“Obrigado por tudo, Dr. Sakari Orava e sua equipa”, escrevia Fábio Coentrão nas redes sociais a 20 de abril de 2016, após a operação à coxa direita que lhe retirou a possibilidade de entrar nas contas do Campeonato da Europa do ano passado. O lateral do Real Madrid, na altura emprestado ao Mónaco e hoje no Sporting, foi aconselhado a recorrer “ao melhor dos melhores” para ultrapassar o grave problema contraído e tornou-se mais um nome numa extensa lista de 20 mil desportistas a passarem pelo especialista finlandês (que admite não saber o nome de todos, mas garante ser capaz de reconhecer qualquer paciente pela cara). O último, esta manhã, foi Dembelé, do Barcelona, a terceira contratação mais cara de sempre do futebol mundial. Mas afinal, o que tem este médico escandinavo de especial?

Nascido em Kokkola, o “Dr. House do desporto” é o homem que trata por tu os maiores quebra-cabeças físicos dos atletas de topo, mantendo a boa disposição e jovialidade que tinha há quase quatro décadas, quando começou depois de formar-se na Universidade de Oulu. E isso ficou bem patente numa entrevista ao El Mundo, quando falou do caso mais complicado que lhe passou pelas mãos. “Foi o de Guardiola. Era uma rotura difícil de detetar, porque tinha sofrido muitas na mesma zona. Operei-o em Barcelona, não foi uma intervenção difícil, e passados quatro meses estava perfeito. Pior momento? Quando acabei a operação tive de dar uma conferência de imprensa, havia pelo menos 30 jornalistas”, atirou. Nota: em 1998, o agora treinador do Manchester City que jogava no Barcelona tinha passado por mais de dez médicos e andava há quase um ano a parar e jogar com dores…

Campeão nacional de boxe na categoria de -54kg quando tinha apenas 17 anos (deixou aos 19 a modalidade, como explicou à Marca), o guru da medicina desportiva, com um currículo demasiado cheio para condensar, já tratou também de nomes como Van Basten, Deschamps, Woodgate, Esnaider, Barzagli ou David Beckham, inglês que contraiu uma lesão gravíssima no tendão de Aquiles em 2010, que colocou em risco a carreira, mas que regressou aos relvados e passou ainda por LA Galaxy e PSG, três anos depois. Mas não se fica pelo futebol, tendo devolvido à condição física ideal outros campeões como Haile Gebrselassie, Frankie Fredericks, Merlene Ottey ou Marta Domínguez, que depois de recuperada lhe chamou “o Deus da medicina, com um trato carinhoso, paternal e humilde”. Mas foi o etíope que dominou anos a fio o fundo do atletismo do mundial que lhe caiu no goto.

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“Conheci muitos desportistas famosos, mas Gebrselassie foi quem mais me impressionou. É uma pessoa muito modesta, amável, educada e que me agradeceu milhares de vezes”, contou na mesma entrevista. E daí saiu também uma outra história curiosa: o etíope tinha-lhe prometido a medalha de ouro na maratona dos Jogos Olímpicos de Pequim mas, por sofrer de asma, acabou por abdicar da prova devido à poluição do ar. Assim, fez os 10.000 metros, mas terminou em sexto. No mês seguinte, entrou na maratona de Berlim, ganhou e bateu o seu recorde mundial.

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Fluente em finlandês, sueco, inglês, alemão, espanhol (costuma passar férias em Espanha na sua casa de Fuengirola) e italiano, Orava, que tem como principal hobbie a pintura e o golfe, trabalha com os maiores clubes europeus há décadas, entre os quais Real Madrid, Barcelona, AC Milan, Chelsea ou Juventus, e tem clínicas em Turku (onde Dembelé foi esta terça-feira operado), Roma e Madrid. Em paralelo, o médico foi também o responsável das equipas olímpicas finlandesas em cinco Jogos, entre 1988 e 2000.

“Nesta profissão é preciso ter visão para os diferentes tipos de pessoas que temos pela frente. É mais difícil tratar pessoas famosas que se dedicam profissionalmente ao desporto do que gente normal, porque há um stress maior e temos de escolher cada palavra e ser muito claro nas decisões. Também há alguns mal educados, mas os verdadeiros atletas de alto nível são pessoas encantadoras comigo. Esses conhecem o alcance dos seus problemas nas suas vidas e a importância de resolver os mesmos. Podem ter atitudes mais altivas, mas portam-se bem e são corretos comigo, ouvem-me quando dou explicações”, explica.

Ao final desta manhã, o Barcelona, que tem reencaminhado todos os problemas físicos mais complicados para o finlandês (exemplos: Vermaelen e os jovens Pol Calvet e Jandro Orellana), anunciou que a operação de Dembelé a uma rotura no tendão do bíceps femoral do músculo esquerdo correu da melhor forma e que o tempo de recuperação passou de um período de quatro meses para… três meses e meio.