Pedro Pires chama-lhe um novo romantismo social: ir para os jardins, estar entre família ou amigos e passar tempo de qualidade ao ar livre em cima de uma manta ou de um banco de jardim. Ser neo-romântico, extrapolando o conceito do diretor criativo da Ivity, é sentar o rabo na relva em vez de cantar serenatas ou ler Camilo Castelo Branco. É oferecer cestas de piquenique em vez de flores, até porque elas são bonitas é com as raízes onde não as conseguimos ver — debaixo da terra.

Foi para celebrar os novos românticos que nasceu a Anita Picnic, com um nome também ele retirado “da ingenuidade de quem cresceu nos anos 70 e 80” e se lembra de uma Anita sempre ocupada nos livros e capaz de transformar a atividade mais trivial — uma ida às compras ou um passeio no parque — num acontecimento com honras de primeira página.

Esta Anita vai ao jardim, e vai com estilo. Pedro e Carla Cantante, a outra metade da marca e do casal, estenderam a toalha vezes sem conta para as festas de aniversário dos filhos e um dia perceberam que não era só a paisagem que podia ser bonita, o que se punha em cima da relva também. “Na minha infância fazíamos muitos piqueniques e quando nós quisemos começar a usufruir dos jardins com os nossos filhos, começámos à procura de produtos no mercado e não havia nada com design”, diz Carla, que largou dez anos de experiência numa agência de publicidade para se dedicar a este projeto, em maio de 2014. “Existiam ou coisas muito elaboradas, com os talheres e as louças, ou coisas muito caras de marcas como a Hermès”, acrescenta Pedro. Nada com toalhas, guardanapos e forros a condizer, em ilustrações impressas digitalmente sobre um ofício com décadas de existência.

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As cestas da Anita Picnic são assim. O vime é entrelaçado em Barcelos e em Gonçalo, na Guarda, uma vila onde há uma Avenida dos Cesteiros, tal a importância que já teve a profissão. “Gonçalo chegou a ser a capital dos cesteiros, mas eram 200 e agora são três”, diz Carla, ao que Pedro acrescenta: “Associar o design às técnicas tradicionais é algo que ainda não se vê muito em Portugal mas isto permite recuperar ofícios que estão a morrer e ao mesmo tempo é bom para a economia.”

Não quer dizer que não se possa mexer com a tradição. No caso da Anita Picnic, todos os cestos continuam a ser feitos à mão, a partir de formas de madeira, mas foi criada um molde de raiz (um coração), só para a marca. Depois de várias viagens e de uma coleção que já invadiu várias divisões da casa, a dupla de Lisboa convenceu ainda os artesãos a uma outra grande inovação: pintar os cestos de azul claro. Tudo em vime português ou da América do Sul, “muito mais resistente do que o que vem da China”, diz Carla. “Queremos que as pessoas tenham uma peça para a vida, e isso paga-se.”

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Com os padrões que a marca criou em parceria com o atelier Os Maga para os forros, as toalhas e os guardanapos, a verdade é que dá vontade de colecionar várias cestas para vários piqueniques, consoante o estado de espírito ou até a cor das meias. De raposas a setas, passando por troncos de madeira animados, tudo o que é desenhado tem primeiro uma história e uma personalidade, como se vê por estas etiquetas:

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A personagem principal, já uma espécie de símbolo da marca, é um pica-pau que teve honras de brilhar na primeira colaboração da Anita com a Burel, outro projeto português que nasceu em 2010 para manter vivo o tecido tradicional da Serra da Estrela. Acabada de lançar, a parceria tem a forma de três mantas ilustradas que pedem um comeback da moda das tapeçarias na parede.

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“O futuro da Anita passa por fazer parcerias com outras marcas com a mesma filosofia que nós e pensar os piqueniques como um todo, da decoração ao catering“, avança Pedro. Uma coisa é certa: como já nem faltam as mantas, nem sequer precisa de ser primavera para seguir o slogan da marca, “come out and play”.

Nome: Anita Picnic
Data: 2014
Pontos de venda: loja online, This & That (Lisboa), A Vida Portuguesa
Preço: 72,50€ a 195€

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