Gunter Von Hagens, conhecido como o Dr. Morte, tornou-se mundialmente conhecido com uma exposição itinerante polémica, chamada “Body World”. Agora, aos 61 anos, o seu nome volta a agitar as consciências, de novo por causa de uma exposição. “Facets of Life” vai ocupar 1.200 m2 do museu Menschen, em Berlim, com 20 corpos e 200 peças corporais – ossos, orgãos e tecidos – todos eles preservados através de uma técnica inventada pelo autor nos anos 70.
A técnica a que chamou de plastinação resulta do processo de esfolar os corpos e, posteriormente, preservá-los com resina sintética, deixando os músculos, os tendões e os nervos à mostra. À semelhança do que aconteceu em França, onde o Supremo Tribunal de Justiça proibiu a exposição em 2010, também o museu alemão está a ser alvo de um processo judicial. A Igreja Protestante e o Conselho da Sociedade de Anatomia contestam o “sensacionalismo” e a “falta de ética” subjacente ao trabalho.
O objetivo não é chocar, nem ser uma exposição provocante — apenas fazer com que as pessoas reflitam acerca de aspetos diferentes da condição humana, explicou a mulher do artista que é também curadora do museu. Um argumento a favor: a exposição será acompanhada de uma explicação científica. Outro: os corpos serão expostos em diferentes posições, de forma a explicar a complexidade do corpo – tudo vai ser visto de um ponto de vista pedagógico, garante.
Em 2007, uma imitação da exposição de Von Hagens visitou Portugal. Era, porém, não autorizada – e a empresa responsável foi processada pelo autor. Na altura, uma porta-voz da “Body World” explicou ao Público que estes casos podem confundir os espetadores, mas que nada se assemelham ao trabalho real.
“O dr. Von Hagens acha que as cópias da sua exposição não representam ameaça nenhuma e que o público as rejeitará por razões éticas, optando por não ver corpos que nunca deram o seu consentimento legal para serem publicamente expostos [eram corpos não reclamados provenientes da China]”.
Na altura da exposição em Portugal o Correio da Manhã falava de uma “comissão científica” que atestava a “credibilidade” da exposição. E dava voz a Francisco José de Castro e Sousa, diretor do departamento de cirurgia da Universidade de Coimbra.
“Se reconhecesse algum fundamento nas acusações a que a polémica se refere, não associava o meu nome à exposição que vi quando se apresentou nos EUA. Estou, por isso, em condições de garantir, como médico e cidadão, que esta é uma oportunidade única de vermos como funciona o nosso corpo.”
As empresas que lucravam com exposições como a que veio a Portugal, em 2007, foram encerradas. Mas é um facto que a exposição teve enorme impacto mediático e muitas visitas registadas.