A Organização dos Trabalhadores de Moçambique – Central Sindical (OTM-CS) considerou esta quinta-feira, em Maputo, que o país está numa situação de “quase bancarrota” e acusou a classe política de “traição”, declarando que “a paciência tem limites”.

“Além da crise político-militar, somámos ainda neste ano prestes a findar a crise económica e financeira provocada pela conjuntura externa, endividamento excessivo do país e calamidades naturais. O conjunto destes fatores levou-nos à quase bancarrota em que estamos mergulhados”, disse o secretário-geral da OTM-CS, Alexandre Munguambe, no discurso de fim de ano da organização.

Munguambe assinalou que a falta de confiança dos doadores e credores internacionais em relação a Moçambique levou ao corte da ajuda internacional, os investimentos derraparam para níveis muito baixos e a inflação disparou para patamares históricos. O atual custo de vida, prosseguiu o secretário-geral da OTM-CS, não pode ser ignorado nem perpetuado por mais tempo pelo poder político e pelos gestores económicos.

“Alertamos, por conseguinte, para os perigos desta situação, ao mesmo tempo em que lembramos que a paciência tem sempre os seus limites”, acrescentou Alexandre Munguambe, cuja organização é aliada da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder. Munguambe acusou a classe política moçambicana de ter traído o povo ao apostar na confrontação política e militar, numa alusão aos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, no centro e norte do país. “O país e os moçambicanos foram assim traídos por este grupo, que mergulhou o país numa crise, cujas consequências são hoje carregadas nas costas pelos trabalhadores e suas famílias”, declarou.

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Dados oficiais indicam que Moçambique vai fechar o ano com um crescimento económico abaixo de 4%, o mais baixo dos últimos 15 anos, e com uma inflação próxima dos 30%, um nível histórico quando comparado com a inflação abaixo dos dois dígitos dos últimos anos.

Paralelamente, o metical conheceu uma derrapagem acima de 40% em relação ao dólar, o investimento registou um declínio acentuado e o serviço da dívida atingiu níveis já considerados insustentáveis.

Ao mesmo tempo, o país está a braços com a instabilidade política e militar, na sequência da recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar nas seis províncias onde reivindica vitória, acusando a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, de fraude no escrutínio.

Governo e Renamo estão envolvidos em negociações de paz, mas até agora ainda não houve resultados palpáveis.