1. A assombração marcou presença no final da primeira semana de campanha. José Sócrates não pediu licença a ninguém e entrou de rompante pelo ecrã da televisão. Foi uma boa aparição, porque nos recordou a última maioria absoluta do PS e uma campanha eleitoral em 2009 em que os socialistas, tal como agora, prometiam um futuro radioso antecipado por um aumento generoso aos funcionários públicos.
    Quem viu e ouviu José Sócrates na sexta-feira pôde verificar que o Ex-Primeiro-ministro socialista continua a mostrar-se muito satisfeito com o seu legado político. Mais, acha que o PS não chegará a lado nenhum enquanto não lhe reconhecer os méritos.
  2. Quem passa os olhos pela campanha eleitoral pode ficar com a ilusão de que o PAN está a caminhar para resultados brilhantes. Mentira, as sondagens colocam o partido dos animais no fim da tabela e com uma expetativa de reduzir a sua curta bancada no Parlamento. Pergunta-se, então, porque será que os outros partidos concorrentes às eleições decidiram fazer dos bichos de cada um o principal objeto das suas campanhas? Será que os portugueses não têm problemas que precisam de respostas? Julgarão os líderes políticos que é a passar-nos a mão pelo pêlo que caçam gato por lebre?
  3. Está tudo bem com a educação em Portugal? Deve estar, porque o tema está ausente da campanha. António Costa garante que agora é que vai ser, vai acabar com o sistema surrealista que leva a que milhares de alunos do ensino público continuem sem professores em disciplinas fundamentais quando estamos já a meio do ano letivo. Não há professores nas escolas, não há recuperação de aprendizagens depois de dois anos de pandemia, os alunos no ensino público custam cada vez mais dinheiro e aprendem cada vez menos, mas este não é um tema quando os políticos pedem o voto aos portugueses. Até parece que o nosso futuro não depende quase totalmente do que se fizer ou não fizer para melhorar a educação dos nossos filhos.
  4. Este país não é para velhos, mas também não é para novos. O inverno demográfico é o maior problema que o país enfrenta. A nossa incapacidade de garantir uma mudança de gerações equilibrada é a principal causa de quase todos os grandes problemas nacionais. Ainda há poucos dias, um estudo da Universidade Nova mostrava que em Portugal ter um filho é um fator determinante para que as famílias caiam em situação de pobreza. O problema é que se não temos filhos vamos mesmo ficar irremediavelmente pobres. Será que as campainhas de alarme não tocam nas sedes partidárias? A avaliar pelo silêncio na campanha eleitoral as campainhas só tocam para os bichos.
  5. A geração mais qualificada de sempre foi-se embora, ou está a fazer a mala. Soluções? Nem uma. António Costa acha que o problema se resolve com uma isenção temporária no IRS. O Primeiro-ministro não é da geração Erasmus, está visto. Um dos fatores que levou esta geração a ser qualificada foi a possibilidade de conhecer o mundo. E os nossos jovens qualificados olham para os programas partidários e confirmam que o melhor é confirmarem o check in que os leve daqui para fora, porque em Portugal os partidos esqueceram-se de os colocar na equação. Já por esse mundo fora outros políticos esfregam as mãos de contentes por poderem captar o talento que o país despreza.
  6. A reta final da campanha começa com o interessante tema da marcação da agenda de reuniões de António Costa. A julgar pelos convites, Costa terá um dia 31 de Janeiro bem recheado de reuniões. O problema é que Costa nesse dia não está interessado em reunir com ninguém e, à data de hoje, ninguém está interessado nas reuniões que os líderes querem ter com o ainda Primeiro-ministro.
  7. Bem sei que as campanhas eleitorais não são palco para discursos complicados, mas ao fim destes anos todos já sabemos distinguir entre conversa para boi dormir ou propostas realistas para resolver os problemas que realmente nos atormentam todos os dias. A ver vamos se a ausência de respostas para estes e outros problemas não vão levar muitos eleitores a preferir passear o cão, o gato ou o periquito em vez de irem votar.

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