Novos tempos, novas campanhas. Sem carne assada, sem quilómetros a perder de vista, a campanha agora é mais limpinha e mais económica. Todos os dias à hora marcada um adversário diferente para falar um máximo de 12 minutos. É previsível, é barato e pode dar votos.

Trinta debates em 15 dias. É muito debate para o eleitor digerir, mesmo que ajudado por outros tantos debates de comentadores treinados a dar notas no minuto seguinte. O resto corre pelas redes sociais, cada claque faz a sua análise e decreta que o seu candidato foi sem dúvida o melhor. Se os comentadores não alinham pelo mesmo diapasão é porque estão comprados ou têm uma agenda escondida.

No meio de tudo isto, vale a pena pensar em que pensam os estrategas partidários quando preparam os seus para o confronto. O raciocínio é, na maior parte das vezes, diferente do dos analistas. O que interessa é cumprir um roteiro para chegar ao lugar desejado. Em linguagem futebolística: não sofrer golos e tentar marcar golos junto do potencial eleitorado, o que na maior parte dos casos não tem nada a ver com o adversário que se tem à frente.

Deste ponto de vista, pode dizer-se que a telecampanha está a render para quase todos os líderes. O pouco tempo ajuda a sintetizar a mensagem, evita grandes explicações sobre propostas e cria condições para que todos façam boa figura desde que cumpram o guião que levam preparado. O espaço e o tempo para imprevistos são muito limitados e só por desleixo ou falta de preparação pode correr mal. Resultado: se pensarmos do ponto de vista do protagonista político, até agora, praticamente não houve derrotados nos debates. Cada um cumpriu o seu papel e falou para os seus ainda que sob o disfarce de estar a debater com outro.

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Esta é a verdadeira avaliação que é preciso fazer: no fim de cada debate, cada um dos líderes afastou ou conquistou os seus potenciais eleitores? Às vezes, para conseguir o objetivo, até compensa deixar o adversário sem resposta ou a falar mais alto. O foco está no eleitorado de cada um e não em ganhar a discussão.

É verdade que, neste campeonato, todos quiseram mostrar que não se deixavam enrolar pelo candidato Ventura, o único que tecnicamente quer ir a todas e, portanto, tem potencial para ir buscar eleitores a todo o lado desde que se sintam indignados. Por esta ótica, só houve verdadeiramente uma derrota: Rui Rio que, de tanto desvalorizar o seu adversário, acabou a cair na armadilha de passar o tempo a discutir os temas do Chega como se fossem os temas mais importantes do país. Mais do que aquilo que disse ou quis dizer, pesou o que o candidato a Primeiro-ministro não disse, desperdiçando uma oportunidade para conquistar indecisos. Mas também não é correto considerar que Ventura perdeu os debates. O líder do Chega indignou-se, acusou e propôs o castigo devido aos prevaricadores. Fez as delícias dos indignados que querem pôr o regime na ordem. André Ventura está a cumprir o seu guião. Esta é a sua aposta e o seu único programa. No dia 30 veremos quantos eleitores conseguiu conquistar.

A outra derrota pertence a Jerónimo de Sousa. Primeiro porque não quis alinhar na telecampanha, os debates televisivos nunca foram o seu forte. Segundo porque já não tem força anímica para a luta. Não era difícil prever que António Costa não ia ser meigo com quem lhe deitou o Governo abaixo e os estrategas do PCP só tinham que preparar a narrativa comunista para o divórcio que provocaram. A dúvida é saber se foram os estrategas que não fizeram o seu trabalho ou se foi Jerónimo que se divorciou contra a sua vontade. Aposto mais na segunda hipótese e é por isso que aposto também que em 2022 vamos finalmente conhecer o sucessor de Jerónimo de Sousa.