E então? Já receberam os vossos 125 euros? Já houve forte pândega no esbanjar da soberba maquia? Confesso temer confusões nesse esbanjar, após a declaração de André Ventura segundo a qual “Os 125 euros não devem ser gastos em whisky”. É que assim fica confuso. Quer dizer, há uns anos foi o presidente do Eurogrupo, o holandês Dijsselbloem, a repreender-nos por esbanjarmos tudo em álcool. Agora vem o Ventura dizer para não esbanjarmos, especificamente, em whisky. Eh pá, esclareçam, de uma vez por todas, em que drinques podemos esbanjar maquias extra com que somos presenteados por governos nacionais e estrangeiros. Que é para uma pessoa se organizar. Com estas indefinições não admira que os cidadãos se desliguem da política.

Além de que, às vezes, mesmo que uma pessoa queira ligar-se à política não consegue. É que nem dá tempo. Como sucedeu agora com a primeira-ministra britânica. Ainda estava um indivíduo, ingenuamente, a perguntar “Como se chama a nova ocupante do número 10 de Downing Street?”, e era logo esclarecido por intermédio de um sarcástico “Era a Liz Truss”.

Liz Truss que, por 49 dias enquanto primeira-ministra, terá direito a 11 mil euros mensais de pensão vitalícia. O que me parece um valor modesto. Pelo menos por cá, seria estupendo negócio para o país pagar até muito mais do que isso a certos e determinados primeiros-ministros para saírem do governo para fora ao fim de nem dois meses de mandato.

A propósito de certos e determinados primeiros-ministros, recordo que haverá eleições no Brasil já no próximo Domingo. E entendo que não seja entusiasmante escolher um lado na refrega Bolsonaro-Lula. Ainda assim, a chave para decidir em qual dos dois votar estava escondida na política portuguesa. Sim, sim. Poderá haver aqui cheirinho a colonialismo – admito –, mas a verdade é que Portugal revelou-se decisivo no momento de esclarecer qual o presidente certo para o Brasil. Isto porque, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter deixado claro, aquando daquela visita ao Brasil em que se borrifou no Bolsonaro para ir ter com o Lula, ser fervoroso adepto deste último, foi agora a vez de António Costa anunciar o seu apoio pessoal a Lula da Silva. Ora, Marcelo e Costa estarem perfeitamente alinhados numa escolha política é garantia, inequívoca, de que a escolha oposta é a certa.

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Não acreditam? Mas quê, vão dizer-me que após meia dúzia de anos de permanente alinhamento entre Costa e Marcelo termos latas de atum com alarme no supermercado é mera coincidência, queres ver? E atenção, isto é só o começo. Para já são as latas de atum dentro de caixas de plástico com alarme, mas antecipo que por altura do Natal os supermercados destaquem dois Securitas armados para guardar cada bacalhau.

E apesar de tudo temos sorte de o bolo-rei já não trazer brinde. Que se calha manter-se essa saudosa (e inexplicavelmente descontinuada) tradição dos valiosos artefactos ocultos na massa, era ver tudo o que é panificadora a ter de trocar a frota de veículos comerciais por carrinhas blindadas.

Sinal de que a época natalícia já esteve mais longe é o facto de, no próximo fim de semana, mudar a hora. Pois bem, eu considero – e sei que vos interessa muito o que eu considero sobre temáticas em geral – ridícula esta fantochada de mudar a hora. Estava era mais do que na hora de mudar esta fantochada, isso sim.

Nota: o autor escreveu seguindo o Benfica-Juventus, pelo que ficará a dever-se a inusitado gáudio qualquer desacordo com o cânone ortográfico.