Os sinais de desaceleração na Europa continuam a acentuar-se. Esta semana, dados da Alemanha mostram que as exportações diminuíram nos doze meses até setembro. Especialmente as que são dirigidas à China e aos Estados Unido reduziram mais de 10 por cento face aos doze meses anteriores.
Estes dados são sinal de um desafio estrutural mais profundo. Nas últimas décadas o modelo de crescimento europeu dependeu de energia barata associada à capacidade de exportação de bens, em particular na Alemanha. Mas os riscos associados a este modelo de crescimento são atualmente muito elevados. Os custos energéticos dispararam com a guerra na Ucrânia e deverão continuar altos devido à guerra de Israel. As taxas de juro elevadas vão exigir uma escolha mais criteriosa dos investimentos, e os retornos serão menores. O processo de globalização que se iniciou no final da segunda guerra mundial e beneficiou da integração no comércio mundial de países em desenvolvimento, especialmente a China e a Ásia, estagnou desde a última crise financeira.
A Europa encontra-se atualmente entalada entre dois modelos de crescimento muito diferentes. Por um lado, os Estados Unidos, que são uma economia muito flexível, com uma extraordinária capacidade de mobilização de recursos privados para projetos de investimento com retornos elevados. Isto ficou demonstrado pelo Inflation Reduction Act, que se antecipa consiga atrair entre 1 e 2 dólares por cada dólar de financiamento federal até 2030. Contudo, o valor do IRA em termos de apoios fiscais para o Estado, que inicialmente estava estimado em cerca de 400 mil milhões de dólares, poderá atingir o dobro. Por outro lado, a China, um país onde a economia depende de um capitalismo de Estado que financia áreas consideradas importantes do ponto de vista económico e geopolítico, incluindo as energias sustentáveis e a inteligência artificial.
Para fazer face a estes dois modelos, e sabendo que os serviços têm ganhado uma importância crescente na economia global, a Europa pode, com custos razoavelmente baixos e beneficiando da sua experiência de criação de um mercado único para os bens em 1993, acelerar o mercado único de serviços, especialmente financeiros e digitais. Com efeito, completar a União Bancária e a União de Mercados de Capital poderá ter um efeito relevante na capacidade de financiamento das empresas europeias. Já um verdadeiro mercado digital permitirá reduzir as assimetrias atuais no acesso à internet, que são geradoras de desigualdades entre países e regiões, e que limitam a capacidade de desenvolvimento de novas tecnologias.
Mark Twain terá dito: “A história não se repete, mas rima”.
Este é talvez o momento de olhar para experiência, com sucesso no passado, que permitiu à Europa acabar definitivamente com as limitações ao comércio de bens, e fazer o mesmo pelos serviços. Os resultados poderão ser tão ou mais positivos do que foram nessa altura.