A história e imagem dos últimos anos do concelho da Ponta do Sol, na zona oeste da Madeira, antes conhecido pela boa produção de banana, está “manchada” pela construção de uma marina que custou muitos milhões, mas nunca foi utilizada.

“Lamento que aquilo exista no meu concelho. Posso considerar aquilo como o ‘calcanhar de Aquiles’, tanto da minha passagem pela Câmara, como do anterior Governo [Regional]”, diz o presidente do município, Rui Marques, considerando “não ser possível dissociar esta obra da imagem que existe agora da Ponta do Sol”.

A conhecida Marina do Lugar de Baixo foi uma das obras inauguradas pelo então presidente do Governo da Madeira, Alberto João Jardim, na campanha das legislativas regionais de 2004, teve um custo inicial estimado em 29,7 milhões de euros, mas, depois das sucessivas reparações, devido aos estragos provocados por vários temporais, o custo terá subido, segundo alguns, para os 100 milhões.

O projeto idealizado para 297 embarcações, entre oito e 25 metros, chegou a incluir um concurso público para a subconcessão dos terrenos adjacentes para a construção de um complexo imobiliário pelo Grupo Pestana e previu uma subconcessão da gestão do domínio marítimo da marina por um período de 75 anos.

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Apesar de todos os problemas e contestação, o vice-presidente do executivo madeirense, João Cunha e Silva, em finais de 2012, insistiu que este era “um projeto fantástico em que valia a pena apostar”, embora tenha reconhecido que “houve um erro de engenharia”.

Mais tarde, confessou que esta fora a única situação na governação em que “voltaria atrás”.

Em 2013, o executivo insular anunciou que aquele espaço seria transformado em centro de recreio para a população e, em dezembro de 2014, foi o próprio Alberto João Jardim a admitir: “Foi o único azar que tivemos ali [Marina do Lugar de Baixo] em 30 anos. Fiz 4.839 inaugurações, houve um azar”.

O atual secretário madeirense das Finanças, Rui Gonçalves, já corrigiu em baixa o valor do investimento feito naquela marina, indicando ter sido na ordem dos 51 milhões e anunciou que os equipamentos seriam desmantelados e entregues às câmaras municipais na zona e o resto da infraestrutura seria votado ao abandono.

O autarca ponta-solense recorda que o projeto foi inicialmente encarado com grande “expectativa” pela maioria da população local, porque poderia representar uma “forma de potenciar” o concelho.

Mas, “quando começou a dar problemas, surgiram as dúvidas sobre a sua viabilidade” e os prejuízos provocados pelos sucessivos temporais “acabaram com essas expectativas”, lembra, informando que transmitiu ao então Governo Regional que “não era mais a favor da recuperação” daquele espaço.

Rui Marques considera que algumas das reparações aconteceram por “teimosia” dos apoiantes do projeto e defende que é necessário encontrar uma solução para “minimizar o impacto negativo” daquela infraestrutura.

“A imagem não é a mais agradável e o tapume ao longo de cerca de 200 metros, logo numa das entradas do concelho, não é positivo”, sustenta, realçando que “deixar ao abandono também não é solução”.

O autarca sugere a sua transformação num espaço de lazer para a população, o que pode ser feito com “um investimento mínimo, utilizando as centenas de cubos de betão que existem no local para criar uma muralha, minimizando impactos da forte ondulação”.

Rui Marques diz aguardar para discutir este problema com o atual executivo insular, pois pretende deixar a resolução encaminhada antes de deixar a presidência da Câmara Municipal.

“Se o Governo disser que a melhor solução é entregar à Câmara, eu não recuso receber”, declara, adiantando que “têm de dar é a possibilidade de fazer uma candidatura a fundos comunitários para fazer a recuperação” e “há as questões de domínio marítimo que têm de ser ultrapassadas”.

Porém, se não for encontrada uma solução para este problema, Rui Marques é perentório: “Então incluam a Marina do Lugar de Baixo num roteiro como ruínas” da região.