Em França, a primeira companhia de bailado (da Ópera de Paris) nasce ainda no século XVII, para ter réplicas em várias outras cortes europeias. No início do século XX volta a ser em Paris que o ballet renasce na sua expressão moderna com Sergei Diaghilev e os famosos Ballets Russes. Esta nova forma de arte foi tão impressiva que os maiores artistas da época não deixaram de a registar, como Marcel Proust, Degas ou Almada Negreiros. Nos anos 30 quase todas as capitais europeias criam a sua própria companhia de bailado. Em Portugal, a primeira companhia estatal (já havia o Ballet Gulbenkian, fundado em 1965) surge apenas em 1977, num gesto inesquecível do poeta David Mourão Ferreira, enquanto secretário de Estado do 1.º Governo Constitucional, que em junho desse ano assina o diploma que funda legalmente a CNB — Companhia Nacional de Bailado.

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Logo no mês seguinte começam, em Londres, as audições para recrutar bailarinos. Muitos vieram do Royal Ballet, outros do Ballet Gulbenkian e alguns entraram como estagiários. Era uma mistura alegre de portugueses e estrangeiros, “uma família de cerca de 30 pessoas” como recorda Cristina Jesus, ex-bailarina e um dos membros mais antigos da companhia, onde chegou em 1977. Tinha então 18 anos. Armando Jorge, com uma carreira internacional de bailarino clássico, é chamado para dirigir a CNB, apoiado por Luna Andermatt, Vera Varela Cid e Pedro Risques Pereira. Investe sobretudo na criação de um corpo de baile forte, de onde foram depois emergindo os solistas, e num repertório assente no ballet clássico com algumas incursões no moderno.

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A urgência desses dias marca a fundação do grupo. Dia 5 de Dezembro de 1977, menos de seis meses depois do despacho de David Mourão Ferreira, já estão em cima do palco do Teatro Rivoli no Porto e uma semana depois fazem a estreia oficial no Teatro Nacional de São Carlos. Dançaram o 2ª ato do Lago dos Cisnes de Petipa na versão de Brydon Page, com música de Tchaikovski e cenário de Cruzeiro Seixas, Canto de Amor e Morte de Patrick Hurde, com música de Fernando Lopes-Graça e Suíte Medieval, de Brydon Page com música de Frederico de Freitas.

A primeira vez que as bailarinas da CNB dançaram descalças, na peça As Troianas de Olga Roriz, em 1985. Fotografia, Rodrigo Ferreira

Viviam-se os anos de chumbo do PREC, Mário Soares era primeiro-ministro. Hoje, 40 anos depois, Paulo Ribeiro, atual diretor da CNB, ainda diz, não sem alguma amargura “talvez um dia os portugueses se orgulhem dos seus bailarinos como se orgulham dos seus jogadores de futebol”.

O ballet em tempos de revolução

Nesse verão de 1977 também se corria para dar aos portugueses uma modernidade artística que os outros países já tinham há muito. Tal como as companhias de teatro recém-formadas se desdobravam em digressões pelo país obscuro e medieval, também os bailarinos da CNB fizeram essa cruzada. Hoje ser-nos-á difícil imaginar montar espetáculos de ballet nessas vilas e aldeias de província com pequenos teatros, gelados, com palcos exíguos, em pré-fabricados, em ginásios, pavilhões desportivos onde o público via, entre a estranheza e o encanto, aquelas histórias contadas com música e movimentos, roupas opulentas e sapatilhas de pontas.

Cristina Jesus, antiga bailarina que hoje ocupa o lugar de diretora de comunicação na companhia, recorda que, apesar das atribulações, “era mais fácil trabalhar nesses anos 70 e 80, quando havia da parte dos governos e das autarquias uma disponibilidade e empenho em nos receber. Hoje as logísticas e as disponibilidades financeiras, o tipo de gestão da cultura, tornaram tudo muito mais difícil. Também há muito mais oferta cultural com a qual temos de competir”.

Armando Jorge, o bailarino internacional que regressou a Portugal para fundar a Companhia Nacional de Bailado que dirigiu durante 15 anos

Apesar destas dificuldades, a CNB decidiu que a melhor maneira de assinalar as suas quatro décadas era ir ao encontro dos portugueses e desde Março deste ano está a fazer a maior tournée nacional da sua história: 37 cidades com três programas diferentes mais um documentário e os 73 bailarinos da companhia a rodarem. Nos dias 27, 28 e 29 de Julho, às 22 horas, voltam a apresentar-se no Festival Ao Largo, em Lisboa.

