No mar entre Nazaré e Peniche, há um robô norte-americano a recolher dados sobre correntes marítimas, ondulação ou condições atmosféricas e a comparar a informação que recolhe no oceano com aquela que é recolhida no satélite “Altika”. Veio da Liquid Robotics, a empresa de Silicon Valley, nos Estados Unidos, que esta quinta-feira venceu o concurso de inovação oceânica da The Economist, no âmbito do World Ocean Summit 2015.

Chama-se Waveglider e anda a navegar na zona costeira da Nazaré, Peniche e São Pedro de Moel há cerca de dois meses, como peça integrante do projeto europeu Turnkey. Objetivo: contribuir para reduzir as causas das alterações climáticas e proteger o ambiente costeiro e marinho. Enquanto navega, produz a sua própria energia, através do movimento das ondas e do sol.

“O seu objetivo inicial é recolher dados, o que parece vago, mas há tanta coisa que ainda precisamos de saber sobre o oceano e é tão difícil saber o que se está a passar nessa área”, adiantou ao Observador Roger Hine, um dos fundadores da empresa, acrescentando que espera que esta tecnologia abra “muitas oportunidades” no setor marítimo. O projeto português foi financiado pela União Europeia, adiantou.

A Liquid Robtoics nasceu no Havai, para ajudar uma organização não governamental (ONG) local a ouvir as baleias. “No inverno, quando se nada no Havai e se ouve as baleias, parece que elas estavam a falar umas com as outras. E a ONG queria trazer esta informação para o mundo, mas precisava de pôr uma espécie de microfone na água e não encontrava nenhum equipamento capaz de o fazer”, explica Roger Hine.

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A empresa nasceu em 2007. Roger Hine despediu-se do emprego anterior – uma empresa de Silicon Valley que operava no setor da robótica – para se dedicar a produzir um aparelho que funcionasse a partir da energia das ondas e conseguisse captar o som das baleias. “Sabíamos que se conseguíssemos fazer este aparelho, e colmatar esta necessidade, a tecnologia seria útil para outras coisas“, revela.

Desde então já foram produzidos 350 aparelhos, dos quais cerca de um terço –  através de parcerias com empresas como a francesa Schlumberger, que atua nos campos de petróleo, ou a norte-americana Boeing, da aviação – navegam nos oceanos a recolher múltiplos dados. Atualmente, a tecnologia da Liquid Robotics está presente em projetos em Espanha, Reino Unido, Austrália, Japão, Coreia do Sul ou Malásia.

Ao Ocean Innovation Challenge, o concurso de inovação promovido pela The Economist, concorreram mais de 60 projetos oriundos de 23 países. No hotel The Oitavos, em Cascais, três finalistas puderam apresentar os seus negócios ao painel de jurados, composto por Adam Andres, sócio do fundo de investimento Anterra Capital, Margot Kane, vice-presidente da Calvert Foundation (ONG que investe no bem-estar social) e Kelly Wachowicz, sócio da empresa de gestão de ativos Encourage Capital.

Além de Roger Hine, também Warwick Norman teve oportunidade de apresentar o RightShipprojeto focado em reduzir a emissão de gases com efeito de estufa – e Tony Long apresentou o Eyes on The Sea, para combater a pesca ilegal. Os finalistas foram escolhidos tendo em conta a escalabilidade do negócio, a fase em que o negócio e o protótipo se encontram e a forma como o projeto contribuiu para construir uma economia azul sustentável.