Uma escola sem professores, sem exames, onde os alunos podem ter a chave da sala e escolher o que querem aprender. E onde podem ser formados pelos melhores profissionais da área do design digital, dentro do Mercado Municipal de Matosinhos. É no recém-criado espaço de cowork Quadra – Incubadora de Design, a uns passos das bancas do peixe, que abre portas, em janeiro, a The New Digital School (A Nova Escola Digital), uma escola de design web com esperança de quebrar o paradigma do “ensino fechado” em Portugal.

Uma desconstrução quase completa daquilo que se conhece como sala de aula. Tiago Pedras, fundador da escola, não recusa o termo “anarquia”, refere ao Observador. Ordem, aliás, é coisa que parece escassear num mercado tão movimentado como o de Matosinhos. Muitos compradores, outros tantos vendedores e uma certa anarquia. Saudável para quem a conhece. Organizada para quem olhar bem.

“Mas é necessária uma desconstrução daquilo que é o programa fechado de uma escola. Os alunos precisam de estar ligados às pessoas da área e ao mundo real. Quando falo sobre como fazer orçamentos, como gerir clientes, como vender – aquelas coisas que nunca aprendemos na escola – não há ninguém a dormir na aula”, conta Tiago, também professor na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), em Matosinhos.

Foi da experiência de quase dez anos como professor, que Tiago, 32 anos, ficou consciente daquilo a que chama as “limitações do ensino superior na área da web”. Decidiu fundar a sua própria escola baseada “no ensino feito para aprender, não para ensinar”. Num curso destinado a um máximo de 25 alunos, estes escolhem aquilo que querem aprender dentro da área do design digital, com vista à especialização e conhecendo, pelos próprios profissionais da área, as exigências do mercado.

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“Aqui a figura central não é o professor, mas o aluno. Como não há dois alunos iguais, o programa não pode ser estático”, diz.

Na New Digital School, não há professores, mas sim mentores e profissionais de empresas de tecnologia convidados a dar workshops. Mentores estes que estão inseridos no mercado de trabalho, que acompanham e evoluem com ele (muitos que o fazem evoluir). Spotify, Vox Media e Shopify são algumas das empresas que figuram no quadro de formadores, ainda em atualização. “É este tipo de coisas que faltam nos professores das faculdades, experiência de campo e contacto com a realidade”, acredita Tiago.

O objetivo é passar para os alunos o know-how de profissionais como Stanley Wood, Diretor de Design do Spotify, Gregg Bernstein, Senior User Researcher da Vox Media, e Vitaly Friedman, fundador da Smashing Magazine. Haverá sessões com mentores e o curso termina com o desenvolvimento de um projeto.

“Pretende-se que os projetos sejam os mais reais possíveis, não que sejam inventados. E aí as empresas que são nossas parceiras podem pedir aos alunos pequenos projetos. Os alunos fazem uma coisa real e a escola torna-se um laboratório para as empresas medirem o potencial destes criativos”, descreve o fundador da escola.

Os alunos passam a potenciais empregados e as empresas a potenciais empregadores: com esta ligação à indústria, a escola quer facilitar o contacto entre quem procura trabalho e as empresas. “Neste ramo há duas questões muito presentes: ou a empresa procura um criativo e não o encontra, ou contrata-o mas depois tem que o formar”, explica Tiago. A escola que fundou pretende servir os dois papéis.

The New Digital School está, por isso, no frenesim industrial do porto de Leixões, a poucos minutos de transporte do centro do Porto e num espaço que Tiago Pedras diz ser “um local privilegiado de contactos.” As empresas entram e saem, quer do porto, quer da zona industrial de Matosinhos e Tiago quer fazer com que estes empresários entrem também pelas portas da escola.

Também não há horário mas sim calendário. A ideia é que todos os alunos tenham uma chave da sala de aula, para que possam “trabalhar de forma livre e não estar condicionado pelos horários das aulas.” Apenas existe o horário do mercado, por isso as portas abrem às 5h da manhã, mal o peixe começa a chegar à doca. Ainda há tempo para workshops de culinária e aulas de surf que pretendem “despoletar a criatividade”, nas palavras de Tiago. Os cursos têm duração de 10 meses.

Da Suécia para o Porto: a escola internacional sem aulas

Há 20 anos, surgiu na Suécia a Hyper Island, uma escola criativa de negócios conhecida como a “escola sem aulas”, em que os alunos exploram novas formas de aprendizagem em contacto com o “mundo real.” Uma realidade mais familiar agora que Tiago Pedras importou o conceito para Portugal.

Porquê no Porto? Apesar de ter recebido propostas para levar a escola para a capital, Tiago idealizou uma escola que encaixava na cidade nortenha: “O Porto está muito forte. Vive e cresce com o turismo e tem inúmeras potencialidades que as empresas podem explorar. Além disso, é uma cidade muito acessível economicamente para quem vem para cá viver.” Isto porque a escola conta ter um público maioritariamente internacional.

“Há muitos mais interessados de fora. Muitos que reconhecem o potencial de escolas como a Hyper Island, de onde sai muita gente para o Spotify, por exemplo”, reforça Tiago. Para quem vem de fora, as propinas são de 5500 euros pelo curso completo. Para portugueses, fixam-se nos 4500 euros, ou em mensalidades de 450 euros.

As candidaturas terminam a 1 de Dezembro, para que os alunos possam começar a meio de Janeiro, uma vez que, ao contrário do horário escolar institucionalizado, The New Digital School segue o calendário civil. Normalizar não é coisa que lhes diga respeito.