estranha. Se antes acusava o primeiro-ministro José Sócrates de tudo e mais alguma coisa no hemiciclo do Parlamento, agora quase que passou a testemunha abonatória de Sócrates.

O que fez Louçã quando, finalmente, o Ministério Público (MP) entendeu que havia razões para suspeitar e prender preventivamente um primeiro-ministro (Sócrates) pela alegada suspeita de corrupção? Passou a atacar a Operação Marquês pelo tempo alegadamente excessivo que demorou a investigação e a criticar duramente os “quatro anos de fugas de informação para o Correio da Manhã”. Mais tarde censurou igualmente o juiz Carlos Alexandre, a propósito da entrevista que deu à SIC, em termos que não envergonhariam João Araújo e Pedro Dellile.

Quando saiu a acusação do MP, Louçã publicou um texto discreto no esquerda.net onde consegue a proeza de falar do BES, da PT, do trânsito entre aquelas empresas e os sucessivos Governos sem censurar ou criticar José Sócrates — o principal arguido da Operação Marquês que é acusado pelo MP de ter sido corrompido desde o primeiro dia em que entrou na residência oficial do primeiro-ministro. Pelo contrário: Durão Barroso, Paulo Portas e Santana Lopes (que não são tidos nem achados na Operação Marquês) é que mereceram as habituais censuras de Louçã.

4. Que Francisco Louçã é sectarista e intelectualmente desonesto, não é grande novidade. A questão é saber:

  • porque razão protege e defende Sócrates quando este foi o seu principal adversário no Parlamento?

Porque Louçã sempre soube que a Operação Marquês colocaria em xeque o PS. O ex-líder do BE sabe que um PS eleitoralmente fragilizado e marcado pela corrupção (como o PT no Brasil), pode beneficiar o Bloco mas beneficiaria muito mais o centro/direita e catapultaria o PSD e o CDS para muitos anos no Governo.

É precisamente esse raciocínio manipulador da realidade, em que adapta os princípios às suas necessidades políticas, que revela o extremismo de Francisco Louçã — e, por arrasto, do BE.

Trotskistas, maoistas, estalinistas ou qualquer outra variável prática do marxismo têm uma prática política que assenta num princípio simples: os fins justificam sempre qualquer meio que seja necessário utilizar. Não há grandes barreiras morais para cumprir a cartilha marxista, como a história demonstra até à exaustão.

Esse é o grande perigo do Bloco de Esquerda — que tem, e terá por muitos anos, o ADN do marxismo e do neo-comunismo.