“O que é que se responde a uma mãe que diz, em lágrimas, que a filha está nas mãos do Estado Islâmico e que preferia estar lá com ela? Mesmo que tivesse de ser violada ou torturada para estar com ela — era preferível do que não estar”.

Há muito tempo que a Angelina Jolie já não é só “a atriz”. É a cara da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR). As fotografias de calças, t-shirt larga e cabelo apanhado a conversar com as populações nos campos de refugiados já são tão comuns como as fotografias da passadeira vermelha num evento de Hollywood.

Jolie começou por ser sensível às vidas dos refugiados. Depois, chegou o convite para ser Embaixadora da Boa Vontade do UNHCR. Aceitou. Em abril de 2012 foi destacada como Enviada Especial do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres. Às vezes seguem os dois juntos para campo, outras, Angelina substitui o representante português.

A primeira vez de Angelina no Iraque foi em 2007. Visitou o local esta semana pela quinta vez. Encontrou refugiados da Síria e iraquianos deslocados. Diz-se “chocada” com o que viu, como se não fosse possível habituar-se ao sofrimento visita após visita. Diz que aquelas pessoas estão a “pagar o preço do falhanço coletivo de terminar o conflito”, responsabilidade que atribui à comunidade internacional.

Em quase quatro anos de guerra, quase metade dos 23 milhões de sírios tiveram de sair do seu país. Dentro do Iraque, mais de dois milhões de pessoas fugiram de conflitos e do terror criado por grupos extremistas.

A experiência é contada pela própria no New York Times. Apela a um acordo de cessar-fogo na Síria e diz que não houve “nenhum progresso” desde o colapso do Acordo de Genebra, há um ano. Entretanto, Angelina lança questões partindo daquilo que vive no terreno.

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O que é que se diz a uma rapariga de 13 anos que conta que, no armazém onde ela e mais raparigas vivem, os homens costumam puxar três de cada vez para serem violadas?

Como é que consegues olhar nos olhos de uma mulher da tua idade que te diz que a sua família inteira foi morta nos conflitos, mesmo à sua frente, e que agora vive numa tenda com o mínimo de alimento por dia?

Os países vizinhos da Síria já receberam, no total, quatro milhões de refugiados sírios, aponta Jolie, e continua a lançar dados. “Os refugiados da Síria já constituem 10 por cento da população da Jordânia. No Líbano, a cada quatro pessoas, há um sírio. Isto significa que sobram poucos recursos para os habitantes locais desses países”. E a espiral continua.

Os refugiados e os deslocados em causa passaram por “uma brutalidade indescritível”. Estão cercados de violência, “as crianças não vão à escola”, estão a “lutar para sobreviver”. A enviada Angelina questiona o mundo: “quem pode culpar estas pessoas por pensarem que desistimos deles?”