“Obrigada por reconhecerem a capacidade de continuar a minha carreira de 34 anos diante de sexismo e misoginia explícitos, bullying constante e abuso implacável.” A notícia de que Madonna foi eleita, na passada sexta-feira, a “Mulher do Ano” no evento Billboard Women in Music 2016 foi suplantada pelo longo e honesto discurso da artista, que fez um resumo de todas as dificuldades pelas quais passou nas últimas décadas. Aos 58 anos, Madonna apontou o dedo à indústria da música, mas também à sociedade.

“Nova Iorque era um sítio assustador. No primeiro ano apontaram-me uma arma, fui violada num telhado com uma faca apontada à garganta. E o meu apartamento foi invadido e assaltado tantas vezes que deixei de trancar a porta”, começou por dizer diante de uma plateia atenta, de olhos postos naquela que é considerada uma das mulheres mais poderosas e influentes no universo da música.

“Nos anos seguintes, perdi quase todos os meus amigos para a sida, para as drogas ou para tiros. Como podem imaginar, todos estes acontecimentos inesperados não só ajudaram a tornar-me na mulher ousada que hoje está diante de vocês, mas também recordaram-me que sou vulnerável. Na vida, não há verdadeira segurança a não ser acreditarmos em nós próprios”, continuou.

Feita a viagem no tempo para revelar um passado amargo e de difíceis começos, Madonna enumerou um rol de críticas, embora sempre no mesmo tom (emocionado) de voz: “Não há regras… se formos um rapaz. Se formos uma rapariga, temos de jogar o jogo. Que jogo é esse? É-vos permitido ser engraçadas e sexy, mas não sejam demasiado espertas. Não tenham uma opinião. Ou, então, não tenham uma opinião que não esteja alinhada com o status quo.”

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Mais importante, assegura, é não envelhecer, coisa que é considerada um pecado. “Vocês vão ser criticadas, vão ser vilipendiadas e as vossas músicas não vão passar na rádio.”

“As pessoas dizem que sou muito controversa, mas acho que a coisa mais controversa que já fiz foi ficar por aqui”, disse num tom de conclusão, fazendo referência a uma já longa lista de artistas que desapareceram — Michael Jackson, Tupac, Prince, Whitney Houston, Amy Winehouse e David Bowie, falecido no início deste ano. “Eu ainda estou de pé. Sou uma das sortudas.”

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