Apaixonarmo-nos é fácil. Mantermo-nos apaixonados é que já não é pêra doce. E catapultar este sentimento para relações de cinco, dez ou 20 anos é um desafio muitas vezes arrebatador. Qualquer relação dá trabalho, é verdade, e ninguém é ensinado a ser bom enquanto parceiro de vida. Todos cometemos erros e muitas vezes estragamos as relações sem saber porquê — apenas por sermos como somos. Compreender que a única pessoa que pode mudar somos nós é uma lição que, quando aceite pelas duas partes nesta equação, pode mudar e salvar uma relação.

Fomos falar com Rita Fonseca de Castro, Psicóloga Clínica e Terapeuta Conjugal na Oficina de Psicologia, para perceber o que é que se pode aprender numa terapia de casal. Não podemos ser os nossos próprios terapeutas, está certo, mas podemos compreender algumas das coisas que andamos a fazer mal.

O bicho-papão: a comunicação

“A maior parte dos casais que procura acompanhamento refere dificuldades ao nível da comunicação”, explica-nos Rita Fonseca de Castro. É preciso treinar para se desenvolver uma comunicação eficaz, empática e assertiva. Ou seja, não dizer que não se passa nada quando na verdade está chateado/a com algo que o seu parceiro fez, aumentando a montanha de descontentamento que carrega aos ombros. Rita explica-nos que, na terapia, pede ao casal para dar a sua perspectiva de um mesmo tema, mais focada nos sentimentos do que nos pormenores concretos das situações que geraram aquele problema. Muitas vezes, estamos mais centrados na resposta que vamos dar ao outro do que verdadeiramente atentos ao que ele nos está a dizer — provavelmente nem prestámos atenção ao conteúdo do discurso. Assim, saber ouvir e comunicar o que se sente é o primeiro desafio de qualquer casal.

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Como ultrapassar situações de crise

As situações de transição trazem consigo um maior potencial de crise — o nascimento de um filho, a entrada dos filhos na adolescência, situações de desemprego, dificuldades financeiras, …  “Muitas vezes os casais acabam por se afastar porque um deles, ou os dois, se encontra demasiado imerso em questões que pensa serem uma preocupação só sua”, explica a terapeuta. É preciso naturalizar que todas as situações diferentes, positivas ou negativas, trazem alterações à vida a dois. Em fases de crise, será importante voltar a criar momentos em que o foco seja precisamente o casal. Mas não só: O tempo individual para a “agora mãe” ou o “agora parceiro desempregado” se dedicarem a atividades suas são imprescindíveis e, sim, têm direito a elas independentemente da situação que se esteja a atravessar.

Rita Fonseca de Castro explica que, em simultâneo, deve ser alimentado o “nós” porque com as novas prioridades e preocupações, a atenção de cada elemento do casal passa a centrar-se mais na nova situação (um filho, desemprego, entre outros) e o tempo a dois deixa de existir. Seja um passeio de 20 minutos, uma saída para jantar, uma ida à praia, correr ao fim do dia, os casais não podem deixar de namorar e alimentar a intimidade.

Pode-se recuperar de uma traição?

Rita Fonseca de Castro é pragmática: “Não existem fórmulas mágicas mas é preciso existirem alguns pré-requisitos, como um elevado grau de compromisso pelos elementos do casal, uma vontade genuína de perdoar e seguir em frente”. O que importa referir é que não é impossível recuperar uma relação depois de uma traição. Um trabalho do Huffington Post, que reuniu várias sondagens e estudos, pôs os dados da traição a nu: 56% dos homens que trai consideram-se felizes na sua relação, 32% das mulheres traem porque querem confirmar que ainda são desejáveis, 48% dos homens porque quer mais sexo e 35% das mulheres porque quer apimentar a sua vida. Dados que revelam que a traição nunca é por falta de amor. A terapeuta explica o que fazer: “A relação vai ter que passar por um processo de reconstrução, de criação e consolidação de sentimentos de confiança e de pertença nessa relação que não tem de ser igual à que existia antes”.

Como voltar a trazer a sexualidade ao de cima

A tendência mais comum é para que a frequência das relações sexuais de um casal vá diminuindo à medida que os anos de relação avançam. Existem os filhos, a família, a carreira, entre tantas outras coisas, e os dias tornam-se mais cansativos e menos propensos à sexualidade. E isto não tem de ser um drama. Voltamos ao primeiro passo: a comunicação. Sem comunicação não pode haver intimidade. Rita Fonseca de Castro explica-nos que, muitas vezes, coloca os casais a fazer trabalho de casa entre as sessões — mesmo que o casal possa sentir-se relutante ou não compreender o objectivo de certas tarefas. Uma delas passa por cada um escolher algo que quer que o outro lhe faça — por exemplo uma massagem durante dez minutos –, desejo que o outro tem de cumprir. O objectivo é reforçar novamente os laços de intimidade a dois.

Muitas vezes, os casais já sabem que alguma coisa os está a afastar, e até podem já ter identificado do que se trata, mas não conseguem sair do mesmo sítio e ultrapassar constrangimentos e inseguranças que acabam por ganhar força e inviabilizam a resolução das situações.

Cinco dicas rápidas

Lisa Firestone, psicóloga do Psychology Today, dá cinco dicas para a resolução de conflitos a dois:

  • Não atirem as culpas um ao outro: É fácil identificar traços negativos no nosso parceiro e, ironicamente, quanto mais tempo estamos juntos, mais tendemos a focar-nos nas características negativos do outro. Para resolver os problemas, é preciso que cada pessoa pare de culpar o outro, resolva a sua parte do problema e consiga começar de novo com a “ficha limpa”.
  • Observe antes de reagir: Quando surge um conflito, um bom exercício é não reagir automaticamente. É como um comboio: os pensamentos negativos vão vir a todo o gás mas podemos escolher se os apanhamos ou não. Como são precisos dois para dançar o tango, se um se afastar do conflito para respirar e pensar, parando de ser reativo, o outro também o vai fazer e isso impede o conflito de passar para um território destrutivo.
  • Identifique os padrões das discussões: Muitas vezes, as discussões têm na sua raiz sentimentos de mágoa ou abandono. Cenários que despertam sentimentos antigos podem fazer-nos sentir inseguros. Se fomos rejeitados numa relação anterior poderemos interpretar como rejeição o facto do nosso companheiro querer sair com os amigos porque, no passado, foi isso que aconteceu. São reacções primárias que podem destruir relações. Ao perceber os padrões que nos fazem sentir ansiosos ou zangados, vamos conhecer-nos melhor e será mais fácil lidar com essas emoções de forma saudável sem desencadear uma crise na relação.
  • Procurem a empatia: Tal como nós trazemos bagagem de relações anteriores, também a outra pessoa as traz. Conseguir perceber que ela reage com base em experiências antigas dolorosas pode ser a chave. Se sempre que o seu parceiro quiser sair com os amigos fizer comentários ciumentos e agressivos porque se sente rejeitada, o seu parceiro pode simplesmente perceber as coisas de forma diferente e cria-se um conflito sem razão aparente. Se conseguirem perceber a forma como os dois se sentem, mais facilmente vão empatizar com as inseguranças um do outro.
  • Comunique tudo o que sente: E por comunicar entende-se que não é colocar a culpa no outro ou agir como se fosse a vítima. É importante respeitar o facto de que cada elemento do casal pensa e sente de forma diferente. Quando um casal é aberto e compassivo para com as suas lutas individuais, é mais fácil conhecerem-se um ao outro a um nível mais profundo e superar obstáculos a dois.