Decorreu na última semana de julho, em Chicago (EUA), a cimeira anual da Sage, um encontro anunciado como “o maior evento mundial de empreendedorismo.” As palavras são de Stephen Kelly, o diretor executivo da empresa de software de gestão e contabilidade, líder mundial no mercado das pequenas e médias empresas (PME), com mais de 6 milhões de clientes em todo o mundo – em Portugal são 100 mil, geridos por uma rede de 1.500 parceiros.

A Sage Summit de Chicago foi um evento gigantesco, que reuniu no McCormick Place cerca de 15 mil participantes, entre quadros da empresa, parceiros, clientes e potenciais clientes, sensivelmente o dobro da primeira reunião mundial realizada há um ano, em Nova Orleães. Foi uma cimeira que que teve uma ambição superior ao número de pessoas, faz parte de um plano maior que é a mudança global da estratégia tecnológica: a transição para a cloud (que podemos designar em português por “nuvem”, que significa o armazenamento remoto de informação).

Atualmente, a esmagadora maioria das PME utiliza o mesmo sistema desde há mais de duas décadas: computadores convencionais que correm o software de gestão para processar e guardar informação. É precisamente este o modelo que a Sage quer alterar, passando a albergar tudo na “nuvem”. Parece uma coisa simples, mas basta pensar nos milhões de clientes para compreender que é um processo de grande envergadura, quer no investimento (182 milhões de dólares só no último ano fiscal), quer no tempo que vai ser preciso para completar esta transição, que se prevê longo. Isto porque a Sage tem por lema “Clientes para a vida” e promete que não vai deixar de dar suporte a todos os produtos que tem em funcionamento, dure o tempo que durar.

Esta alteração vai além da tecnologia — é a mentalidade que vai ter de mudar, porque muitos pequenos empresários ainda não compreendem o que é a cloud ou, se sabem o que é, têm receios (legítimos) que nem sempre são fáceis de contrapor. Para que essa transição aconteça, é fundamental começar por explicar aos parceiros da Sage qual é o caminho que a empresa está a seguir e porque é que este passo é inevitável.

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Os “parceiros” são empresas que fazem a ponte entre a Sage (que produz o software) e um leque muito variado de clientes, que vão do escritório de advogados ao restaurante e ao quiosque de jornais, por exemplo. São estes intermediários quem melhor conhece a realidade das PME de cada país e, por isso, a Sage Summit foi feita para eles.

Estiveram em Chicago uma dúzia de parceiros portugueses, para conhecer e compreender a orientação da Sage, para ter o primeiro contacto com novos produtos e empresas (são muitas as que desenvolvem aplicações que se podem ligar ao software de gestão), para trocar ideias e, muito importante, para aprender – decorreram na Sage Summit dezenas de conferências sobre tecnologia e empreendedorismo.

Falamos com Carlos Barros, João Marçal e Jaime Miguel Lopes, para saber de que forma os parceiros encaram esta mudança, quais as suas expectativas e receios; e com Ana Teresa Ribeiro, responsável pelas PME da Sage Portugal, que nos deixou o ponto de vista da empresa e a perspetiva de futuro das novas soluções.

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Esta mudança de paradigma tecnológico segue a tendência global. Os negócios têm de estar onde as pessoas hoje estão: nos dispositivos móveis e nas redes sociais. É para aí que a Sage aponta as baterias, criando soluções mais atraentes para as novas gerações de empresários, que já “nasceram” com um smartphone no bolso, sem esquecer os clientes mais antigos, que apreciam a “segurança” do negócio fora da rede. Convencê-los a mudar vai ser, é de prever, um processo mais ou menos demorado.

Para Klaus-Michael Vogelberg, diretor da área tecnológica e membro do comité executivo da Sage, esta mudança é uma “transformação inspiradora” e não acha que, no geral, as pessoas ofereçam resistência à cloud. Parte do papel da Sage é o de desconstruir mitos e tornar a tecnologia mais humanizada e compreensível.

Na entrevista que deu ao Observador, fez a seguinte analogia: “Olho para a Sage como se de um banco se tratasse. A moeda, aqui, são os dados [dos clientes].” Sempre assim foi, mas esta tendência tecnológica exige mais responsabilidade. Por isso “a informação gerada pelo X3 [um dos produtos da Sage] é alojada na Alemanha, porque é o país que tem os requisitos e as condições que a empresa entende serem as mais adequadas para manter os dados seguros.”

