Um comboio intercidades que fazia a ligação de Guarda para Lisboa com 74 pessoas a bordo descarrilou hoje em Mortágua, não havendo feridos a registar, segundo informação da proteção civil e da empresa CP. O acidente terá sido provocado por um deslizamento de terras que atingiu o lado esquerdo do comboio, embatendo nas carruagens do meio da composição.

O descarrilamento aconteceu pelas 8h40 (hora de Lisboa) à entrada do túnel do Coval, em Mortágua, já depois da paragem em Santa Comba Dão, segundo as mesmas fontes.

O presidente da Câmara de Mortágua, Júlio Norte, confirmou à agência Lusa que o acidente não provocou feridos e verificou-se já em território do vizinho concelho de Santa Comba Dão, mas “no limite dos dois concelhos”.

“O acidente não teve a ver com as obras” em curso nalguns troços da Linha da Beira Alta, acrescentou, frisando que, na sequência dos incêndios de 15 outubro de 2017, os taludes da linha e as encostas na zona estão desprovidos de vegetação, o que “tende a provocar deslizamentos” que arrastam terra, pedras e troncos.

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O sábado “foi um dia em que choveu bastante”, realçou o autarca.

Júlio Norte disse que “a situação está perfeitamente controlada” e que os passageiros saíram sem problemas do comboio acidentado, estando a CP a providenciar o transbordo para autocarros.

O descarrilamento foi da locomotiva e das duas primeiras carruagens, segundo a Lusa. O comboio intercidades, que fazia a ligação da Guarda para Lisboa, transportava 71 passageiros e três elementos da tripulação, segundo uma atualização da CP, que inicialmente referira haver 89 pessoas a bordo.

O comboio, que não tombou, está parado já parcialmente dentro de um túnel — foram as composições que estão à entrada do túnel que saíram da linha.

O comandante operacional distrital de Viseu, Miguel David, afirmou à reportagem da SIC que os passageiros e tripulação foram transportados para a associação do Coval, entre Mortágua e Santa Comba Dão, para serem transportadas de autocarro até Lisboa.

Estão 21 veículos de socorro e 50 operacionais a participar na operação, com bombeiros, GNR e INEM. As causas do acidente estão a ser investigadas por peritos. Esta é uma zona que foi fustigada pelos incêndios do ano passado mas o comandante considerou “prematuro” tirar conclusões sobre se isso poderá estar relacionado com este acidente.

A linha da Beira Alta está cortada e não há previsões de quando voltará a estar operacional.

“A linha da Beira Alta continua interrompida, estando a decorrer trabalhos sob coordenação da Infraestruturas de Portugal, e, até à reposição das condições de circulação, a CP realizará transbordo rodoviário entre Santa Comba Dão e Mortágua, a todos os comboios com origem e destino nesta linha”, lê-se na informação divulgada.

A empresa diz ainda que “lamenta os transtornos decorrentes deste acidente e envidará todos os esforços para minimizar o efeito destas perturbações nas viagens dos seus clientes”.

Ao longo do dia de hoje, segundo informação transmitida pela hora de almoço por fonte oficial da CP, estão previstos circular 14 comboios na linha da Beira Alta.

Acidente evidencia necessidade de obras, dizem municípios de Coimbra

O descarrilamento evidencia a necessidade do investimento de 690 milhões de euros nesta via anunciado pelo Governo, disse o presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM).

Mais um acidente na Linha da Beira Alta, o segundo em menos de duas semanas, “demonstra que essa é uma obra estruturante e necessária” para “uma melhor acessibilidade” entre o litoral e Espanha, através de Vila Formoso, declarou à agência Lusa João Ataíde, presidente da CIM e da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

“Venha a obra o mais rápido possível”, reclamou o autarca, que cumpre o terceiro e último mandato pelo PS, na condição de independente, na liderança do município da Figueira da Foz, no distrito de Coimbra.

A 20 de fevereiro, o tráfego ferroviário também foi interrompido na Linha da Beira Alta, entre Nelas e Mangualde, no distrito de Viseu, devido ao descarrilamento de um vagão de um comboio de mercadorias.

Nesta matéria, a Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões partilha da posição da CIM da Região de Coimbra, que aposta na requalificação da Linha da Beira Alta.

Há dois anos, num encontro com os jornalistas, em Mortágua, os autarcas da CIM da Região de Coimbra, com base num parecer do professor universitário Manuel Tão, especialista em transportes ferroviários, já tinham defendido que esta solução será “mais económica e eficaz” do que a construção de uma nova linha Aveiro-Vilar Formoso, preconizada pelo Governo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho, opção que veio a ser rejeitada pelo atual executivo, do socialista António Costa.

A requalificação da Linha da Beira Alta implica um investimento na ordem dos 690 milhões de euros, financiado em 85 por cento por fundos da União Europeia.