A cada passagem de ecrã vê-se um pouco do mesmo. Um anúncio a convencê-lo a comprar isto ou uma publicidade a piscar-lhe o olho para aderir a algo. Com menor ou maior dimensão, os “anunciantes compram os teus dados para que possam mostrar-te mais anúncios”. No Facebook? Por exemplo. Mas não somos nós que o dizemos. É a Ello, a nova rede social que, por enquanto, também é exclusiva — só lá entra quem for convidado. E já lhe chamam como a nova moda “anti-Facebook”.

O jornalista pediu o convite. Ele não chegou. Mas após a publicação da notícia, um simpático leitor enviou um convite — porque cada membro tem a possibilidade de convidar cinco pessoas novas, permitindo alargar a rede em circuitos de proximidade. Como ainda poucos acederam, os rumores voam. E, nos últimos dias, diz-se, a Ello até já chegou a receber cerca de 35 mil pedidos de adesão por hora. É muita procura para, supostamente, pouca oferta — ou capacidade dos servidores. Até já há quem ‘venda’ um convite por 500 dólares (cerca de 395 euros ) no eBay. Ao que parece, criou-se um frenesim à volta da Ello, a rede social que “acredita na beleza, simplicidade e transparência”.

E não tem anúncios. Porque “uma rede social não deve ser uma ferramenta para enganar, coagir e manipular — mas um local para conectar, criar e celebrar a vida”, lê-se, no manifesto que a Ello disponibiliza no seu site oficial. É lá que os três criadores da rede tratam o leitor/utilizador por ‘tu’ e até escrevem, para quem leia, que “a tua rede social é detida por publicidade” e “tu não é o produto”. O manifesto defende que “existe uma melhor maneira” e não uma em que “os anunciantes compram” as informações dos utilizadores “para que possam mostrar mais anúncios”. E mais. No final do manifesto estão dois botões. Quem clicar no ‘concordo’ recebe em troca uma série de ícones para partilhar o texto noutras redes sociais. Enquanto quem escolher o ‘discordo’ é imediatamente encaminhado para…a Política de Utilização de Dados do Facebook.

Ello

Uma das páginas de perfil que a Ello disponibiliza como exemplo para os potenciais utilizadores.

Nos meandros do site da Ello, na página dedicada a responder às ‘Perguntas Mais Comuns’, lê-se que “virtualmente todas as outras redes sociais são geridas por publicidade” e empregam “exércitos de mineiros de informação que gravam todos os movimentos” do utilizador. “Os anúncios insultam a inteligência e estamos melhor sem eles”, defende a Ello. Nos perfis de teste, que servem de exemplo para quem pretenda aderir à rede, veem-se páginas de perfis limpas, com muito espaço branco e com um design simples e minimalista.

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Publicidade e anúncios é que não. “Se começássemos a fazer as coisas que uma rede social derivada da publicidade faz, toda a gente diria — ‘Que se lixe isto’ — e iria embora”, argumentou Paul Budnitz, um dos fundadores da Ello, à Business Insider, ao sublinhar que a experiência da sua rede social “será sempre grátis”. De onde virá o dinheiro então? O criador explica. “Quando uma rede social é muito simples as pessoas querem características específicas. E estão dispostas a pagar por elas”, começou por dizer.

Ello2

E estas características poderão ir desde a possibilidade de escolher várias cores de fundo para o navegador da rede social até a uma ferramenta que agregue “várias contas num único login”. Uma coisa é certa — e os criadores quiseram torná-la “cristalina” para os utilizadores. “Colocámos um mais que óbvio ‘botão de delete’ na página de definições de todos os utilizadores. Se alguma vez não gostar da direção que a Ello está a tomar, convidamo-lo a apagar a sua conta na Ello”, lê-se no site.

Ainda assim, também já começaram as críticas à rede. Vários criadores ligados ao mundo da tecnologia reclamaram do facto de a Ello ser constituída com dinheiro de capital de risco — o que indicará a disponibilidade para ser vendida no futuro mais ou menos próximo. E também há quem critique a previsível falta de capacidade dos fundadores para viabilizar comercialmente este projeto, dada a limitação de serviços disponíveis. Mas ainda é cedo para perceber o que vai acontecer a este projeto.

A experiência de utilização é necessariamente limitada, porque o produto está ainda em fase de desenvolvimento. Aliás, é a própria rede que lista as tarefas de programação que tem em desenvolvimento e anuncia o que falta fazer. O design é assumidamente simples e minimalista, a navegação é fácil e imediata. Ainda é cedo para perceber como serão as funcionalidades de partilha, mas uma coisa é óbvia: não há espaço para marcas anunciarem produtos comerciais. A ausência de publicidade e o respeito pela privacidade serão as primeiras grandes promessas que diferenciam esta rede das outras, nomeadamente do Facebook — e a verdade é que o pequeno furor à volta do Ello parece confirmar que há espaço para uma opção de socialização digital para lá da rede mais popular.