Em 1977, o ex-bailarino, coreógrafo e atual diretor artístico da companhia, Paulo Ribeiro, vivia no Rio de Janeiro, estudava Psicologia, era judoca e não tinha descoberto a dança. Portugal era onde vinha passar as férias, onde podia ver espetáculos de ballet na televisão sem imaginar que um dia ele próprio se tornaria um bailarino. Em conversa com o Observador, lembra-se que foi ainda nessa década que começou a frequentar os cursos de verão da companhia. “Fui para a Bélgica estudar, foi lá que descobri a dança e que deixei tudo para traz e comecei a dançar. Sempre que vinha a Portugal vinha fazer aulas com o Armando Jorge, mas depois só em 2011, já como coreógrafo, é que se dá o meu grande encontro com a CNB, quando a Luísa Taveira me convidou para fazer uma peça e nasceu Uma coisa em forma de Assim, com o Bernardo Sassetti, e depois DuDon de Soi um dos trabalhos que mais gostei de compor, por ser dirigido aos bailarinos da companhia de diferentes idades”.

Cristina Jesus, em 1986, a dançar o solo Danças Breves criado por Carlos Prado. Foto: Rodrigo Souza

Paulo Ribeiro não tem dúvidas: “A criação da CNB foi um momento decisivo para a cultura portuguesa, que fez entrar a dança na linguagem nacional, porque só existia o Ballet Gulbenkian, que apenas chegava aos públicos de Lisboa, Porto e pouco mais e que não era suficiente, tal como hoje só existe uma CNB e é pouco. Não podemos carregar com a dança em Portugal, tem que haver mais companhias apoiadas pelo Estado, para que a dança se torne parte do quotidiano do país e não uma exceção“.

Nas primeiras décadas, a CNB dançava sobretudo repertório clássico, quer em peças icónicas da história do bailado, como peças mais modernas. A existência do Ballet Gulbenkian, cuja linguagem base era a dança contemporânea, deixava à CNB quase a obrigação de fazer os clássicos, ainda que em versões modernas. É assim que Portugal tem bailarinos seus a dançarem Les Sylphides de Michel Fokine, logo em 1978, Carmina Burana, 1979, Serenade, de Balanchine em 1982, As Troianas de Olga Roriz, em 1985…

Cristina Jesus dançou na CNB entre 1977 e 1997, lembra-se que, nos anos 80, se fizeram digressões no Brasil, China ou França e Espanha. “Hoje em dia fazem-se poucas digressões”, afirma Paulo Ribeiro “e precisamos muito de ter um repertório que atraia os programadores estrangeiros, para dar visibilidade internacional à companhia. No próximo ano teremos a primeira co-produção com um teatro francês, o Théâtre National de Chaillot”, um dos palcos privilegiados da dança na capital francesa.

Do Cantoluso a Pedro e Inês: 40 anos a dançar Portugal

O Cantoluso, de 1997, uma criação de Armando Maciel, Rui Lopes Graça e David Fielding

São os mais virtuosos e, provavelmente, os mais esquecidos atletas de alta competição portugueses. Não enchem estádios, não sobem ao pódio, não geram paixões e ódios. Começam muito jovens, treinam 8 horas por dia, às vezes mais, 7 dias por semana. A leveza e graciosidade com que tecem cada movimento ilude-nos quanto às dores no corpo, aos pés que se deformam a pouco e pouco, às lesões dolorosas à espreita em cada salto dado para nos lembrar o prodígio humano. Se há vida feita de sacrifícios diários é a de um bailarino, só comparável aos atletas de alta competição, com a agravante de que o seu esforço tem sempre que parecer inexistente. No entanto eles não enchem capas de jornais e revistas, não alimentam programas de comentários na TV.

Paradoxalmente, há cada vez mais gente a dançar. “Há escolas de dança muito boas a surgir um pouco por todo o lado. Durante anos praticamente só havia a Escola de Dança do Conservatório e a Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, que formou alguns dos melhores bailarinos deste país. Hoje já recrutamos muito mais bailarinos em Portugal, porque eles estão também muito mais poliglotas, e uma companhia de âmbito nacional tem que ter bailarinos que dominem todas as linguagens da dança”, explica Paulo Ribeiro.

