Antes de criarem uma marca de roupa totalmente portuguesa, Maria e Susana certificaram-se de que a expressão fazia parte do dicionário urbano, do léxico partilhado por amigos e amigos de amigos, do linguajar corriqueiro. E das duas uma: ou “desculpa babe” é o tal pedido de desculpas menos sentido da história, ou assume requintes de bitchness e passa ser aquele statement cínico que, mais do que um ato único, é o espelho de uma estado de alma, de uma atitude perante a vida — sorry, not sorry, já ouviu falar?

Penda para que lado pender, as duas amigas reconheceram na expressão um elevado potencial de viralidade. E tudo começou com uma terceira amiga, tão longe de imaginar que estava a dar origem a uma ideia de negócio que Maria e Susana nem sequer puseram a hipótese de lhe dar umas royalties simbólicas (caso para dizer “desculpa babe”). “Ela estava a ficar em casa da Maria e mandou-lhe uma mensagem a desculpar-se por ter saído e deixado a janela aberta. A mensagem acabava com “desculpa babe, mas tá vento”. Maria aproveitou a deixa e mandou fazer a primeira t-shirt. Usou-a orgulhosamente com a inscrição completa. A expressão fez sucesso logo na primeira noite.

Para já, o slogan “desculpa babe” aparece em t-shirts, tote bags e isqueiros. Na próxima estação, haverá novas peças © Divulgação

E se fizessem alguns exemplares para os amigos? Dito e feito. A primeira edição de t-shirts, com o slogan condensado num simples “desculpa babe”, voou. Estava na altura de criar uma marca a sério e, apesar de Maria estar mais reticente em relação à ideia, Susana, seis anos mais velha e uma verdadeira faz-tudo (já estudou psicologia clínica, cinema, fotografia, produção e programação e, atualmente, trabalha num bar do Bairro Alto), convenceu-a a embarcar. Não houve tubarões, só namoradas e amigos talentosos. A amiga que tinha deixado a janela aberta acabou a fazer o copy da marca, outros dois amigos chegaram-se à frente para protagonizar a primeira campanha.

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Na última semana de julho, a marca estava online e as t-shirts, tote bags e isqueiros a sair via carrinho de compras. A Desculpa babe está só a apalpar terreno. Para já, o catálogo é isto: uma t-shirt em algodão orgânico, em preto e em branco (27€), um tote bag (10€) e um isqueiro (1,50€), este último porque anda sempre de mão em mão e se a Balenciaga (que é a Balenciaga) já fez e não lhe caíram os parentes na lama (pelo contrário), não se perde nada em tentar.

“Somos impulsivas. Se não fossemos, isto nunca tinha arrancado”, admite Susana. A dupla de criativas é também improvável. Tinham amigos em comum, mas nunca seriam a primeira opção uma da outra na hora de começar uma marca de roupa. As peças são e continuarão a ser unissexo, garantem, esperam apenas por uma oportunidade de tornar a marca mais sustentável. “Quisemos, desde o início, produzir em Portugal e só com materiais portugueses, mesmo que seja mais caro”, explica Susana. Para trás ficam, por enquanto, outras ideias, como a de produzir peças em fibra de bambu, por exemplo.

Maria e Susana, duas amigas que, de uma mensagem banal, fizeram uma marca de roupa © Divulgação

Tal como o presente, o futuro parece ser feito de edições limitadas. Enquanto bordam t-shirts, Maria e Susana já sonham com chapéus, sweatshirts e com estampados. O “desculpa babe” parece ser só a linha de partida, a meta será o momento em que cada cliente poderá escrever na sua t-shirt (ou noutra peça) o que bem lhe apetecer, mas sempre com a famosa desculpa esfarrapada pelo meio. Para isso, nada melhor do que arranjar uma bordadeira, ou um bordadeiro, a tempo inteiro. Adivinham-se frases mirabolantes, legitimadas por pedidos de desculpa, mas tudo da boca para fora. Para desculpas sinceras, o melhor é procurar outra marca.

Nome: Desculpa babe
Data: 2018
Pontos de venda: loja online
Preços: 1,50€ a 27€

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