Agora é mesmo a sério: Teresa Leal Coelho é a candidata do PSD à Câmara Municipal de Lisboa. Optando (erradamente) por não apoiar Assunção Cristas, sem nomes fortes para apresentar, com Fernando Seara desaparecido e engolidas as várias recusas por parte de independentes, Teresa Leal Coelho sobrou no PSD como a escolha possível. E não vale a pena florear a situação: esta escolha simboliza uma desistência. Sem qualquer hipótese de disputar a vitória com Fernando Medina e com algum risco de ficar abaixo do CDS, o objectivo de Teresa Leal Coelho é apenas não cortar a meta em terceiro. A ambição fala por si.

Teresa Leal Coelho tem méritos políticos, combatividade e carácter. Só que nenhum dos seus atributos nem nada no seu perfil de vereadora recomendaria a sua escolha. Não fosse o vazio de alternativas, não seria ela a candidata. Ora, o enfoque deve estar aí: no vazio que forçou a sua candidatura – entre notáveis do partido e independentes, meio mundo rejeitou o PSD. Porquê? Duas explicações evidentes: porque, ao recusar Cristas, o PSD desistiu de Lisboa (e das autárquicas); e porque, sem autárquicas, sem discurso e sem um projecto comum para derrotar a geringonça, o país desistiu de admitir PSD-CDS como alternativa.

O primeiro sinal de resignação está na inviabilidade de uma candidatura conjunta PSD-CDS em Lisboa. Não vou voltar aos argumentos que, desde o início, me pareceram óbvios: a única opção estratégica que fazia sentido para os interesses do PSD era apoiar a candidatura da líder do CDS. Escrevi-o em Setembro, quando Assunção Cristas anunciou que avançaria: “se a direita não é capaz de se entender para tirar Fernando Medina da CML, então terá tremendas dificuldades em convencer o país de que é capaz de se organizar para derrotar António Costa”. A escolha de Teresa Leal Coelho só veio confirmar que o PSD não percebeu o que está em causa – ou que, percebendo, desistiu de ir a jogo. Com a inevitável derrota em Lisboa, à qual se juntará outra derrota no Porto e um prognóstico cinzento no resto do país, o PSD pôs-se a jeito para que qualquer leitura nacional a sair das eleições autárquicas fortaleça a geringonça de PS-PCP-BE e prolongue a sua esperança de vida.

Acresce que PSD e CDS não parecem ter assimilado as lições das últimas eleições legislativas: se a esquerda consegue entendimentos e constitui uma maioria parlamentar, a direita não pode permanecer um palco de desentendimentos e ter dois partidos a remar em direcções diferentes. A alternância de poder deixou de ser um dado adquirido e o regresso de PSD e CDS a São Bento depende de uma maioria absoluta a dois. Como tal, a actual descoordenação política entre as lideranças de PSD e CDS é um erro de palmatória. E a troca de acusações através da comunicação social – seja a propósito das negociações em Lisboa ou do que se discutia nos Conselhos de Ministros no anterior governo – rasa mesmo o amadorismo.

Tornou-se, entretanto, evidente que a descoordenação está à superfície de um problema mais profundo: PSD e CDS não têm um discurso para o país que os eleve a alternativa. Para além da defesa do património político do governo 2011-2015, ninguém sabe quais as suas bandeiras, que visão desenharam para o país, que políticas públicas concretas defendem. Nada de novo, reconheça-se. A direita partidária há muitos anos que deixou de ter um projecto político com identidade e, no lugar, aceitou calçar as luvas de bombeiro do regime. Só intervém para apagar os incêndios nas contas públicas e, nos intervalos, vai apontando o dedo aos pirómanos. Foi assim após o pântano de Guterres e a bancarrota de Sócrates. É assim hoje – e isso não chega.

Sim, Passos tem razão nos seus alertas – mas já ninguém o ouve. E, sim, Assunção faz tudo para ser ouvida – mesmo que por vezes perca a razão. Acontece que a soma dos dois já não é suficiente. E é agora que tudo se joga: se não construírem um projecto comum, PSD-CDS não vão apenas perder – vão desistir de ganhar.

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