Quando ouvimos falar em tecnologia de ponta, realidade aumentada, algoritmos ou 3D, rapidamente imaginamos um laboratório em Silicon Valley com geeks a tentar resolver a última equação matemática que irá permitir lançar um foguetão de baixo peso no espaço (ou qualquer outro objeto não muito próximo da realidade). O fato é que a tecnologia é, sobretudo, uma alavanca preciosa para o desenvolvimento de produtos e serviços noutras áreas que, muitas vezes, permanecem separadas das tendências tecnológicas.

A oferta destas seis startups, vocacionada para a agricultura, recursos líquidos, indústria de extração de gás e petróleo, energia e educação, permite que estes setores beneficiem da tecnologia para melhorar todos os seus processos. O espírito visionário e a capacidade de criar soluções inovadoras para problemas detetados nestes setores são traços comuns a estas startups, recentemente integradas na iniciativa Ativar Portugal Startups, promovida pela Microsoft Portugal, que também já lhes tirou o chapéu à sua missão.

O setor agrícola já foi convertido…

Comecemos pelo primeiro setor, em particular a agricultura, que está no radar da Agroop – New Impetus desde a sua fundação em 2014, na vila de Óbidos. É possível criar soluções tecnológicas disruptivas para esta atividade milenar? A Agroop diz que sim, claro.

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Uma dessas soluções é a Agroop Operational, uma aplicação de gestão operacional agrícola destinada a todos os agricultores que procurem uma forma eficiente de gerir o negócio, monitorizar a exploração, escoar produtos e consultar custos de produção, entre outras funcionalidades. Destaca-se também a assistência agrícola online, dada por um engenheiro agrónomo e por parceiros especializados. Por esta altura, já estamos convertidos.

Além disso, a equipa de 14 pessoas está a trabalhar no lançamento, a curto prazo, de novas funcionalidades nesta aplicação, disponível para smartphone e tablet, e em cinco novas soluções tecnológicas – todas para inovar, uma vez mais, no setor agrícola.

A startup não é só apetecível para os gestores agrícolas. Também o é para o ecossistema nacional e internacional: foi finalista dos UP Awards 2015, finalista dos Prémios de Inovação da NOS, alcançou o terceiro lugar nos Prémios de Inovação da EDP 2015 e foi a primeira empresa portuguesa a conseguir financiamento na plataforma de crowdfunding internacional Seedrs.

Recentemente, lançou a segunda campanha de financiamento nesta plataforma, na qual qualquer cidadão se pode tornar acionista da startup mediante um contributo financeiro. O objetivo é angariar 75 mil Euros até Junho de 2016. Pelos últimos dados, a campanha parece estar a seduzir cá dentro e lá fora.

… e as indústrias de extração de petróleo também

Não é do conhecimento geral as dificuldades que as indústrias de extração de petróleo e gás enfrentam nos seus processos, mas a Abyssal – Vision in Depth fez literalmente uma análise em profundidade do setor e desenvolveu sistemas de navegação para veículos submarinos operados remotamente (mais conhecidos por ROVs) para responder a uma necessidade bem grande.

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JOÃO ABREU MIRANDA

Estes sistemas de operação usam as tecnologias mais avançadas, como 3D, realidade aumentada e navegação precisa, tornando mais segura, fiável e eficiente a monitorização de operações oceânicas. Estas podem, agora, ser feitas a partir de qualquer local, em qualquer altura ou mesmo em tempo real. Tão simples como telecomandar um brinquedo.

Esta “visão em profundidade” é da responsabilidade de um antigo aluno da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e a equipa Venture Catalysts, que investe em projetos de elevada componente científica e tecnológica.

A aposta, já ganha, tem de momento duas frentes: a abyssalOS Offshore, um sistema que fornece aos pilotos e supervisores panorâmicas em 3D de todo o ambiente que rodeia a operação, suportadas por informação rigorosa através de realidade aumentada, isto é, atuam como um segundo olhar perfeiro; e a abyssalOS Command Center, um centro de comando, próprio dos melhores filmes de ficção científica, que permite a concretização de operações em tempo real, em qualquer local.

A equipa visionária de 20 especialistas não quer ficar por aqui e encontra-se já a trabalhar em três novas soluções para o mesmo setor.

Uma startup com boa casta

Da agricultura, do petróleo e do gás, passamos para outra área cuja relação com a tecnologia parece ainda ser mais improvável. Na verdade, é perfeita.

A startup Watgrid desenvolve produtos e soluções para monitorizar a qualidade e quantidade dos recursos líquidos, em tempo real e de forma remota. O seu portfolio estende-se já aos setores da água, petróleo e vinho, mas é nesta última área que o seu know-how tem sido mais mediatizado.

