Socialistas e sociais-democratas continuam a trocar acusações sobre o processo Bragaparques. A concelhia do PSD em Lisboa publicou um vídeo no Facebook, na terça-feira, para contar a sua versão dos acontecimentos. Em sentido contrário, o atual executivo camarário acusa o PSD de querer “reescrever a história”.

No vídeo, os sociais-democratas argumentam que o Parque Mayer “já foi o sítio mais in de Lisboa” e que só não o é agora por culpa do “enorme imbróglio jurídico” em que os executivos socialistas se envolveram. Referem que foi João Soares que vendeu os terrenos do Parque Mayer à Bragaparques em 1999, por 13 milhões de euros. E que, em 2003, “o executivo do PSD, presidido por Santana Lopes, quis devolver o Parque aos lisboetas” — facto que levou à permuta daquele espaço por parte dos terrenos da Feira Popular, então em Entrecampos.

O vídeo prossegue lembrando que a permuta foi aprovada na Assembleia Municipal de Lisboa pelos deputados do PS e do Bloco de Esquerda. E elogia a intenção de Santana Lopes de instalar um casino no Parque Mayer, com projeto de Frank Gehry. “A elite de esquerda, escandalizada com a possibilidade de se conspurcar tal Meca cultural com um antro de jogo, opôs-se”, ouve-se no vídeo. Depois, os sociais-democratas apontam o dedo a José Sá Fernandes (que interpôs ações em tribunal para anular a permuta) e a António Costa, por não ter impedido o então vereador independente (apoiado pelo Bloco) de avançar com as ditas ações.

A permuta acabaria por ser anulada pela Justiça. A atual maioria socialista da câmara sublinha que toda a disputa entre o município e a Bragaparques teve origem naquilo que considera terem sido más decisões dos executivos de Santana Lopes e Carmona Rodrigues em 2004 e 2005. Mas, para o PSD Lisboa, as permutas só foram anuladas “por clara falta de defesa da câmara”.

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Em 2014, a autarquia chegou a um acordo com a Bragaparques para ficar com ambos os espaços — Parque Mayer e Feira Popular — por 101 milhões de euros. Mas a empresa de Domingos Névoa pediu ainda uma indemnização de 345 milhões de euros. A decisão de um tribunal arbitral chegou na semana passada: a autarquia está obrigada a pagar 138 milhões à Bragaparques — decisão de que ambas as partes vão recorrer.

O PSD acusa João Soares, António Costa e Fernando Medina de terem feito várias “trapalhadas” em todo o processo. Mas Duarte Cordeiro, atual vice-presidente da câmara, retribui as críticas. “Não aceitamos que se faça uma tentativa de se reescrever a história ignorando a origem dos factos que tem como consequência a decisão que foi tomada”, disse na semana passada, depois de conhecida a decisão do tribunal arbitral.

No debate sobre o Estado da Cidade, na semana passada, Fernando Medina acusou a bancada social-democrata de “desplante” e “amnésia”. Confrontado por Margarida Saavedra, do PSD, sobre os termos da decisão do tribunal arbitral, o autarca elogiou ironicamente a deputada por “relatar a história omitindo os pontos fundamentais”. “O que nós temos feito desde o início é resolver o emaranhado” jurídico que o executivo socialista herdou do PSD, disse Fernando Medina.