As autoridades turcas detiveram, ao inicio da manhã desta segunda-feira, o editor e vários jornalistas do jornal Cumhuriyet, critico ao regime de Erdogan, como forma de repressão aos media depois do golpe de estado falhado de julho.

Os jornalistas em causa são acusados de estar ligados a Fethullah Gulen, exilado nos Estado Unidos, e apontado como o mentor da tentativa de golpe de estado.

Este fim de semana, 15 órgãos de comunicação social foram encerrados e cerca de 10 mil funcionários públicos foram demitidos, por se pensar estarem ligados a ações consideradas terroristas contra o regime turco. Os alvos são inúmeros e entre eles, estão professores, académicos, trabalhadores da área da saúde, guardas prisionais ou ainda peritos forenses.

As vozes críticas acusam o presidente Recep Tayyip Erdogan de usar as leis de emergência, impostas após a tentativa falhada do golpe de julho passado, para silenciar os seus adversários. Desde essa altura, o regime turco já demitiu ou suspendeu cerca de 110 mil pessoas e prendeu 37 mil.

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Em sua defesa, o governo turco argumenta que a rede de apoiantes a Gulen é tão grande que é necessário tomar medidas para travar as suas intenções.

Foram emitidos outros mandatos de prisão, incluindo contra o antigo editor do jornal Cumhuriyet, Can Dundar. Este acabou por renunciar ao cargo, em agosto, depois de ter sido condenado a cinco anos de prisão por ter sido acusado de revelar segredos de estado relacionados com as operações da Turquia na Síria. Acabou por fugir quando conseguiu vencer um recurso.

A manchete que foi a gota de água

As detenções no jornal turco acontecem depois de ser conhecida a manchete desta segunda-feira. Esta dizia: “Coup contra a oposição.”

A história que dá corpo ao título baseia-se na suspensão de milhares de funcionários públicos e no facto de terem sido postas em vigor leis abusivas no âmbito do decreto de estado emergência pós golpe falhado. Passadas apenas algumas horas, o editor-chefe, assim como vários jornalistas da redação, foram detidos. Foram ainda emitidos cerca de uma dezena de mandatos de prisão a executivos do jornal.

Estes mesmos mandatos são assim o culminar da investigação iniciada em agosto, depois de se suspeitas de existirem dados nos relatórios do jornal que provavam que o mesmo estava ligado à tentativa do golpe de estado.

O resistente

O Cumhuriyet é um dos últimos jornais críticos ao regime a resistir às fortes pressões. No ano passado o jornal foi premiado com o Freedom of the Press pela Repórteres sem Fronteiras e foi ainda premiado com o Right Livelihood Award, conhecido como o prémio alternativo ao Nobel da Paz.

15 jornais curdos e considerados de esquerda foram fechados na semana passada sob pretexto das leis de emergência. A oposição a Erdogan teme que mais órgãos de comunicação social sejam silenciados.

A Turquia vive em estado de emergência depois da tentativa do golpe de estado de 15 de julho ter falhado.