Chama-se Winegrid e é um sistema que monitoriza parâmetros-chave durante a produção do vinho, com análise de dados em tempo real, reduzindo os custos do processo e otimizando a sua eficiência. As regiões vinícolas mais importantes de Portugal, como o Douro e a Bairrada, ou as de Bordeaux e Champagne, em França, já se converteram a esta solução.

Façamos também um brinde aos prémios que reforçam o sucesso que esta startup de Aveiro, fundada em 2014, já alcançou em apenas dois anos: venceu a quarta edição do prémio MIT-ISCTE (uma competição internacional co-organizada entre o MIT e o ISCTE), o concurso de startups 33 entrepreneurs, em Bordeaux, França, e foi eleita uma das quatro startups a acompanhar em 2014 pelo SapoTek. De boas castas, portanto.

Quando a inovação chega à conta da luz

O gasto energético preocupa qualquer consumidor, principalmente nos primeiros dias do mês. Preocupada com a eficiência energética e os graus de ansiedade de quem tem de a pagar, a Watt-IS – Watt Intelligent Solutions eleva o watt, medida de energia, a uma dimensão mais eficiente e racional.

Esta startup, fundada em 2012 e sediada em Torres Vedras, conta com sete colaboradores para desenvolverem soluções que traduzam dados complexos de consumo energético para visualizações e medições inteligentes e simples. O que significa isto trocado em watts? Significa que o consumidor fica a perceber, por exemplo, quando e como os seus eletrodomésticos são usados, permitindo-lhe considerar um uso mais racional da energia.

Os serviços que a startup fornece têm como objetivo aquilo a que se pode chamar de “literacia energética”: um melhor conhecimento das questões-chave e a capacidade de compreender as leituras e as faturas para um maior poder de decisão. Estas soluções estão disponíveis aos fornecedores de energia, que podem usá-las com uma importante ferramenta de marketing para os seus clientes, mas os próprios consumidores finais podem aceder ao site da startup para conhecer outras dicas úteis.

Sabia, por exemplo, que usar uma extensão de tomada com botão “on” ou “off” em determinados equipamentos, como a televisão ou o computador, permite-lhe poupar até 30 Euros por ano? Faça “on” a esta startup.

O bê-á-bá do futuro

Quando se trata do contexto profissional, a educação é outra. Queremos uma oferta formativa adequada às exigências do mercado, aos nossos horários de trabalho, ao nosso ritmo e disposição.

Neste campo, há duas startups portuguesas que já perceberam qual é o bê-á-bá do futuro: a Eduke.me e a Learning Hubz. Une-as a capacidade de antecipar necessidades e uma oferta “tailor-made”, adequada às necessidades dos formandos em contexto profissional.

A lisboeta Eduke.me, fundada em 2014, assume-se como uma academia digital que disponibiliza a qualquer organização uma plataforma web ou mobile com uma oferta de cursos que podem ser adequados ao perfil e ritmo dos formandos, bem como aos objetivos das empresas. Isto quer dizer que todos os conteúdos são disponibilizados online, com uma forte presença do vídeo, e o formando pode aprender, passo a passo, ao seu ritmo, obtendo, no final, um certificado mediante a avaliação do seu conhecimento em testes online.

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A qualidade dos cursos resulta de parcerias com especialistas e universidades portuguesas, como o ISCTE, e os conteúdos respondem a algumas das “one million dollar questions”. Comunicar com Marketing Digital, Criação e Gestão de presenças nas Redes Sociais, Adquirir Clientes com Google Adwords e Facebook Ads e Ser Encontrado com SEO são alguns exemplos.

Partilhando o mesmo conceito e desafios, a Learning Hubz, a atuar desde outubro de 2014 a partir de Lisboa para todos os centros empresariais do país, foca-se na oferta de conteúdos nas áreas de gestão empresarial. Move-a a noção de que a oferta de formação nas empresas é, em geral, desadequada dos desafios, esporádica, existente apenas em conceito de sala de aula e muito dispendiosa.

Esta startup permite, assim, que qualquer empresa tenha uma área, alojada numa cloud, com os melhores cursos e short videos online, selecionados ou preparados de raiz para responder às necessidades específicas dos seus colaboradores. A Learning Hubz foi selecionada em fevereiro de 2015 para integrar a maior incubadora de Lisboa – a Startup Lisboa, e juntou-se ao programa Microsoft BizSpartTM.

No final, é fácil traduzir a atuação destas seis startups numa simples operação matemática (quiçá, protetora da próxima lei da visão tecnológica): detetar uma necessidade do mercado + apresentar soluções inovadoras e concretizáveis = startups de sucesso.