Em 1996 dá-se um momento de grande viragem na CNB com a entrada de Jorge Salavisa. Primeiro para reestruturar a companhia e depois como diretor artístico. Paulo Ribeiro considera que Salavisa foi um marco na história da CNB.

“A CNB vivia num castelo fora da terra, levou algum tempo a habituar-se a outros processos físicos, emocionais, interpretativos exigidos pela dança contemporânea. Mas quando eu cá cheguei, em 2011, senti que a companhia tinha uma abertura espetacular para tudo, mesmo para fazer coisas arriscadas como a incorporação de teatro nas peças. Porque um grande intérprete de dança, com uma grande consciência de si e do seu corpo, é capaz de dançar tudo”, reflete Paulo Ribeiro.

São desses anos finais da década de 90 a Cinderella, de Michael Corder (1997) e o inesquecível Cantoluso, da autoria de três então bailarinos da companhia, revelados nos estúdios coreográficos (criados, em 1984, por Armando Jorge, para suprimir a falta de bailarinos portugueses). Armando Maciel, Rui Lopes Graça e David Fielding ( falecido em 2008). Em Cantoluso, dança-se o fado, a morna e o chorinho, dança-se com a guitarra portuguesa de Carlos Paredes numa peça que ficará na história da dança nacional. É também neste ano que a Fundação EDP se torna o principal mecenas da instituição, uma parceria que dura até hoje.

Em 1998 acontece outro dos grandes momentos da CNB com a primeira, e até agora única criação da coreógrafa a flamenga Anne Teresa de Keersmaeker para uma companhia que não a sua: The Lisbon Piece. Nesse ano também, pela primeira vez a CNB dança um composição do importante coreografo William Forsythe, In the Middle Somewhat Elevated.

Em 1999 a ex-bailarina da CNB, Luísa Taveira, estreia-se como diretora artística da mesma e continua a apostar na renovação e na tradição fazendo conjugar peças clássicas como Giselle com peças contemporâneas. Em 2002, o coreógrafo turco Mehmet Balkan assume a direção da CNB e em 2003 chega a chave para a muito esperada “casa própria”: o teatro Camões. “No Teatro de S. Carlos a CNB fazia parte da programação, não era livre de fazer a sua própria programação uma vez que a casa não era a sua”, diz Cristina Jesus. “Aqui no Teatro Camões passamos a poder mostrar a nossa identidade, receber coreógrafos, desenvolver os nossos projetos. Tivemos cá a Pina Bausch, que considero ser um marco histórico na CNB”, recorda ainda.

Pedro e Inês, 2003, de Olga Roriz, dançado por Ana Lacerda e Didier Chazeau

Em 2003 a dança portuguesa obriga-nos a um sobressalto com Pedro e Inês, de Olga Roriz, seguramente a criação com que esta coreógrafa assina a ouro o seu papel na dança portuguesa. Podendo figurar junto a grandes obras literárias e dramatúrgicas como A Castro de António Ferreira, ou Pedro, o Cru, de António Patrício, Inês Morre, de Miguel Jesus, para O Bando, fazendo emergir as forças secretas que vão unir o destino dos amantes e o nosso ao deles. Esta obra atravessou várias vezes os oceanos, com digressões à Rússia, Brasil, Tailândia, foi dançado em todo o país sempre comovendo e deslumbrando com o seu carisma.

Com a extinção do Ballet Gulbenkian, em 2005, e a entrada em, 2009, de Vasco Wellenkamp, os bailarinos da Nacional passam a ter todos os olhos postos em si, e a exigência de se desdobrarem numa multiplicidade de linguagens coreográficas. O repertório da companhia passa a ser mais contemporâneo sem nunca deixar o clássico.

“Temos sempre mais público nas peças clássicas”, revela Cristina Jesus,”mas isso está a mudar, já há peças contemporâneas que esgotam todas as récitas, e a entrada em Lisboa de cada vez mais turistas despertos para a cultura, está a fazer com que haja cada vez mais público para o Teatro Camões”.

Paulo Ribeiro, a dança como linguagem política

Depois de ter trabalhado como bailarino e coreografo na Bélgica, depois de ter colocado o Teatro Viriato, em Viseu no mapa da dança portuguesa e europeia, e de ter dirigido o Ballet Gulbenkian, Paulo Ribeiro é convidado para suceder a Luísa Taveira à frente da CNB, o que aconteceu em 2016. Antes disso aconteceu Uma coisa em Forma de assim, a um coreógrafo que gosta de poesia e a leva várias vezes para o palco. Aqui foi Alexandre O’Neill, em 2014 foi Fernando Pessoa, com Lídia.

