437.500 euros, foi quanto custou o acordo matrimonial de Josefina e Napoleão Bonaparte que foi vendido este domingo em leilão no Rueil Mailmaison, em Paris. Não são votos nem promessas de amor que ali se podem ler mas, um simples contrato realizado para que nenhuma das partes saísse lesada.

O documento que foi a leilão era o da cópia do contrato que pertencia a Josefina. Datado de 8 de março de 1796, estimava-se que, por ser único, deveria custar a quem o comprasse entre 80.000 a 100.000 – acabou por custar cinco vezes mais e agora pertence ao museu de Cartas e Manuscritos de Paris.

O casamento foi um dia depois e o registo no dia 18 do mesmo mês. Na altura Napoleão já começava a ser famoso depois dos seus feitos durante o cerco de Toulon, em 1792, e sobretudo pela forma como defendera as Tulherias durante a insurreição monárquica de outubro de 1795.

Sabe-se agora que se casou com Josefina – que fora amante de Paul Barras, o político que promoveu a ascensão de Napoleão antes de também ele ser derrubado pelo general – com separação de bens e que “os esposos não são responsáveis pelas dívidas e hipotecas do outro”.

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Durante este leilão, o museu licitou mais documentos de importância histórica, também do período napoleónico. Por 118.750€ ficaram também propriedade do museu duas cartas com um mandado de prisão e uma libertação – com uma diferença de 11 dias – em nome de Napoleão durante o tempo da Convenção.

Não é de admirar as filas e a excitação geradas por este leilão. Se para a maioria dos europeus o nome de Napoleão ainda causa algum incómodo, para os franceses é uma inesgotável fonte de entusiasmo e de rendimento.

Este fim-de-semana Paris viveu uma reconstituição desse mesmo casamento com Josefina, que contou com mais de 40 000 espectadores atentos, como conta o Le Figaro. Para celebrar o segundo jubileu imperial, estava lá tudo, tal como há 218 anos: acampamentos, desfiles militares, fanfarras imperiais, salvas de tiros e até um Napoleão e uma Josefina debaixo de uma tenda azul e branca. Se por cá dizemos ‘boda molhada, boda abençoada’, esta reconstituição foi-o sem dúvida, mas nem a chuva torrencial que marcou presença afastou a multidão.

Refira-se ainda que, por 93.750€, o museu comprou também a carta que prova que Napoleão era um ‘menino da mamã’. Trata-se de uma petição, assinada pelo pintor Jacques-Louis David para modificar a obra, hoje exposta no Louvre, “A coroação de Napoleão”. É que a mãe de Napoleão, Letizia Bonaparte, não estivera presente na cerimónia por alegadas incompatibilidades com a mulher do Imperador. Isso não impediu que Napoleão pedisse ao artista que eternizasse a presença da mãe, pelo menos na pintura. “Não haverá desejo do rei que não se possa satisfazer”, responde o pintor. A realidade histórica já se podia modificar mesmo no tempo em que não havia photoshop.

Desde uma melhor explicação do rumo da história de França, a pormenores da invasão da Rússia, a um olhar atento no casamento, este leilão foi dos mais marcantes no que ao espólio do imperador diz respeito.