Uma vénia ao rei Maha Vajiralongkorn e muitas palmas: foi desta forma que terminou a conferência de imprensa onde os 13 rapazes que ficaram presos nas grutas de Tham Luang. Durante cerca de uma hora, os sobreviventes tiveram oportunidade de contar ao mundo como tudo tinha acontecido, do momento em que perceberam que estavam presos ao choque de descobrirem que um mergulhador tinha morrido.

Antes da conversa chegar ao fim, porém, os rapazes foram pedindo desculpa aos pais por terem mentido para conseguir sair de casa. Muitos disseram que iam jogar à bola, um assumiu que ia para uma gruta… mas não aquela onde realmente foram. Um momento caricato e enternecedor.

Uma das primeiras questões a ser levantada foi a de como tinham ido parar à gruta. Vestindo um uniforme igual ao dos seus companheiros, o treinador começou por explicar que este passeio era uma espécie de complemento ao jogo de futebol que já estava combinado. Tinham só uma hora e decidiram usá-la para explorar a gruta — nenhum deles a tinha visitado ainda.

O início do problema

Pouco tempo depois de terem entrado, o nível da água foi começando a subir, à medida que a chuva, “lá fora”, ia ficando mais intensa. A situação começou a ficar mais seria (“Estava muito assustado”, atirou um dos rapazes) quando se aperceberam que a água continuava a subir. Subiram para um ponto mais elevado e começaram a discutir aquilo que poderiam fazer: “Duvidámos se era melhor andar para a frente ou para trás mas acabamos por escolher a segunda opção. Mesmo assim, antes disso, decidimos esperar um bocado mais pela equipa de salvamento. Em menos de uma hora a água começou a subir muito rápido e não tivemos alternativa se não continuar a fugir”. O treinador diz que não estavam perdidos, simplesmente não conseguiam regressar por onde tinham entrado. Face à inclemência da água decidiram espera.

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Os dias foram passando e não havia sinal aparente de salvamento. Os jovens futebolistas explicaram que para se irem alimentando bebiam “a água que escorria das paredes”. “Não tínhamos comida nenhuma em em dois dias já tínhamos começado a sentir-nos fracos. Tentávamos não pensar em comida e íamos bebendo muita água, para nos sentirmos cheios.” Para se entreterem não havia muito que pudessem fazer — só tinham “uma lanterna forte”, “pouco mais”, e tinham de preservar os poucos nutrientes que iam conseguindo consumir.

A falta de desenvolvimentos foi começando a deixar marca. De vez em quando davam “curtos passeios” pela gruta, na esperança de encontrar uma possível saída. Mas nada: não havia forma aparente de saírem dali e foi por isso que decidiram agir. “Reunimo-nos e discutimos em conjunto aquilo que poderíamos fazer. Decidimos começar a tentar escavar um túnel nas paredes da gruta. Usávamos pedras e trabalhávamos em turnos, para não desperdiçar energia.” Felizmente, pouco depois de terem decidido avançar nesta iniciativa, ouviram qualquer coisa ao longe.

“Disseram ‘Hello’ e eu respondi ‘Hello’!”, explica um jovem. Finalmente tinham sido descobertos pelos mergulhadores de salvamento. “O mergulhador falava inglês, quase pensei que tínhamos andado tanto que já estávamos em Inglaterra!”, atira. A frase “Thirteen? Brilliant!” correu o mundo assim que os primeiros mergulhadores divulgaram as primeiras imagens dos rapazes, toda a gente recebeu-as com alegria, mas a “felicidade enorme” dos 13 meninos era demasiado especial.

©LILLIAN SUWANRUMPHA/AFP/Getty Images

Foi decidido que um grupo de três Navy Seals e um médico ia ficar com os enclausurados até ficar definido um plano de salvamento. “Inicialmente pensou-se em fazer um buraco por cima, mas era demasiado arriscado — a única opção era mesmo mergulhar”.

A relação que eles foram criando com os mergulhadores e o médico — “Eles faziam me lembrar o meu pai, tratavam-me muito bem”, diz uma criança — tornou-se muito próxima. “Quando fui resgatado, estava só de cuecas embrulhado na manta térmica. Não consegui não lhes dar tudo o que tinha”, explica o Navy Seal que foi batizado pelos rapazes como o Rei da Gruta.