Depois, uma questão que chama de filosófica ou de princípio: Klaus-Michael Vogelberg considera que os dados dos clientes estão mais seguros na “nuvem” do que nas máquinas instaladas no escritório ou na loja. Isto porque os principais serviços de cloud têm redundância, sistemas de encriptação e proteção contra ciberataques – a Sage trabalha com grandes empresas que prestam serviços de alojamento remoto, tais como a Amazon e a Microsoft.

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Portugal é um país onde há mais telemóveis do que pessoas. Embora isso não seja sinónimo de literacia tecnológica (28% dos portugueses nunca usaram a Internet, dados deste ano da ANACOM), é inegável que vivemos num país de early adopters, pessoas que se atiram sem medo para as novas tecnologias. Em Espanha também é assim, como nos contou Luis Pardo Céspedes, o responsável da Sage Iberia (uma das recém-criadas “sub-regiões” da Sage). O também vice-presidente executivo da empresa considera que atravessamos momentos entusiasmantes, porque a revolução digital, por ser global, “é a maior [revolução] de sempre.”

Luis Pardo vê neste novo caminho “um mar de oportunidades”, porque à semelhança de Espanha, em Portugal só 15% das empresas é que usam a cloud. Entende que as PME “precisam de acelerar”, porque quanto mais depressa fizerem esta transição, mais depressa vão recolher o melhor que estas tecnologias têm para oferecer. E por “estas tecnologias”, entenda-se a mobilidade, que é onde estão os millennials, que tomam agora as rédeas dos negócios, e “as empresas têm de estar onde estão os clientes”, disse-nos.

O boom de novas empresas (startups) e a retoma económica, apesar de lenta, justificam que cerca de 50% das vendas da Sage em Portugal e Espanha sejam já soluções baseadas na cloud. Mas Luis Pardo sabe que a Sage tem de vender não uma mas duas coisas: produtos e uma nova mentalidade. E querem ajudar “os heróis da economia” a seguir em frente porque, segundo nos disse, as PME – que representam a grande maioria das empresas em Portugal e Espanha – não estão, como deviam, dentro das agendas políticas destes países.

A inovação tecnológica é, por isso, o caminho a seguir, até porque “90% do dinheiro investido nas tecnologias de informação, em 2020, será nos serviços de cloud.” Para Luis Pardo, não há volta a dar, mas tal como o diretor executivo Stephen Kelly, o responsável ibérico reforça que, embora a mudança seja inevitável, a Sage não quer nem vai forçar os clientes a mudar da solução tradicional para a “nuvem”.

Nesta entrevista, pedimos ainda a Luis Pardo que nos explicasse qual a importância desta cimeira para a Sage. Mas a resposta foi outra.

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Luis Pardo tem razão no que diz: este evento é para os seus clientes e parceiros, foi para eles que foi montada esta gigantesca manobra de marketing (no bom sentido). A mensagem motivacional foi uma constante, bem como o uso da palavra “inovação”, que o diretor da área tecnológica, Klaus-Michael Vogelberg, define como ponto de partida (tecnológico) da Sage: “inovação é fazer coisas que nunca foram pensadas antes, e isso não se pode planear. Mas podem ser criadas as condições para que isso aconteça.”

Para o ilustrar, reservaram os painéis das três manhãs do evento (as famosas keynotes bem ao jeito norte-americano) para trazer a Chicago algumas celebridades. O empresário britânico Richard Branson, fundador do grupo Virgin, foi o cabeça de cartaz, mas houve outros nomes sonantes: as atrizes Gwyneth Paltrow (que fundou a Goop) e Zooey Deschanel (cofundadora da HelloGiggles), o ator Ashton Kutcher (investidor de empresas como a Uber, Airbnb e Spotify) e Yancey Strickler, cofundador e CEO da Kickstarter.

A notoriedade (e o dinheiro) dão uma grande ajuda nestas coisas dos negócios, mas o mais importante foi a mensagem que estes convidados ali deixaram: o sucesso constrói-se com novas ideias, muito trabalho e sabendo escolher os parceiros certos. É também por isso que a Sage empreende este esforço à escala global, apenas superado pela ambição de se tornar numa das maiores empresas tecnológicas do mundo.

O Observador esteve presente na Sage Summit a convite da Sage