Uma Coisa em Forma de Assim, juntava 9 coreógrafos portugueses ao pianista Bernardo Sassetti

Uma coisa em forma de assim, em 2011, juntava 9 coreógrafos portugueses — Clara Andermatt, Francisco Camacho, Benvindo Fonseca, Rui Lopes Graça, Rui Horta, Paulo Ribeiro, Olga Roriz, Madalena Victorino e Vasco Wellenkamp — à composição e interpretação do pianista Bernardo Sassetti (que morreu no ano seguinte) e marca o encontro entre Paulo Ribeiro e os bailarinos da CNB, e a sua busca mostrar o lado político da dança.

“Um país por mais pequeno que seja tem que ter a dança como linguagem política, que é uma das funções da arte, porque naquilo que nela não se vê, a dança chega como poucas aos interstícios do humano. Só ela diz aquilo que não pode ser dito por palavras. Até porque a dança não funciona sozinha, mas congrega todas as outras artes, da literatura à música. Tudo converge para o corpo e na dança o corpo ganha essa dimensão sobrenatural de levar ao extremo todos os sentidos. A pobreza de Portugal revela-se em ter apenas uma companhia de dança a nível nacional”, afirma o diretor artístico da CNB.

Nos últimos anos, a CNB tem chamado jovens dramaturgos, cineastas, poetas, músicos. “Abrimos novas frentes de batalha”, diz Paulo Ribeiro, como os estúdios de formação na Vítor Cordon, dirigidos pelo coreógrafo Rui Lopes Graça, “que apresentarão em breve a programação para a temporada de 2018”, mas que como todas as companhias de dança e teatro portugueses estão neste momento sem saber como designar o futuro, uma vez que a DGArtes ainda não se pronunciou sobre os subsídios a atribuir no próximo ano. Além disso, está a ser criada uma escola de dança em Cabo-Verde, numa parceria com este país de Língua Portuguesa. “A CNB não precisa de uma revolução, a CNB é uma companhia de evolução, neste sentido precisa de reforçar a sua identidade, a sua mundividência para ser reconhecida e evocada com orgulho por todos os portugueses”, conclui o coreografo.

Uma polémica chamada Estúdios Vítor Cordon

Ao herdar a direção da CNB de Luísa Taveira (hoje no CCB), Paulo Ribeiro herdou também o projeto para a abertura dos Estúdios Vítor Cordon à comunidade. O edifício, na baixa lisboeta, foi construído nos anos 40 para albergar o Ginásio Clube de Portugal e passou a ser a sede e local de trabalho da CNB desde os anos 80 até à mudança para o Teatro Camões, em 2003. Foi ali que, nos anos 90, Pina Bausch compôs a obra dedicada a Lisboa, Mazurka Fogo. Atualmente, o espaço é dividido pelo Teatro Nacional de S. Carlos e pela CNB.

Crianças protestam à porta de Teatro Camões contra cancelamento de espectáculo

Luísa Taveira delineou um programa que abria o espaço à comunidade e previa o desenvolvimento de projetos no âmbito educativo, comunitário e criativo que começou a ser implementado em Setembro de 2016 já depois da sua saída da CNB. O programa iniciou-se então como um projeto piloto de aulas abertas à comunidade: aulas livres para adultos, aulas para profissionais da dança e aulas para crianças dos 6 aos 9 anos. Uma das características destas aulas era serem acompanhadas por um pianista.

Mas, poucos meses depois, era conhecida a demissão do coordenador pedagógico dos estúdios, Bruno Cochat, a sua substituição pelo bailarino e coreógrafo Rui Lopes Graça, da CNB, e a recusa de Paulo Ribeiro de remontar o espetáculo “1HD — Uma História da Dança” feito com alunos da Voz do Operário. Decisões que motivaram cartas e petições públicas de repúdio pelo afastamento do bailarino.

