A Casa Alves, mercearia típica nas traseiras da Sé, em Lisboa, vai mesmo fechar. A pressão mediática de Catarina Portas e a parceria entre a sua A Vida Portuguesa e a loja que a família Alves ocupa desde 1957 não chegaram para evitar o encerramento do espaço, que fecha definitivamente as portas no fim de julho.
José Luís Alves, que está atrás do balcão há décadas, diz que está cansado. Em novembro de 2015, recebeu uma ordem de despejo que devia ter sido cumprida até maio. O prédio está devoluto do rés-do-chão para cima e vai entrar em obras brevemente. Graças ao envolvimento de várias entidades e da empresária Catarina Portas na situação, a família Alves conseguiu adiar o fim da casa, mas José Luís, com 64 anos, está cansado.
“Preferi jogar pelo seguro”, diz o lojista ao Observador. Em vez de “sair de mãos a abanar”, José Luís Alves sentou-se à mesa com o senhorio para negociar uma indemnização. “Preferi negociar com eles e sair mais ou menos. Nunca se sai como deve ser…”
Em março, quando A Vida Portuguesa colocou alguns produtos à venda na Casa Alves, o objetivo era aumentar a faturação. Isso aconteceu e “até certo ponto ajudou” o negócio, explica José Luís. Mas o futuro era sempre uma incógnita. “Daqui por dois ou três anos, quando as obras terminarem, pediam-me dois ou três mil euros de renda… E como era?” O que a casa faz mensalmente não dá para suportar um valor desse género, garante José Luís. “Já não estou para me meter em aventuras.”
A filha, Carina Alves, que há alguns meses estava em diligências para manter a casa no sítio, lamenta o desfecho, mas garante que esta é a solução mais conveniente. “Se o meu pai tivesse 40 anos, íamos à luta”, mas José Luís afirma que tem vivido num “stress muito grande” nos últimos meses. “Foi uma decisão que nos custou muito, mas era a decisão a tomar”, acrescenta Carina Alves ao Observador.
No Facebook, Carina Alves fez o anúncio do encerramento da loja e deixou um emocionado agradecimento a todas as entidades que se envolveram: União de Associações do Comércio e Serviços, A Vida Portuguesa e o Círculo das Lojas de Caráter e Tradição de Lisboa.
No fim de julho, as portas dos armários de madeira que caracterizam a Casa Alves fecham de vez. O antigo moinho de café vai sair da montra e os cartazes que anunciam géneros “de primeira qualidade” têm como destino certo uma arrecadação. Dizia José Luís em novembro, quando o Observador o conheceu: “Eu vou resistir o mais que possa. Doa a quem doer. Vai doer-me a mim, se calhar…” Esta quarta-feira confirmou-o, mas, entre dois encolheres de ombros, lá deixou uma nota de esperança. “Vou para a reforma e logo se vê”, disse, a rir-se.