A final começou por não ter nada de sueco. Durante 25 minutos, as oportunidades de golo só piscaram o olho às alemãs – aos 14 e 25 minutos, Popp e Soberg quase marcaram. Na decisão de quinta-feira, no Estádio do Restelo, a bola rolava entre os pés das jogadoras do Wolfsburgo, campeãs em título, e as do Tyresö assistiam. Marta incluída, que guardava o seu lugar à direita do ataque.

E fala-se nela porquê? Por ser a brasileira que, aos 28 anos, já ganhou a Bola de Ouro cinco vezes consecutivas. Ou seja, foi a melhor do mundo para a FIFA entre 2006 e 2010. E na primeira vez que foi experimentar a relva a meio do campo justificou-o – recebeu uma bola à entrada da área, arrancou, ultrapassou duas alemãs e depois marcou. 1-0, Marta aparecia e o jogo animava.

Animou mesmo. Dois minutos volvidos, Verónica Boquete, espanhola que passara a bola a Marta no primeiro golo (chamar-lhe assistência seria demasiado), desviou de cabeça um cruzamento de Christen Press, norte-americana que fugiu, fugiu e fugiu com a bola até que alguém aparecesse na área para a poder cruzar. 2-0, mas aqui nada de Marta.

O intervalo chega e dá tempo para um pouco de contexto. O estádio do Restelo recebeu a 13.ª final da Champions feminina. Prova que, até agora, tem sido bipolar – houve sempre uma equipa alemã ou sueca (ou ambas) na final. Em 2004, aliás, foi no Umeå da Suécia que Marta, ainda com 18 anos, conquistou a sua única Liga dos Campeões.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A segunda parte começa, o futebol regressa e o Tyresö amolece. Tanto que, logo aos 47 minutos, o Wolfsburgo marca. Popp dá o primeiro grito e reduz. 2-1. Seis minutos passam e as alemãs não param de atacar. É oportunidade atrás de oportunidade. Aos 53 minutos as suecas tentam reagir, deixam o Wolfsburgo contra-atacar e Müller empata. 2-2.

E agora, Tyresö? A resposta vem de Marta, que logo aos 58 minutos volta a inventar sozinha. A brasileira recebe uma bola dentro da área, corta para dentro e, de pé direito (é canhota) remata em arco para o ângulo da baliza. Golo, 3-2 e mais um obrigado que a equipa ficava a dever ao ‘Pelé de Saias’ – apelido pelo qual é conhecida no Brasil.

Marta reagia. O problema é que as pernas do lado sueco já pouco tinham para dar. O golo da brasileira teve o efeito contrário e abriu a comporta a uma nova vaga de ataques do Wolfsburgo. Com isto, a resistência do Tyresö quebrou por duas vezes: aos 68 minutos deixou passar o 3-3, marcado por Faisst e, aos 80, Müller faz o 4-3 e o seu segundo golo do jogo. Havia dez minutos para recuperar mas as forças na reserva das suecas apenas serviram para aguentar.

O Tyresö não sofreu mais nenhum golo, nunca estive perto de empatar e Marta não mais apareceu. As alemãs, do outro lado, não abrandavam e correram atrás do quinto golo até ao último apito. Não foi preciso. A taça serviu de recompensa a um Wolfsburgo que renasceu duas vezes em hora e meia e, deste modo, levanta pelo segundo ano seguido a taça da Liga dos Campeões feminina.

A ‘Pelé de Saias’ continua com cinco Bolas de Ouro e voltou a brilhar quando quis. Verdade, mas não apaga outra – já não leva uma Champions para casa há dez anos.