Tudo parecia controlado quando, de repente, a desgraça voltou a bater à porta. Aquilo que parecia “um verdadeiro milagre” que se estava a realizar volta a ganhar contornos de tragédia quando um dos mergulhadores, Saman Kunan, morre. Dado o estado de frgilidade dos rapazes, foi decidido que a notícia só lhes seria passada quando já tivessem salvos e fortes. Dias depois de terem dado entrada no hospital, já em segurança e minimamente recuperados, os 13 futebolistas souberam do sucedido: “Ficámos em choque quando soubemos, não queríamos a acreditar”, explicou o treinador. “Deram-nos um desenho o Navy Seal e decidimos escrever aí as nossas mensagens de agradecimentos. Prometemos portar-nos bem no futuro, também”, disse um dos rapazes mais novos.

O que reserva o futuro?

A dado momento, durante a conferência de imprensa, Kunan foi recordado pelos rapazes, disseram que nunca o vão esquecer  e que esperam que ele “esteja num sitio melhor”. “Queríamos muito que ele soubesse que lhe agradecemos do fundo do coração”, clamou um dos meninos.

©LILLIAN SUWANRUMPHA/AFP/Getty Images

“E que planos têm para o futuro?”, perguntou o anfitrião da conferência de imprensa já quase no fim da conversa. Um a um, os rapazes foram dizendo aquilo que queriam ser quando “fossem grandes” — quase todos mantiveram o sonho de serem jogadores de futebol profissionais (“Quero muito jogar pela nossa seleção nacional!”, disse um deles), mas alguns ficaram inspirados pelo que aconteceu no último mês. “Depois de ver a forma como fomos tratados decidi que quero ser Navy Seal, também.” Ao ouvir esta declaração, um dos mergulhadores que também esteve presente em palco, ao lado dos meninos, não conseguiu não esboçar um rasgado sorriso.

Entretanto, noutro contexto, o treinador dos rapazes já tinha dado algumas luzes sobre o que os “javalis” poderiam fazer no futuro, tendo afirmado que os rapazes já tinha expressado a sua vontade em serem monges. Pode parecer fora do vulgar ouvir um adolescente tomar esta decisão, mas o grupo de rapazes justifica-se afirmando que é uma forma de homenagearem o mergulhador Saman Kunan. (recorde que uma decisão destas, no seio do budismo, não tem o carácter definitivo que existe, por exemplo, no cristianismo. Pode-se ser monge durnte uns dias, meses, ou anos).

As 12 crianças tailandesas e o treinador de futebol que ficaram bloqueados numa gruta inundada na Tailândia estiverm internados desde a semana passada mas abandonaram hoje o hospital. Horas depois concederam a primeira conferência de imprensa.

https://observador.pt/videos/atualidade/os-voluntarios-da-gruta-o-observador-na-tailandia/

“Trata-se de deixar os meios de comunicação social colocarem questões e depois deixá-los regressar à vida normal sem que estejam constantemente a ser alvo da atenção dos media”, disse à France Presse o porta-voz do governo tailandês, Sunsern Kawkumnerd.

O grupo que foi resgatado passou uma semana no hospital de Chiang Rai, norte da Tailândia, depois de ter permanecido duas semanas na gruta inundada.

Os psiquiatras que acompanham as crianças e o treinador pediram para ter acesso às perguntas dos jornalistas para afastarem aspetos que podem ser traumáticos para os elementos do grupo.

“Desatámos a gritar de alegria”. Um dos mergulhadores da Tailândia fala ao Observador

De acordo com os especialistas, recordar o sofrimento a que estiveram sujeitos pode ser prejudicial para as crianças.

Por outro lado, o general Prayut Chan-O-Cha, chefe da Junta Militar no poder na Tailândia após o golpe de Estado de 2014 avisou os jornalistas sobre a “tentação de colocarem perguntas sem importância”.

Os familiares das crianças também estiveram presentes.

A organização desta conferência de imprensa explicou também que foram recebidas mais de 100 perguntas enviadas por jornalistas de todo o mundo.