Os turistas que visitam o Porto trazem, assinalada no mapa, uma visita à Ribeira, para verem as casas coloridas, o rio e a Ponte D. Luís. Atentos ao local estratégico estão os comerciantes: quase tudo é wine bar, as lojas anunciam portuguese products, os alojamentos chamam-se guest houses e oferecem-se boat trips. É por isso que sabe tão bem encontrar, na pitoresca rua da Fonte Taurina, uma taberna com uma placa que anuncia “Comes e Bebes”. Entrámos.

O espaço, moderno, de portadas abertas, funde-se com a rua. Parece novo, mas o nome “Está-se Bem” é familiar a toda uma geração de estudantes universitários que fez da Ribeira o centro de diversão e convívio, numa altura em que a Baixa estava adormecida e a movida que se vê hoje era ainda um sonho. Fundado no início dos anos 1990, durante cerca de 25 anos foi a casa do Sr. Adriano e a D. Carminho, que ganharam fama pela receita do famoso “traçadinho” que davam de beber a quem por ali passava, sobretudo estudantes universitários — alguns deles criaram uma página de homenagem aos dois antigos proprietários.

Há 10 anos, as dinâmicas da noite começaram a mudar. Os estudantes passaram a procurar mais as ruas Galeria de Paris e Cândido dos Reis, o turismo disparou e não consta que o “traçadinho” venha nos roteiros gastronómicos. No início de 2015, o Está-se Bem passou para as mãos de Cristóvão Sousa. Depois de quase um ano de obras, reabriu em fevereiro, moderno mas rústico, com um teto inspirado nos túneis subterrâneos da cidade, feito com cerca de 350 vidros.

taberna esta-se bem

A parede em pedra está agora à vista. O balcão mudou de sítio e o teto faz lembrar uma colmeia. © Sara Otto Coelho / Observador

“Conservámos o nome pelo relacionamento muito amistoso que temos com o Sr. Adriano e com a D. Carminho”, explica ao Observador José Carlos Basto. Vestido com uma jaqueta branca, com o seu nome gravado na gola, começou a cozinhar profissionalmente com 40 anos. A ida para o mundo da culinária foi uma espécie de negócio da China. “Comecei no têxtil. Mas quando começaram a chegar os produtos chineses a um quinto do preço, eu desisti.” Foi a oportunidade de deixar vir ao de cima a paixão pela cozinha que tinha desde criança — chegou a estudar na Escola de Hotelaria de Viana do Castelo, mas desistiu. Desde 1991 — curiosamente o ano de abertura do Está-se Bem — já passou por algumas cozinhas, a última das quais a do Ode, também propriedade de Cristóvão Sousa. Acredita que esta, mais cedo ou mais tarde, vai receber uma Estrela Michelin. “Acho que estamos a chegar lá”, diz.

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José Carlos Basto vai pondo um olho no Ode, a poucos passos de distância do novo desafio. Aos 64 anos, o objetivo número um do chef é tornar o Está-se Bem paragem obrigatória para quem quer ter à mesa petiscos de qualidade. “Quisemos ir buscar os sabores tradicionais portugueses e servi-los como petisco. O conceito é de slow food, mas com serviço rápido“, resume. As tripas à moda do Porto são bem servidas. De resto, convém sempre pedir dois pratos, para saciar a fome. O prego do lombo no pão é feito de filet mignon de novilho arouquês (7€). O porco com couve roxa é confitado com vinho tinto, cerveja branca e preta (5€). O bacalhau salgado não podia faltar, confitado em azeite, alho e louro e acompanhado por puré de grão-de-bico (5€).

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Taco de bacalhau com puré de grão-de-bico. © Sara Otto Coelho / Observador

Não faltam os enchidos de porco bísaro, como a alheira (acompanhada com laranja), queijos da Serra, de Azeitão, Terrincho e de São Jorge. Nem o tradicional caldo verde acompanhado por broa de Avintes. Para quem prefere um bom naco de carne, em vez de petiscar, na lista encontram-se um bife da vazia de 600 gramas (24€) e um costeletão a 45€ o quilo.

Nas sobremesas há fruta e um doce conventual em permanência. A terceira entrada da lista chama-se simplesmente “Hoje também há” e vai variando. Quando o Observador visitou o espaço, foi dia da tarte de queijo “de cair para o lado”, diz o chef portuense, confiante na receita de souflé, com a lima a raspar-se no momento de servir. “Costumo dizer à rapaziada: ‘Quando quiserem arranjar namoro, tragam cá a menina se ela ainda estiver com dúvidas e deem-lhe uma coisa destas que ela fica logo apaixonada‘.”

A carta dos “bebes” é maior do que a dos “comes”. Para além das quase 40 entradas de vinhos, dos habituais gins, rums e vodkas, os cocktails têm um carinho especial, com receitas assinadas por Carlos Santiago, o vencedor da 2º edição do concurso Barman do Ano 2015.

Mas afinal há ou não há “traçadinho” no novo Está-se Bem? “Há quem peça, mas não temos”, confessa José Carlos Basto. “O Sr. Adriano às vezes passa por aqui e eu namoro-o para ver se ele me dá a receita. Eu sei como se faz “traçadinho” mas por uma questão de respeito não faço. No momento em que ele me quiser dar a receita, nós por brincadeira passaremos a oferecer a quem vier cá pedir”, promete. E aí é que se vai estar mesmo bem.

Nome: Taberna Está-se Bem
Morada: Rua da Fonte Turina, 70, Porto (Ribeira)
Telefone: 22 090 0900
Horário: Terça-feira a domingo das 12h às 23h
Reservas: Aceita
Preço Médio: 25 euros
Site: www.facebook.com/Está-se-Bem-1677113255842281