Por volta da uma da manhã, num cruzamento na cidade de Indianápolis, nos EUA, um Tesla Model S de 2015 embateu violentamente numa árvore e, de seguida, incendiou-se. Ao volante seguia Casey Speckman, uma recém-licenciada em direito, de 27 anos, e Kevin McCarthy, de 44 anos, ex-agente do FBI e presidente executivo de uma empresa de software local onde ambos trabalhavam. A condutora foi declarada morta ainda no local do sinistro, o seu acompanhante ainda foi transportado para o hospital, onde acabou por morrer.
Embora, hoje em dia, tudo o que envolva a Tesla e os seus automóveis elétricos tenda a estar envolto em alguma controvérsia, neste caso em concreto há algo que parece ser unânime: todos os testemunhos referem que o veículo abordou o cruzamento a alta velocidade e que perdeu o controlo antes de bater na árvore. Depois, ter-se-á incendiado de forma violenta, ao que se terá seguido uma explosão que projetou detritos em múltiplas direções, obrigando alguns condutores a terem que manobrar para não serem atingidos.
E é neste ponto que a marca de Palo Alto volta a estar no centro das atenções. Em primeiro lugar, pelas dimensões do fogo. Tanto as testemunhas como o responsável pelos bombeiros de Indianápolis referem que foi necessário lidar com vários focos de incêndio: o principal no próprio veículo, e outros que se iniciaram em redor, aparentemente oriundos de fragmentos das baterias de iões de lítio que alimentam o motor do Model S.
O mesmo responsável dos bombeiros sublinhou a grande intensidade das chamas, que exigiram entre cinco e 10 minutos e uma considerável quantidade de água para poderem ser controladas, bem como os esforços a que obrigaram os bombeiros no seu combate, o que acabou por atrasar o socorro às vítimas. As baterias pegaram fogo “quase como se fossem projéteis”, afirmou esta testemunha, que acrescentou: “à falta de melhor termo, o automóvel como que se desintegrou”, espalhando estilhaços e detritos em todas as direções, nalguns casos a uma distância de quase 100 metros – o que fez deste o maior incêndio envolvendo um automóvel elétrico que a corporação de Indianápolis (que tem recebido treino específico para este tipo de situação ao longo do último ano) já enfrentou.
A maioria dos atuais automóveis elétricos constitui preocupação adicional por fazerem uso de baterias compostas por centenas de pequenas células de iões de lítio que, em determinadas circunstâncias, podem originar uma reação em cadeia. E, porventura, foi isto o que esteve na origem deste incêndio – ou, pelo menos, das suas proporções.
Nestas situações, a Tesla estabeleceu o seu próprio procedimento de atuação. A marca, na informação publicada acerca dos seus veículos, refere que se a bateria de alta voltagem pegar fogo, deverá ser usada uma grande quantidade de água para arrefecê-la, ou deixá-la arder. Algo que, neste caso, para os bombeiros, não era opção, já que havia vítimas envolvidas.
Outra questão que de imediato se colocou, e que está a tentar ser apurada pelas autoridades locais, é se, na altura do acidente, o veículo tinha ativado o sistema de condução semi-autónoma AutoPilot, elemento que está na ordem do dia desde que, em junho passado, um condutor de um Model S perdeu a vida na sequência de um sinistro ocorrido enquanto viajava com este sistema ligado.
Em comunicado, além de expressar o lamento pelas vítimas causadas por este acidente, a Tesla informou que os danos no Model S envolvido eram tão extensos, que o veículo acabou por não transmitir quaisquer dados para os servidores da empresa, os quais permitiriam confirmar se o AutoPilot estava, ou não, ativo.
Ainda assim, a marca californiana reiterou a disponibilidade para colaborar com as autoridades nas investigações e adiantou que será pouco provável que o AutoPilot estivesse ativo: se assim fosse, o sistema limitaria a velocidade máxima aos 55 quilómetros por hora permitidos no local, valor – ao que tudo indica – bastante inferior àquele a que o veículo circulava quando se deu o acidente.
Este foi o quarto automóvel da Tesla a pegar fogo, em 2016, nos Estados Unidos. Um dos acidentes ocorreu após um embate numa autoestrada, os outros dois aconteceram com veículos imobilizados (num deles um condutor preparava-se para efetuar um test-drive, no outro a viatura estava em processo de carga num supercarregador da marca).
Só em 2015, incendiaram-se nos EUA 174 mil automóveis. A esmagadora maioria nada tinha que ver com a Tesla. Como os próprios bombeiros de Indianápolis fizeram questão de destacar, qualquer veículo, seja de que tipo for (a gasolina, a gasóleo, híbrido ou totalmente elétrico) tem potencial para causar uma colisão violenta, com resultados idênticos aos verificados com o Model S.