Paulo Ribeiro quer Tânia Carvalho e Sasha Waltz na Companhia Nacional de Bailado

No final deste ano letivo, Rui Lopes Graça e Paulo Ribeiro convocaram os pais dos 8 alunos que frequentavam estas aulas para anunciar que, no próximo ano letivo, as mesmas não voltariam a acontecer. E novamente houve uma vaga de críticas dirigida ao diretor da CNB. Madalena Alfaia, mãe de uma das crianças inscritas, foi uma dessas vozes e ao Observador reiterou o que escreveu na sua página do facebook. “E agora acabou [a escola de dança] por razões que nos foram (mal) explicadas pessoalmente pelo diretor artístico e pelo coordenador dos Estúdios. Mais do que questionar os fracos argumentos, fico a pensar para que servem aquelas salas, aqueles pianos, o que farão aquelas pessoas. A Escola de Dança da CNB acabou antes sequer de ter realmente começado”.

Paulo Ribeiro aceitou falar sobre o fim destas aulas que, segundo ele, “nunca foram, nem nunca pretenderam ser uma escola de dança, mas sim um projeto de aulas abertas a crianças dos 6 aos 9 anos, que teve neste ano a sua fase experimental (…) e que feita avaliação do mesmo se chegou a conclusão de que não era viável pagar a duas professoras e um pianista para darem aulas a 8 alunos quando o Conservatório já oferece o mesmo serviço. Não faz sentido duas instituições do estado estarem a pagar a professores para lecionarem aulas deste tipo a poucos metros de distancia uma da outra. O Conservatório já oferece quer aulas profissionalizantes quer aulas abertas para crianças. As potencialidades dos Estúdios Cordon e a responsabilidade de uma Companhia Nacional de Bailado não podem restringir-se a fazer escolinhas de dança. O que nós temos que fazer é oferecer aquilo que outros não oferecem: workshops dados por profissionais, espaços para os projetos de autor, para novos coreógrafos terem condições de ensaiar, acolhimento a outras companhias, aulas de apoio a bailarinos profissionais, aulas de apoio às várias escolas de dança do país. Nunca se pensou tornar os Estúdios Vítor Cordon uma escola de dança, isso não era sequer exequível pois os nossos bailarinos não tem formação pedagógica para ensinarem numa escola, os estúdios não têm condições espaciais para terem ali crianças tão pequenas mas, sobretudo as suas potencialidades têm que ser rentabilizadas. A nova programação para aquele espaço as pessoas poderão ver que, entre nós e o Teatro de S. Carlos, não haverá uma só hora em que os espaços fiquem vazios e os pianos deixem de ser tocados. Haverá, inclusive, workshops pensados para crianças dos 6 aos 9 anos, como um momento de aprendizagem intensiva, e que estas crianças que estiveram neste ano piloto poderão frequentar”, afirma o diretor artístico da CNB.

E a eterna juventude?

Há 40 anos, quando foi criada a CNB “não se pensou que os bailarinos não possuem o elixir da eterna juventude” ironiza Paulo Ribeiro, quando questionado sobre os muitos bailarinos da CNB que já não dançam mas ainda não chegaram à idade da reforma (55 anos). A existência de bailarinos parados que podiam estar a dar aulas à comunidade foi outra das críticas que se ouviram ao longo deste ano. O diretor da companhia nega que isto seja verdade pelo menos desde que ele assumiu o cargo. “Quando fiz o DuDon de Soi, em 2011, tive logo essa preocupação de conceber uma peça onde pudessem dançar bailarinos de todas a idades e o mesmo voltei a fazer desde que estou cá como diretor. Na digressão comemorativa dos 40 anos tivemos os 73 bailarinos a participar. Além disso, há os espetáculos para a infância que são executados pelos mais velhos, há as master classes, há workshops, há as aulas para adultos nos Estúdios. Entre bailados, atividades e projetos com escolas, os ensaios da nova temporada são mais de 10 os programas nos quais está toda a companhia a trabalhar”.

A questão do desgaste rápido dos bailarinos e a sua luta para terem reformas e reconversões na carreira é algo que continua em cima da mesa e que “não tem merecido a atenção de partidos políticos, deputados ou governo” afirma Paulo Ribeiro que diz ainda “desafiar” aqueles que acusam os bailarinos mais velhos de não dançarem “a fazerem antes pressão sobre a tutela para enquadrar esta realidade, para fazer uma legislação que permita aos bailarinos, que têm que deixar de dançar devido à idade ou a lesões, terem outras alternativas de carreira. Por exemplo um bailarino da CNB não pode dar aulas numa escola, porque legalmente não tem formação adequada para o fazer“.