Não é que passada a hora de escrever isto a situação vá melhorar significativamente, mas enfim.

Bom, a primeira coisa que não sei, à hora que escrevo esta crónica, é o resultado do jogo de estreia de Portugal no Euro 2024. Pior. Como se não bastasse desconhecer se ganhámos, empatámos, ou perdemos, não sei se o fizemos contra a República Checa, a Chéquia, ou a Tchéquia. E para o seleccionador nacional, então, nem imagino a dificuldade de preparar um jogo sem saber o nome do adversário. Como se não bastasse ter de fazer contas já bem complicadas para perceber se vale mais o 4x4x2, o 4x3x3, ou o 3x5x2 (escusam de tentar recordar a tabuada, evocando traumas de infância. Vão por mim, como copiavam pelo colega choninhas vítima de bullying que hoje é Chief Technological Officer, é o 4x3x3).

A outra coisa que não sei, à hora que escrevo esta crónica, é se a malta que sabe matemática já fez contas aos votos para perceber se António Costa é o próximo presidente do Conselho Europeu. Quer dizer, a montante disso, já ficava satisfeito em entender a diferença entre Conselho Europeu e Conselho da Europa. E se, à porrada, algum deles ganhava à Comissão Europeia. A única coisa que sei é que são organismos que regulam coisas lá para a Europa. Por exemplo, uma pessoa quer organizar uma megafeijoada na Ponte Vasco da Gama, tem de recorrer a estes organismos. Para solicitar licenças e assim? Não. Para arranjar tachos suficientes onde cozinhar a patuscada que alimente a mesa de 15 quilómetros.

Supostamente, o futuro de Costa seria decidido num jantar (lá está, a tacharia sempre a uso) na segunda-feira, mas afinal não. Quer dizer, pode dar-se o caso de o jantar, dois dias depois, ainda estar a decorrer, tipo aquelas comezainas decadentes (de sonho, portanto) no Império Romano. Decadência que, por norma, antecipa o fim de uma civilização. O que, bem vistas as coisas, parece consentâneo com a situação na Europa, onde até um ex-primeiro-ministro com o cadastro de António Costa pode sonhar com uma função que não a de higienizador de tachos, panelas e caçarolas.

Cadastro no sentido de currículo. Não no sentido jurídico do termo, como é óbvio. Até porque, no âmbito da Operação Influencer, o próprio ex-chefe de gabinete de Costa, Vítor Escária, afirmou não se lembrar dos 75.800€ que guardava no seu gabinete, em São Bento. E sem alegar Alzheimer. Ponha os olhos nisto, Ricardo Salgado. Não se lembrava, simplesmente. Verdade seja dita, cá em casa, quando sobra dinheiro das compras, também vai para o mealheiro do mais novo. E quando vamos a ver, o cão que ladra quando lá metemos trocos já tem aos oito ou nove euros no bucho, o malandro. Foi com certeza o que aconteceu a Vítor Escária. Aquilo eram trocos de compras de economato, ou coisa que o valha, que ele foi para ali acumulando.

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Calhando era uma verba que tinha já em vista a futura indemnização à ex-CEO da TAP. Pois é. Numa escuta da tal Operação Influencer, o antigo primeiro-ministro é ouvido ao telefone com João Galamba a assumir a necessidade de demitir Christine Ourmières-Widener. “Se isto se torna num inferno é ela ou nós”, disse Costa. E foi mesmo ela. E agora seremos mesmo nós a pagar. A pagar para, ainda mais uma vez, salvar a carreira política de António Costa. Tem saído carote, mas pelo menos o percurso é brilhante.

Percurso que pode então ter como píncaro a liderança do Conselho Europeu. Lá vai António Costa para Bruxelas e mesmo que as investigações judiciais em curso lhe sejam extremamente desfavoráveis, entretanto a Bélgica já é um país muçulmano sem acordo de extradição com Portugal. É o chamado win-win para o ex-primeiro ministro.

Digo eu, que, como ficou claro desde início, esta é uma crónica sob o signo da ignorância. Com ascendente em parvoíce. O que não a distinguirá do trabalho que aqui desenvolvo semanalmente, assinalaria um leitor mais desagradável. Ou uma leitora mais quezilenta. Ambos perspicazes.