Vários tiros terão sido disparados esta noite junto à base militar de Tancos, de onde na semana passada foram roubados diversos materiais de guerra do Exército português. A notícia é do Correio da Manhã, que detalha que os tiros foram ouvidos às 21h30 deste domingo, junto à casa do comandante do regimento e em várias zonas daquela base militar. O mesmo jornal escreve ainda que as equipas de vigilância foram reforçadas, tendo sido vistos vários homens a patrulhar o mato que circunda a base militar.

O incidente acontece mais de uma semana depois de o Exército ter confirmado que os Paióis Nacionais de Tancos — armazéns naquela base militar onde é guardada grande parte do arsenal de guerra do país — tinham sido assaltados. Dos paióis desapareceram várias dezenas de artigos de guerra, sobretudo explosivos. O Exército recusou divulgar as quantidades de material furtado, mas o diário El Español avançou este domingo com uma lista pormenorizada do material desaparecido. E, como explicam especialistas ouvidos pelo Observador, as armas roubadas em Tancos podem ser usadas para fins assustadores.

Espanha divulga a lista de material roubado em Tancos

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Como consequência direta do assalto, o Chefe de Estado-Maior do Exército decidiu exonerar cinco comandantes, de unidades com ligações diretas aos Paióis Nacionais de Tancos. O porta-voz do Exército já esclareceu que se trata de uma exoneração apenas até serem concluídas as investigações ao furto do material, para garantir a isenção do apuramento dos factos, mas o afastamento dos cinco comandantes estará a ser mal recebido pelas chefias militares, escreve esta segunda-feira o Diário de Notícias.

De acordo com fontes referidas pelo DN, a exoneração dos cinco comandantes estará a ser entendida como uma imposição direta do Ministério da Defesa, como forma de evitar consequências políticas para o ministro, Azeredo Lopes, cujas intervenções estão a ser consideradas “despropositadas” no interior das Forças Armadas. É neste contexto de desconfiança do Exército relativamente à gestão política do incidente que decorre, na tarde desta segunda-feira, uma reunião do Conselho Superior do Exército, órgão de consulta que reúne as mais altas patentes deste ramo das Forças Armadas.

Entretanto, a Polícia Judiciária Militar continua a investigar o roubo em Tancos. No centro da investigação estão as medidas de segurança que protegem os paióis: grande parte da vedação ainda estava à espera de obras de remodelação e o sistema de videovigilância que permite o controlo dos acessos aos armazéns está inoperacional há dois anos. O Exército confirmou na semana passada, em comunicado, que a vedação oeste dos paióis tinha sido reforçada já este ano, e que as restantes três frentes aguardavam uma intervenção para breve.

Para que pode servir o armamento roubado em Tancos? É assustador

Esta segunda-feira, o responsável da construtora que fez as obras nas vedações dos paióis diz, em declarações ao jornal Público, que o trabalho decorreu com normalidade e considera que a única forma de aceder aos paióis teria sido através da utilização de uma manobra de distração para permitir a abertura do portão. “O acesso aos paióis é feito por um portão de alta segurança. O que faz sentido é que alguém tenha aberto o portão de segurança [para o veículo que terá transportado o material roubado entrar] e que o buraco na vedação tenha sido aberto como mera manobra de distração”, disse Manuel Castelão àquele jornal.

Os Paióis Nacionais de Tancos aguardavam financiamento por parte do Ministério da Defesa para a realização das intervenções em falta — reforço das vedações leste, norte e sul e instalação de novo sistema de videovigilância — em 2018. Mas o assalto deverá agora motivar uma antecipação deste investimento, que, por ser superior a 299 mil euros, necessita de aprovação ministerial.

O furto de material em Tancos está também no centro da agenda política destes dias. O Presidente da República já veio pedir “uma investigação que apure tudo, factos e responsabilidades”. Marcelo Rebelo de Sousa recebe esta segunda-feira em Belém o CDS e em cima da mesa estará, além do incêndio em Pedrógão Grande, o roubo de material de guerra em Tancos. O partido considera que os dois episódios contribuíram para uma quebra grave da confiança dos portugueses nas instituições do Estado.