Habituámo-nos a pensar nelas como sinónimo de luxo e de riqueza material. Coisas que só se veem nas atrizes de Hollywood, nas modelos, na aristocracia endinheirada, como as exclusivíssimas it bags Birkin e Kelly da Hermès, ou as malas Louis Vuitton. Mas na verdade ambas nasceram em condições humildes e têm atrás de si uma história de trabalho árduo e luta pela sobrevivência.

1. Louis Vuitton

A sonoridade do nome põe logo qualquer fashionista em sentido. Veem-se de imediato as letras LV do histórico monograma criado no final do século XIX. Pouca gente liga a marca a um miserável rapaz que chega a Paris depois de passar dois anos a deambular sozinho pela França.

Louis nasce na província francesa, numa família pobre. A mãe morre-lhe aos 10 anos, aos 13 uma madrasta violenta fá-lo fugir de casa para não mais voltar. Durante dois anos caminha mais ou menos à deriva. Vive de esmolas e trabalhos ocasionais até chegar a Paris, aos 16 anos, onde se emprega como aprendiz de bagageiro e embalador. Neste tempo as malas não tinham a forma de um paralelepípedo como hoje conhecemos. Eram num formato mais ou menos cónico para facilitar o transporte em coches e o escorrimento da água das chuvas.

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Em 1854, Vuitton abre a sua primeira loja de malas que se orgulhava de ser “especialista em embalar os mais frágeis objetos” e, quatro anos depois, inventa as malas em forma de paralelepípedo feitas com uma tela dura mais resistente que a pele e que não libertava odores. Com elas ganha uma medalha na Exposição Universal de Paris, em 1867.

LOS ANGELES, CA - MARCH 29: Actress Chloe Sevigny (clutch detail) attends The Museum Of Contemporary Art, Los Angeles, Celebrates 35th Anniversary Gala Presented By Louis Vuitton at The Geffen Contemporary at MOCA on March 29, 2014 in Los Angeles, California. (Photo by Imeh Akpanudosen/Getty Images)

O monograma que se tornou sinónimo de milhões. Foto: Imeh Akpanudosen/Getty Images

A  chegada dos caminhos de ferro e dos navios fez aumentar o número de viajantes e a necessidade de malas. Aqui a invenção de Louis torna-se um verdadeiro ovo de colombo, pois as suas eram mais fáceis de transportar e arrumar nos porões.O negócio prospera. Mas a guerra franco-prussiana vai arruiná-lo outra vez.

Vuitton sobrevive reinventando as suas criações. Passa a fazê-las em bege com riscas vermelhas e abre uma loja (que ainda hoje existe) na rue de Saint Honoré, em Paris. A elite adora o novo aspecto sofisticado das malas e elege de novo Louis. O negócio prospera até hoje.

2. Hermès

Por que razão os lenços que associamos às senhoras ricas têm sempre o desenho de correntes, cavalos ou arreios? Porque os lenços da Hermès passaram a ser símbolo de estatuto social, gostos sofisticados e pessoas distintas. Porém, tudo começou… no fabrico de arreios para cavalos.

Tal como Louis Vuitton, Thierry Hermès viveu no tempo dos imperadores Napoleão II e III. É um rapaz descendente de alemães e trabalha fazendo arreios em pele para cavalos da nobreza. É neste trabalho manual e árduo que vai passar a fazer também selas e peças para coches. Diz-se que era tão bom no que fazia que o imperador passou a contar-se entre os seus clientes.

Só em 1922, quase um século depois de Thierry ter criado a marca, é que a Hermès se lança também no fabrico de malas. E só nos anos 40 passa a ter também os famosos lenços e perfumes.

As malas Birkin da Hermes (SAM YEH/AFP/Getty Images)

As malas Birkin da Hermès podem custar entre 9.500 e 135 mil euros. Foto: Sam Yeh/AFP/Getty Images

Apesar de se ter tornado uma máquina de fazer objetos de desejo, a griffe nunca mudou o logótipo nem os tipos gráficos, e esta ligação à ancestralidade é, dizem os especialistas, um dos principais trunfos da marca que é hoje um dos paradigmas do luxo.

3. Cat(erpillar)

Apesar da origem da marca estar associada a dois fabricantes de tratores agrícolas na Califórnia do século XIX, as botas Caterpillar só apareceram nos anos 20 do século passado e eram feitas para os trabalhadores ligados à construção civil nas grandes metrópoles americanas. Eram as chamadas safety boots ou botas de segurança, feitas para escalar andaimes e conduzir gruas. Ainda hoje o lema da marca (que é sobretudo império mundial de fabrico e venda de máquinas) é “Forged by work, Driven by Life.”

Nos anos 90 o grunge trouxe-as para o mundo da moda, de onde nunca mais saíram.

O modelo "colorado" é o clássico e o mais vendido desde os anos 90 do século XX (www.catfootwear.com)

O modelo Colorado é o clássico e o mais vendido desde os anos 90 do século XX. Foto: www.catfootwear.com

4. Hunter

Não, as famosas botas de borracha não nasceram da lama dos festivais de música de Glastonbury. Nasceram pelas mãos de um fabricante de borracha americano que se estabeleceu na Escócia e fundou a North British Rubber Co, Henry Lee Norris, no remoto ano de 1856.

Norris utilizava uma forma inovadora de trabalhar a borracha que aplicava no fabrico de vários objetos, entre eles botas para os difíceis terrenos da Grã Bretanha.

A modelo Kate Moss no famoso festival de música de Glastonbury (/www.hunterboots.com/

A modelo Kate Moss no famoso festival de música de Glastonbury. Foto: www.hunterboots.com

Na I Guerra Mundial o exército britânico pede botas Hunter para combater nas sangrentas trincheiras de França e é então criado um modelo de galochas próximo do que hoje reconhecemos. Esse modelo, porém, será criado apenas em 1956, quando se adaptam as botas de guerra a botas de trabalho.

Quando as vemos a compôr os visuais de modelos e estrelas da música pop jamais pensaríamos que tudo começou na guerra.

5. Palladium

As botas Palladium têm uma história semelhante às Hunter, embora neste momento não tenham a mesma projeção mediática, nem o mesmo estatuto de ícone.

A marca francesa começa por estar ligada ao fabrico de pneus para aviões nos primeiros anos do século XX, na cidade de Lyon. Porém, é durante a II Guerra Mundial que vai começar a fabricar as suas famosas Pampa para serem usadas pela Legião Francesa. Mais uma vez a ideia é fazer um calçado hiper-resistente a situações extremas.

Serão depois adotadas por exploradores, aventureiros e adeptos de desportos radicais.

A sua entrada para o mundo da moda faz-se também pela mãos das bandas grunge dos anos 90 e hoje as Palladium multiplicam-se em tons e cores.

As botas da Legião Estrangeira adaptadas ao verão de 2015

As botas da Legião Francesa adaptadas ao verão de 2015. Foto: Facebook Palladium Boots