Virgolino António de Jesus, pai de Jorge Jesus, faleceu esta sexta-feira aos 92 anos, vítima de doença prolongada. Também ele tinha sido jogador e alinhou no Sporting, fazendo parte dos plantéis de 1943/44 e 1944/45 ao lado de Peyroteo, Jesus Correia e Albano, entre outros. O corpo será levado hoje ao final da tarde para a Igreja da Falagueira, onde se realizará o velório. O funeral será este sábado, no cemitério da Amadora.

O treinador do Sporting tinha uma ligação muito próxima com Virgolino, como se percebeu, entre outros momentos, no dia em que foi apresentado em Alvalade a 1 de julho de 2015, cumprindo o sonho do pai de orientar os leões (que não marcou presença, por estar numa casa de repouso): no momento em que passaram nos vídeo screens do estádio as imagens do abraço ao progenitor, numa altura em que estava no Estrela da Amadora, não conseguiu evitar as lágrimas. Em 2007, Jorge Jesus perdera a mãe, Maria Elisa, tendo respeitado o luto durante muito tempo.

Virgolino de Jesus também foi jogador do Sporting, na década de 40. Chegou aos leões, o seu clube de sempre, em 1943, num ano em que Joseph Szabo – o treinador com maior longevidade no conjunto verde e branco – começou a mexer um pouco na estrutura da equipa, com as entradas de Albano (que custou 20 contos, vindo do Seixal, de onde chegou também o irmão Narciso) ou Jesus Correia (ex-Paço de Arcos). Começava assim a ser desenhada aquela que ficaria conhecida como a equipa dos Cinco Violinos.

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Apesar do terceiro lugar no Campeonato de Lisboa, os leões sagraram-se campeões nacionais nessa temporada, com mais cinco pontos em 18 jogos do que o rival Benfica (a vitória ainda valia dois pontos). Tapado por Cruz, Peyroteo, Albano, António Marques e Mourão, alinhou em oito jogos do Campeonato de Lisboa. E marcou logo no primeiro: a 26 de setembro de 1943, numa vitória por 4-3 frente ao Atlético na Tapadinha, após assistência de Armando Marques, fazendo na altura o 3-3. Armando Marques, Albano e Peyroteo apontaram os restantes golos num encontro marcante para Virgolino. Foi também titular no jogo seguinte, no Stadium de Lisboa, frente ao rival Benfica, que acabou com um empate a duas bolas (bis de Peyroteo).

Na temporada seguinte, em que os leões venceram o Campeonato de Lisboa, a Taça de Portugal (1-0 ao Olhanense) e ficaram em segundo no Campeonato Nacional, fez apenas dois jogos, antes de baixar às reservas. Tinha técnica, era habilidoso, mas a fisionomia franzina não ajudava. Além do quinteto avançado de sonho, faziam parte da equipa Azevedo, um dos melhores guarda-redes da história dos leões, Álvaro Cardoso, Canário, Manecas ou Veríssimo.

O pai, que começou a ser conhecido como Bom Sucesso, pequeno clube onde alinhou, foi a grande influência para o sportinguismo de Jorge Jesus, tendo feito o atual treinador dos leões sócio logo aos 13 anos (também ele era associado, com o número 1.017). Tem o número 3.289, que recuperou quando trocou a Luz por Alvalade no Verão de 2015. E houve outro ponto em comum entre ambos, além do sportinguismo e das épocas no plantel dos leões: trabalharam na mesma empresa de cabos eléctricos, onde Jorge foi aprendiz de soldador. Virgolino terá jogado noutros clubes, como o V. Setúbal ou o Linda-a-Velha. E deixou que, por volta dos 15 anos, Jorge escolhesse entre o trabalho (durante o dia), os estudos (à noite) e o futebol (ao final da tarde). Optou pelo último, com o sucesso hoje reconhecido como jogador e treinador.

Já antes, quando conquistou o primeiro de dez títulos pelo Benfica, a Taça da Liga em março de 2010 (FC Porto, 3-0), o técnico emocionou-se no final do encontro quando dedicou o triunfo ao pai.

Quando assinou pelo Sporting, Jorge Jesus cumpriu o desejo do pai, com quem estava sempre que podia, todas as semanas. Agora, aos 62 anos, tentará escrever o resto da história: ser campeão pelos leões. Como Virgolino foi.

“Hoje é um dia triste para toda a Família Sportinguista: Virgolino de Jesus, pai do nosso ‘mister’ Jorge Jesus, antigo atleta do Sporting Clube de Portugal, onde partilhou os relvados com os Cinco Violinos, e sócio número 1.017, faleceu esta manhã. É mais um grande Leão que nos deixa fisicamente, mas cuja memória perdurará para sempre na nossa história. Não há, nunca, palavras para descrever o sentimento de perda de um pai. Por isso, o Sporting curva-se perante a memória de Virgolino de Jesus, que será eterna, e a Jorge Jesus manifesta a sua mais profunda solidariedade e as mais sentidas condolências“, escreveu o Sporting no seu site oficial.

“Hoje o Sporting Clube de Portugal está de luto. Partiu mais um dos nossos. Virgolino de Jesus, pai do nosso mister Jorge Jesus, deixou-nos, mas apenas fisicamente. Esteja onde estiver, a sua memória de Leão vai perdurar para sempre, pelo seu Esforço, Dedicação e Devoção ao Clube a quem deu tudo como sócio e como atleta da equipa principal em que jogou com os 5 Violinos. Ao Jorge, meu mister e, sobretudo, meu amigo, quero dizer-lhe que, como sempre, estamos juntos! Ao Jorge, e a toda a sua família, quero dar um forte abraço solidário e dizer-lhes que tudo faremos para honrar a memória de Virgolino de Jesus, contribuindo para o concretizar de um sonho que era dele mas também de todos os Sportinguistas“, comentou o presidente leonino, Bruno de Carvalho.

Também o Benfica endereçou as condolências ao técnico. “O Sport Lisboa e Benfica endereça as mais sentidas condolências a Jorge Jesus, pelo falecimento de seu pai, Virgolino, aos 92 anos. Neste momento difícil, fica para sempre na memória o homem e o atleta que honrou as cores do Sporting Clube de Portugal e de outros clubes”, destacou no site oficial do clube.